12 - Azarada

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Rocky chutava as latinhas de cerveja que estavam no local e xingava Stella a plenos pulmões. Eu apenas bebia e observava a cena de longe, sentada na cadeira de plástico.

A palavra vadia tinha sido dita por ele pelo menos umas trinta vezes em dois minutos, e outros adjetivos bastante amistosos como puta destruidora de corações ou vagabunda de primeira eram ditos com bastante frequência também.

Olhei para Russell, que estava sentado ao meu lado, bebendo também. Como amigos, nós tínhamos que aguentar aquilo.

"Foi muito ruim?" Perguntei para Russell, que tinha presenciado o término.

"Foi. Ela estava o traindo com o melhor amigo, Jay. Foi difícil, sabe?" Ele coçou o queixo, antes sua barba cobria aquela região. Russell tinha ficado mais atraente sem a barba. "Ele ficou maluco, começou a gritar com ela e com ele, até mesmo socou Jay. Então disse que não queria mais vê-la, e ligou para você."

"Puta destruidora de corações!" Rocky gritou, chutando uma latinha de cerveja, que bateu na parede.
Russell soltou um suspiro cansado.

"Já chega, ele precisa de uma cerveja." Russell falou, ficando de pé e caminhando até onde Rocky estava.

"Boa sorte." Falei para Russell e dei um gole na minha cerveja.

"Ei, Rocky." Russell chamou. "Você precisa se acalmar agora."

"Vai se foder também, Russell!" Rocky xingou.

Russell suspirou e sussurrou alguma coisa, então ele acertou um soco na cara de Rocky, que ficou cego de raiva. Ele tentou acertar socos em Russell, mas ainda estava muito machucado para acertar e lutar bem. Então Russell desviou dos golpes e segurou seu braço, virando o mesmo.

"Pare de agir como um garotinho mimado." Russell falou, com autoridade, e puxou Rocky até a cadeira ao meu lado, jogando-o na mesma.

Rocky resmungou um "ai", e esfregou o braço dolorido. Peguei uma cerveja e entreguei para ele.

"Bebe." Falei.

Ele obedeceu e deu um longo gole na cerveja, passando as mãos pelos cabelos. Russell sentou na outra cadeira ao meu lado, bebendo sua cerveja tranquilamente, como se nada tivesse acontecido.

"Queime no inferno, vadia!" Rocky gritou.

"Ei, ei. Eu sei que sou uma." Brinquei. "Mas não precisa de tanto."

Russell gargalhou, enquanto Rocky apenas mostrou o esboço de um sorriso.

"Ela me traiu, Abby." Ele começou. "Há meses. Enquanto eu estava comprando presentes para ela ou pensando que ela é a melhor namorada de todas e que eu deveria melhorar e ser tão bom para ela quanto ela era para mim, ela estava dormindo com o Jay. E tudo bem debaixo do meu nariz." Ele riu sem humor. "Eu sou um idiota."

"Não pense assim, Rocky. Aquela vadia que não tinha caráter, ela e o tal do Jay. A culpa é deles, ele está perdendo o melhor amigo e ela um bom namorado. Os dois se merecem." Falei.

"É a fase em que ele precisa se xingar, agora que já xingou ela." Russell falou.

"Ah, certo." Falei. "Olhe para sua tatuagem no pulso e complete com a primeira coisa que vier na sua mente." Falei para Rocky.

Ele olhou para a tatuagem no pulso, a mesma que a minha, e eu fiz o mesmo.

"Eu sou um tremendo idiota." Falou.

"Isso. Agora é minha vez." Falei. "Eu sou uma vadia."

"Eu sou um imbecil."

"Eu sou uma pessoa de merda."

"Eu sou um filho da puta facilmente enganado."

"Eu sou uma irmã terrível."

"Eu sou um monte de merda."

"Eu sou a pessoa mais detestável da Terra."

"Eu sou um patético."

"Eu sou patética."

"Vocês dois são patéticos." Russell falou, nos interrompendo e atraindo nossa atenção. "O quê? Vocês são mesmo."

Ele deu de ombros e continuou a beber sua cerveja. Rocky segurou minha mão e entrelaçou nossos dedos, como fez da primeira vez em que fomos ao labirinto.
Ele ficou brincando com nosso dedos e olhando para os mesmos, parecia um pouco mais calmo, mas estava claramente magoado.

"Eu estava pensando em chamá-la para morar comigo." Ele contou. "Achei que talvez voltássemos a nos entender se eu fizesse isso."

"Ah, Rocky. Não é culpa sua." Falei, com a voz doce, acariciando sua bochecha esquerda, já que a direita estava machucada. "Você era um bom namorado, Stella que é uma vadia."

"Isso é verdade." Russell concordou.

"Ah, que seja." Ele falou, dando de ombros, suspirando pesadamente. "Eu  preciso seguir com a minha vida, preciso encontrar uma garota legal, ter um relacionamento de verdade, terminar a faculdade... quero dizer, eu já estou ficando velho."

Me afastei dele, soltando nossas mãos.

"É esse o pensamento." Falei, forçando um sorriso.

Pude perceber que Russell nos encarava com o canto dos olhos.

"Beija ele." Russell falou.

"Hã?!" Falei, assustada.

"Ele precisa disso. Não vai significar nada." Russell falou, revirando os olhos.

"Eu não vou beijá-lo." Falei, rindo.

"Por que não?" Rocky perguntou. "O que tem de errado em me beijar?"

"Você acabou de terminar com a sua namorada, eu não posso te beijar nessa situação, e além do mais, você é meu amigo." Expliquei, cruzando os braços.

"É, faz sentido." Ele disse, dando de ombros.

Olhei para Russell, que formou com os lábios: "Perdeu a oportunidade."

Revirei os olhos e continuei olhando para a frente, vendo aquelas latinhas de cerveja espalhadas pelo chão, bebendo a minha própria cerveja.

Eu jamais entenderia Rocky, porque eu jamais entenderia o amor, e aquilo me deixava frustrada, mas não tão frustrada quanto o fato de o querer tanto e de não poder tê-lo. Suspirei, frustrada e pensei que talvez aquela fosse a minha vez de chutar latinhas e de xingar.

Então fiquei de pé e comecei a chutar as latinhas, enquanto Russell e Rocky me observavam. Chuteira latinhas até ficar ofegante e me abaixar, tentando recuperar o fôlego, foi quando vi os dois olhando para meu decote e batendo uma garrafa de cerveja na outra.

Revirei os olhos e olhei para o céu, o sol estava se pondo, logo seria noite.
Suspirei pesadamente e tentei entender o motivo de todas aquelas coisas acontecerem apenas comigo.

Eu era muito azarada.

Rocky (Série Bad Guys)Onde histórias criam vida. Descubra agora