2. No Harém

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Mesmo profundamente no seu sono, Lazima podia ouvir os sussurros e murmúrios por toda a noite. Não se sentia segura ali. Não conhecia ninguém. Não conhecia os seus costumes. O que planeavam para ela? Se não estivesse tão cansada, não se daria ao luxo de cair naquele sono que pesava no seu corpo e ela não conseguia mover um dedo. Os murmúrios ficaram mais frequentes a cada minuto que passava. O seu corpo ainda doía de exaustão, todavia ela tinha de encontrar uma forma de acordar daquele coma, não importa o quão bom estava ali. Forçou as suas pestanas abertas, e logo um raio de sol quase a cegou de tão intenso que estava. No fundo, conseguia ver a imagem nublada de alguém que a assistia dormir. Franziu a testa e tentava ter uma visão mais clara de quem estava na sua frente; contudo, mais rostos se fizeram a imagem na sua frente.

— Ela está a acordar. — Uma das moças comenta, e logo a mulher negra saltou de susto, com o seu coração a mil por hora. Olhou ao seu redor, um grupo de moças que a olhavam e murmuravam sobre ela.

Vestiam únicas cumpridas e bordadas com fios de ouro. As suas roupas eram coloridas, os seus cabelos de todas as formas e cores desciam pelos ombros, e vestiam chapéus redondos enfeitados com moedas de ouro. Um estilo muito diferente daquele que ela estava habituada da sua gente.

— Meninas! Penso que ela está assustada. — Uma das moças que se sentava na cama ao lado dela avisou as outras, e como se fosse piada deram risadas, escondendo os seus sorrisos por detrás dos seus punhos. Tinha os cabelos loiros, escuros e os olhos grandes e azulados, um rosto redondo uma expressão doce, e inocente com aquelas sardas que assaltavam as suas bochechas.

— Nunca vi Eunuco mulher. — Uma moça parada a uma distância comentou.

— Claro que tem. Vi quando chegava. Ela não é eunuca. — A primeira argumentou.

— Hei. — Uma delas chama e estala os dedos na sua frente. — Você fala? — Lazima a deu um olhar frio, e a observou por um instante antes de virar o rosto.

— Ela não entende. — Uma delas comentou o óbvio. — Ninguém falava a língua quando chegou aqui. —

— Que espécie de concentração é essa aqui? — Lazima reconheceu a voz de Gulsum Kalfa, e parecia que as moças também reconheceram, pois, se puseram em movimento logo que ouviram. — Hoje não tem aula de adisse? Alcorão? Filosofia e historia, ou estou enganada? — A senhora perguntou, enquanto as moças quase a derrubavam ao tentar atravessar a porta duma vez. — Não é de bom-tom deixar a professora a espera. E Valide Sultana não ficará satisfeita em saber disso. —

Ser uma candidata a Goezde, as favoritas, ou Ikbal (A sortuda), exigia muito mais da aparência, tinha de ser inteligente, diligente e ter os melhores hábitos de etiqueta.

Buyur (perdão), Gulsum Kalfa. — Uma delas disse apressada quando se retirava do quarto.

— Única palavra que sabem em turco. — Gulsum Kalfa murmurou. Era normal; aquelas moças sabiam se entreter com coisas fúteis mesmo sabendo que têm uma agenda a cumprir até o fim do dia.

As mulheres de um harém, naquilo que era a realidade tinham quase que nenhum dever sexual para com o Sultão. Requeria-se delas que aprendessem a religião, a literatura, política e tinham de ser fluentes em várias línguas, pois a filosofia era "Educa um homem, e estas a educar um individuo. Educa uma mulher, e estas a educar uma nação." Se não fossem escolhidas para ser as favoritas do sultão, seriam casadas com os mais altos nomes da corte, ou para desempenhar vários outros ofícios no palácio; como o de professoras, costureiras, médicas, enfermeira, etc.

A moça de cabelos loiros voltou a entrar no quarto apressada, levou o seu chapéu e colocou na cabeça. — As pernas vão para onde o cérebro está. — Gulsum Kalfa murmurou para a moça que se desculpou novamente.

A Rainha do Harém [Desgustação]Onde histórias criam vida. Descubra agora