Capítulo 30

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Volto com minha mãe não para casa dos meus avós, mas para nossa.

Ao entrar no meu novo quarto e travo na porta com o coação acelerado ao ver a silhueta alta.

Andy está com as mãos no bolso, de pé olhando a janela, para o céu escuro do lado de fora. O vejo respirar devagar, me olhar firme e acho eu ele vai me atacar, espero por isso, por sua raiva. Mas ela não vem.

Ele respira aliviado ao me analisar de cima a baixo e anda até mim firmemente, ainda estou receoso esperando xingamentos, gritos e socos, mas Andy apenas me abraça forte.

- eu estava imaginando se teria que ir atrás de você. – disse em meu ouvido depois que leve um momento a mais para retribuir o gesto de forma confusa. – evitar que você faça mais besteiras.

Não consegui responder nada, minha garganta estava fechada e meus olhos arderam enquanto me aconchegava nele, sentindo seu cheiro doce e cítrico, como doce de limão.

Mal percebi que comecei a soluçar até que Andy me aperta mais contra si e passa a mão por meu cabelo, me confortando.

- tudo bem Jemy... shh... tudo bem. – diz em murmúrios que me fazem querer me fundir a ele, sentir a calma que ele transmite.

- não, não está. – rebato quase sem voz. – porque estão todos tão calmos?

Ele se afasta para me olhar, mas não me solta.

- ninguém está calmo, mas... – ele engole ao encarar meu rosto molhado. – ninguém está te culpando.

- ninguém? – soei quase irônico.

Ele me da um sorriso fraco.

- não eu, ou seus pais, pelo menos.

- sinto muito. – é só o que consigo dizer.

Nossos lábios se contraem e ele assente fechando a porta e depois me puxando para sentar na cama ao seu lado, sua mão jamais deixando as minhas.

- eu sei. – diz levemente me fazendo encara-lo.

Os olhos verdes grandes estão me estudando, procurando uma falha, algo de errado mais do que o evidente. Percebo como Andy me conhece, percebo seu medo. Ele sabe que algo assim me desmoronaria, mas do que matar aquelas pessoas, mais do que qualquer outra coisa.

- estou inteiro. – digo a ele que aperta o lábio novamente. – fisicamente.

- Jemy...

- Eu sei. – suspiro. – só quero que saiba que não estou pedindo nada a você, entendeu?

Ele entendia, sabia que sim. Seus olhos tremeram, sua respiração falhou levemente quando respirou fundo.

- sim. – foi só o que disse.

- não está nervoso? – foi minha vez de estuda-lo.

Seus cabelos cor de cobre escuro estavam bagunçados como se ele tivesse passado a mão por eles varias vezes e depois tentado arrumar, as roupas amassadas e os sapatos sujos de lama.

- você foi atrás de mim? – perguntei com um medo crescente de que ele possa ter sentido ou presenciado aquilo, por mais que eu soubesse que era mais rápido que ele.

- sim e sim. – responde sincero. – como pode ver não fui muito longe, além de ser lento demais sabia que deveria te dar espaço. – continuei o olhando, esperando. – eu estou nervoso. – admite por fim. – na hora, quando entendi o que estava acontecendo senti como se eu mesmo pudesse desfazer Azazel em pedaços. Quando você saiu daquele jeito, fiquei sem saber se poderia continuar, ali ou com você, com tudo. Eu a olhei bem nos olhos amarelos e ela sorriu. Ela sorriu Jemy, como se tivesse sido uma vitória e isso me mostrou que não vou recuar, não vamos deixa-la ter o que quer, nos separar, vencer.

Símbolos de Sangue (Livro 2 da saga "Anjos da Terra")Onde histórias criam vida. Descubra agora