A sensação de despedida permaneceu em mim durante dias ,semanas ,meses. Todos os dias que dormia eu pensava que tudo era só um longo pesadelo e no outro dia iria acordar e ver minha irmã viva e cheia d alegria e saúde como sempre fora.
Mas no outro dia minha realidade era aquele pesadelo horrível. Meus olhos inchados me relembravam da dor com todos os detalhes .
Corajosa me levantava e lavava o rosto. Orava , pedia pelo dia , pela minha família e que nos confortasse. Eu não agradecia porque eu não podia ;não fazia sentido agradecer a Deus por ter levado a minha irmã.
Eu não tocava no assunto.
Como em algo que eu não queria tocar peguei minhas questões minhas mágoas , decepções ... Tudo, eu empacotei e guardei num cantinho escondido do meu coração numa caixinha preta sem laço nem etiqueta daquelas que você deixa no sótão da sua vida e não meche nunca mais na esperança dos ratos roer seu conteúdo ou que alguém numa faxina a jogasse fora. Tipo pra sempre. Lá também guardei meus sonhos , minha fé, minha alegria e minhas esperanças.
Na caixinha da dor.
E esqueci dela.
E de mim mesma.Eu não tinha tempo para sofrer e nem seria tão egoísta pra fazer isso.
Minha mãe numa depressão imensa não conseguia nem se alimentar. Sua casa era o reflexo de seu desânimo em tentar refazer sua vida sem um pedaço dela. Era triste demais e ela precisava de mim. Eu era a única filha agora. Então me desdobrava em dez pra manter minha casa e a dela, meu casamento fracassado, a criação do meu filho,meus deveres na sociedade e no meu trabalho e até na igreja com o que sobrou da minha vida espiritual.
Meu pai sofria demais. Ele sempre foi mais espontâneo em demonstrar afeição ou melhor dizendo era. A dor da perda o mudou muito . Mas ele fez oque eu já esperava. Se enfiou de cabeça no trabalho . Se ele já trabalhava por dois agora ele trabalhava por três .Não parava nem pra comer direito ;para não ficar pensando no que aconteceu. Só parava de trabalhar a noite para dormir exausto. Dormia cansado e acordava do mesmo jeito mas era a forma que ele encontrou pra ocupar a mente. Sempre estressado sem o cigarro agora; saia com o bolso cheio de balinha um sorriso falso nos lábios e uma tristeza imensa no olhar.
Meu irmão mais velho que já era meio duro agora estava muito pior. Ninguém merecia sua pena . A perda fez ele frio como gelo e o fez se afastar de todo mundo. Até mesmo da esposa.
Então como sempre eu tinha que cuidar da dor de todos, a minha podia ficar pra depois. Eles precisavam de mim e eu estaria lá para todos eles.
Como uma boa mártir eu não pensava em mim em nenhum momento. Seria egoísmo agir assim......era oq eu pensava.
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Como a Morte d'ela me mudou
Spiritualvinte e um de junho de 2011 "O celular toca, eu olho é minha mae: _Oi mãe eai como está tudo ai? ja viu a Yara? É hoje que ela vai sair da UTI ne? (eu ja falo demais no meu normal imagina nervosa?!) _... "silencio"? _mãe? a senhora ta chorando? e...