26 - Amor

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Ele era um ridículo. Eu estava brava com ele por agir de forma tão infantil.
Eu o xingava enquanto fumava um cigarro em meu quarto, a janela estava aberta, Alicia estava em casa reclamando do cheiro cigarro a cada cinco minutos, mas eu mostrava meu dedo do meio para ela toda vez.

"Imaturo filho da puta." Xinguei.

Eu estava  apoiada no parapeito da minha janela, vendo toda a movimentação da rua lá embaixo, os carros passando, o sinal ficando vermelho, os pedestres atravessando a rua... eu gostava de observar as pessoas, principalmente quando estava irritada.

Gostava de imaginar o que elas faziam, sentiam, para onde estavam indo, de onde estavam vindo, e coisas do tipo.

Bati as cinzas do meu cigarro na janela, e levantei meu olhar para a janela do prédio ao lado. Alicia costumava ir para o meu quarto espiar o guitarrista que ela considerava um gato, mas quando ele se mudou e uma senhora chamada Betsy passou a morar no apartamento, ela disse que a janela era toda minha.

Ajeitei minha calça larga de flanela é minha regata salmão, eram roupas confortáveis que geralmente eu usava para dormir, ou para fumar e ficar a toa em casa.

Eu ouvi o interfone tocar, mas não me dei ao trabalho de ir até lá atendê-lo, Alicia estava na sala, ela faria isso. Suspirei pesadamente e continuei a observar os carros na rua, vi um carro vermelho passar com pressa pela rua, e me perguntei o que estaria acontecendo.

Algum tempo de atender o interfone, pude ouvir Alicia abrir a porta e rir, dizendo para quem quer que fosse, que eu estava no meu quarto.

Não era preciso ser um gênio para saber que Rocky estava no meu apartamento, eu já sabia porque: 1) apenas ele apareceria no meu apartamento às onze da noite, 2) Alicia só usava aquele tom de voz com ele e 3) ele seria o único que perguntaria onde eu estava.

Ele mal tinha aberto a porta e eu comecei com a minha sessão de xingamentos.

"Imaturo filho da puta." Xinguei. "Criança mimada que ataca com purê de batata quando se sente ameaçada."

Ele riu da última, e eu fiz o possível para segurar um sorriso. Eu estava brava.

"Babaca." Ele complementou.

"Babaca do caralho." Falei.

"Agora eu vou xingar você." Ele avisou. "Filha da puta que não liga para os sentimentos alheios. Sem coração. Vadia que dorme comigo e sai com outro cara."

"Eu não ia sair com ele, não do jeito que você acha!" Protestei, completamente irritada.

"Foda-se! Para você poderia até não ser um encontro, mas para ele seria, ele gosta de você, Abby." Falou.

Talvez Rocky tivesse razão, talvez para mim não passasse de uma saída comum com um amigo, para Jason seria como um encontro. De qualquer forma, nada justificava o pequeno showzinho de Rocky.

"Pode até ser, mas nada justifica a sua atitude, Rocky." Falei, um pouco mais calma. "Você não poderia ter simplesmente me dito isso? Eu cancelaria ou deixaria claro para Jason que não era um encontro. Mas não, você jogou purê de batata nele!"

Rocky riu.

"É, eu gostei muito de jogar comida nele. Eu gostaria mais de bater nele, mas jogar comida serviu." Falou.

"Rocky!"

"Tá, desculpa. Eu fui um babaca imaturo, eu deveria ter falado para você. Você está certa Abby."

"Tá." Falei, tragando o cigarro.

Se eu conhecia Rocky, aquele era o momento em que ele tentava se aproximar, segurando minha mão, me dando um abraço, qualquer coisa do tipo, para ter certeza de que estava tudo resolvido.

Mas dessa vez eu me aproximei.

Me aproximei dele e deitei minha cabeça em seu ombro.

"Não precisa se sentir ameaçado por qualquer cara que chegue perto de mim." Falei.

"É meio impossível, quero dizer, você não é minha namorada." Ele disse.

Ah. Era verdade. Então era aquilo que o incomodava? Mas nós não poderíamos simplesmente começar um relacionamento, certo?

Aquilo era tão complicado...

"Rocky, eu gosto de você." Me declarei. "Então eu não vou ficar com nenhum outro cara, certo?"

"Certo." Ele falou, passando os braços ao redor de mim.

Apaguei o cigarro e me virei para ele, que acariciou minha bochecha antes de capturar meus lábios em um beijo necessitado.

Eu retribuí o gesto com a mesma intensidade, separando o beijo apenas para recuperar o fôlego.

"Somos bons nisso, não somos?" Ele perguntou, sorrindo.

"É, acho que sim." Respondi.

Rocky tirou a camiseta branca, e eu passei os olhos por seu tronco tatuado rapidamente antes de beijá-lo novamente.

Novamente a brasa e o carvão queimaram em conjunto, incendiando todo o quarto, todo o apartamento.

Rocky era a brasa, eu era o carvão, e éramos uma combinação tão perfeita, que ninguém era capaz de explicar. Nossas mãos eram feitas sob medida, nossos lábios se encaixam de uma forma única e perfeita, nossos corpos eram magnéticos, até mesmo nossas respirações e nossas peles entravam em harmonia, sincronia.

Minha regata salmão foi tirada rapidamente, assim como minha calça de flanela e o jeans de Rocky. Eu segurei seus ombros, olhando dentro de seus olhos castanhos turvos, então me inclinei e beijei seus lábios devagar, de forma doce e calma.

Então me afastei e passei as pontas dos dedos por sua cicatriz, eu amava muito aquela cicatriz, ela era a marca que tinha salvado a vida de Rocky, ela mostrava que Rocky estava vivo, e como eu era grata por aquilo.

Eu desci meus lábios por seu pescoço, então me afastei e deixei um beijo demorado em sua cicatriz, fazendo-o sorrir e me abraçar forte.

Naquela noite nós não apenas dormimos juntos ou deixamos o desejo nos levar às alturas, naquela noite não apenas sentimos prazer.

Naquela noite nós demos amor. Nós fizemos amor, porque eu sentia que era exatamente aquilo que queimava em nossos interiores: amor.

Logo eu, a garota que dizia que amor romântico não era necessário, que não acreditava em amor à primeira vista, a garota que não acreditava que um amor pudesse ser tão verdadeiro estava lá, com Rocky.

Rocky era o amor, Rocky era uma brasa, Rocky era tudo que eu mais amava naquele momento. Ele era intenso, ele era único.

E eu era muito sortuda por tê-lo.

Quando nossos corpos estavam cobertos por uma camada fina de suor e nossas respirações estavam ofegantes, eu deitei minha cabeça em seu peito, e ele me deu um beijo no topo da cabeça.

Não estávamos ali simplesmente porque tínhamos desejo um pelo outro, estávamos ali porque tínhamos amor um pelo outro.

"Eu estou apaixonada por você." Me declarei. "Puta merda, eu estou apaixonada por você há um tempão!"

"Caralho Abby, então eu não sou o único que está fodido aqui, sou?" Ele perguntou, se virando e me encarando.

Eu ri e neguei com um gesto de cabeça.

"Estamos bem ferrados, não estamos?"

"Estamos bastante ferrados."

"Eu também estou apaixonado por você há um tempão." Ele contou, acariciando minha bochecha.

Eu selei seus lábios novamente, porque eu finalmente estava recebendo amor.

Rocky (Série Bad Guys)Onde histórias criam vida. Descubra agora