Ana carregava algumas pastas nas mãos no momento em que passou defronte Leo e Victor, que debatiam sobre qual tipo penal enquadrava-se o crime perpetrado por alguns homens que se encontravam presos preventivamente. O rebolado característico de provocação de Ana ficou evidente para os dois homens.
- Que fique entre a gente, Leo, mas essa sua estagiária é muito gostosa. - Victor comentou talvez inocentemente.
Leo não respondeu, odiou a forma como o colega analisava sua amante e sentiu ciúmes e uma imensa vontade de agredi-lo com um soco no rosto, mas controlou-se. Apenas abriu um meio sorriso e retomou o assunto, decidindo por uma denuncia por tentativa de homicídio ao invés de tentativa de latrocínio.
Leo foi intimado a passar o resto do dia comparecendo a pauta de audiências da tarde. A última, agendada para as cinco da tarde, estendeu-se mais do que ele acreditava que poderia, e por isso comunicou sua amante que naquela tarde não poderiam dar a rapidinha da segunda e que ele a compensaria no dia seguinte com um lindo presente.
Leonardo ficava feliz quando notava a expressão de Ana a cada novo presente caro que ele lhe dava, e ela merecia - ele acreditava.
Passava das oito da noite quando a audiência de instrução das cinco encerrou. Leo iria direto para casa, mas lembrou-se de pegar uma pasta que Jorge separara mais cedo para que ele despachasse, era um caso urgente.
No caminho a sua sala, Leo notou que as coisas de Ana ainda estavam em sua mesa e sorriu pensando que ela poderia estar aguardando-o com uma surpresa. Ele rapidamente livrou-se do cansaço e estava pronto para uma transa com a sua estagiária.
Mas sua alegria se foi tão logo chegou, ao ver que sua sala estava escura e vazia. Ana não estava ali, o que era absolutamente estranho, visto que suas coisas encontravam-se na mesa dela.
Leonardo preocupou-se e foi até a mesa da estagiária que havia deixado o celular caríssimo (presente dele) em cima da mesa. Ele desbloqueou a tela e odiou o que leu no visor. Uma mensagem do Dr. Victor que tinha escrito: "Estou sozinho aqui, pode vir agora, gostosa!".
Leo sentiu o ódio pulsar em suas veias. Passou a tremer de muito nervoso que ficou e com o celular de Ana em mãos foi ao seu gabinete, precisava pensar no que faria.
"Filha da puta! Vadia do caralho! Desgraçada. Mente pra mim quando fala que me ama, e dá pro primeiro filho da puta que aparece. Eu me vingo de você, Ana. Eu me vingo".
Leonardo xingava Ana em pensamento enquanto caminhava de um lado a outro de sua sala. Pensou muito antes de decidir-se, por fim, a ir para casa e refletir todo o ódio que sentia. Antes devolveu o celular de Ana no lugar que estava e passou discretamente pelo gabinete do colega.
E lá estava ela, no ápice de sua beleza que era quando entregava-se ao sexo. Ela gostava do que estava fazendo, ele podia ver isso, pois conhecia cada expressão de prazer que aquele corpo emanava. "Filha da puta!"
E Victor? Um substituto babaca, um idiota que agora tinha o seu bem mais precioso nos braços que ele não permitiu usar. Ana era estagiária de Leonardo, Victor sequer poderia olha-la com outros olhos. Mas ele se vingaria, dos dois!
*
A manhã seguinte fora incomum. Leonardo apareceu logo cedo, causando certa estranheza em todos os serventuários que já estavam acostumados a chegada do promotor após o meio dia.
Leo chamou Jorge e despacharam em diversos casos durante toda a manhã. Leonardo estava a todo o vapor e conseguiu colocar quase todo o trabalho atrasado em ordem.
- Fazia tempo que não via essa mesa tão vazia, Dr. Leonardo. - Jorge começou, ainda estava receoso em começar a conversa.
- Me chame de Leo, Jorge. Nada mudou entre a gente. - o promotor corrigiu o outro. - Eu dei umas vaciladas aí, mas está tudo em paz.
- Fico feliz por isso, e se me permite ser sincero, você estava um pé no saco. - o homem ainda receoso falou, mas logo relaxou com a risada do colega.
- Eu imagino. - Leonardo serviu-se de um café e deu outro a Jorge. - Hoje é aquele júri, né?
- Porra, não se fala de outra coisa nesse fórum. - Jorge respondeu. - Vai ser condenação na certa, pedi até licença para assistir.
- Eu também vou. - Leo bebericou o café. - E vou levar a Ana junto.
Jorge achou Leonardo diferente, mas pelo menos aquele que estava em sua frente se parecia um pouco mais com o Leo de meses antes da estagiária bonitona (era como todos a tratavam).
Já era quase uma da tarde no instante em que Leo voltou do almoço com a Dra. Carolina. Ele foi direto ao seu gabinete e sequer chamou a estagiária para entrar como sempre ocorria nos dias anteriores. Dessa vez chamou o Pedro, um estagiário do ensino médio que ele tinha se comprometido a ensinar algumas coisas de direito penal. Leo não trabalharia aquela tarde, somente esperaria a hora chegar para ir ao júri com Ana.
Concentrado em sua fala com o adolescente que ouvia tudo o que ele falava atentamente, Leo foi interrompido por uma manifestação altiva no cartório, pedindo licença ao jovem para ver o que acontecia.
- Eu não vou fazer essa porcaria de digitalização não, Jorge. Essa é a responsabilidade do Pedro! Que eu saiba aqui a minha função é aprender a peticionar e entender como um jurista e não a copiar arquivos para um computador. Se tá com dúvidas, pergunta pro Leo. - Ana falou após desprezar uma pasta em cima da mesa de Jorge.
- Você tem que fazer, Ana. Aqui o trabalho é de todos, até o Dr. Leonardo faz digitalização. - ele deu ênfase no título e no nome do promotor.
- Eu não vou fazer. - Ana encarou Jorge que parecia irritado.
Leonardo, que ouviu o final da pequena discussão foi na direção de ambos que envergonharam-se do pequeno escândalo dado ali. Sem dizer uma palavra e com o silencio instalado na sala, Leonardo pegou a pasta na mesa de Jorge e foi até a impressora, digitalizando um a um dos arquivos.
Todos observaram calados a cena desenhada diante dos olhos de cada um. O promotor não esboçava qualquer expressão e ninguém saberia o que esperar de sua próxima atitude.
- Viu? Não levou dois minutos. - Leo dirigiu-se a Ana que ainda estava estática na frente de Jorge e entregou para ela a pasta. - Agora renomeie cada um dos arquivos e depois arrume-se, vamos assistir ao júri desta tarde.
Leo voltou para sua sala, mas antes de fechar a porta para continuar o que estava fazendo falou mais uma vez em direção da estagiária.
- E o Jorge tem razão, aqui o trabalho é de todos, independente do que seja.
Todos no cartório restaram perplexos. Era a primeira vez em meses que Leonardo dava razão aos seus serventuários. Já estavam até cansados da superproteção que a estagiária bonitona ostentava e, por ser tão querida pelo superior ela já se sentia inatingível. "Que bom que as coisas tinham voltado ao normal"
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Jealous
OverigSer um promotor de justiça, acusador dos delitos alheios, não o poupou ou não o fez diferente quando o amor o cegou, e como acostumou-se com frases feitas, o promotor guardava consigo a frase de Evan do Carmo que assim era descrita: "O amor está nas...