Como a Morte d'ela me mudou

Sozinha

   Minha casa era cheia sempre.
Eu tinha tantos amigos novos, chovia convites pra todas as reuniões e festas e mesmo quando eu não tinha dinheiro ou disposição pra sair iam me buscar na minha casa me pagavam tudo e eu me sentia especial e importante.
    Frequentemente lembrava da Yara. Queria que ela estivesse comigo naquela fase. Sempre me revoltava com Deus por tê-la levado de mim. E agora eu queria viver tudo que ela não pôde viver. Tudo que a vida tirou dela eu ia viver por ela. Ia ver os cantores que ela gostava ia as festas que ela não pôde ir eu ia dançar por ela e ser livre por ela...
Eu acreditava mesmo que ela estaria feliz ao me ver no mundo.

   Em um momento de loucura tatuei seu nome em minhas costas era uma homenagem eu dizia. Queria mostrar para o mundo inteiro como Deus e essa vida eram injustos ao levar minha única irmã tão cedo.

  Minha mãe ficou tão contrariada. Ela dizia que era errado:
_Filha você conhece a palavra de Deus tão bem, melhor que eu ;você sabe que é errado , que Deus não gosta dessas coisas...está escrito...Não faz isso minha filha. Sua irmã está melhor que nós. Porque está descansando com Deus. Ela foi salva. Deus fez uma obra linda na vida dela ..

Nossa como eu detestava ouvir isso.
"Será mãe?
Será mesmo? Ela não está melhor que nós! Ela só queria viver. E Deus fez algo por ela? Não!!! Ele só assistiu tudo lá de cima sem fazer nada."

  Eu não falava mas era o que o inimigo colocava em minha cabeça.
  Pra não machucar mais minha mãe eu me afastei dela do meu pai. Meu irmão pra mim era um estorvo.
   Eu só queria meus novos amigos ir pra festa chorar ouvindo as musicas que minha irmã gostava ,encher a cara e poder dormir e descansar sem sonhos para variar.
E aquela vontade enorme de não mais acordar...
Seria uma descanso. E como eu era descartável para Deus e só dava desgosto para minha família.
Seria ótimo não acordar nunca mais.

    Mas no outro dia o celular me despertava pra trabalhar de ressaca com a cabeça doendo vontade de vomitar e nada de morte pra mim .
Que droga ...

   Eu postava sorrisos falsos e uma felicidade que no fundo não existia. Pura ilusão. Gritava amor próprio mas me odiava, não me valorizava , precisava de elogios e do recalque alheio pra me amar... Isso não é si amar. Isso é amar à ninguém. Nem a si mesmo.
Eu vivia uma vida de glamour mas quando via a tristeza estampada na cara de todos que realmente me amavam eu me sentia um lixo..

    Estava sempre cercada de gente e ao mesmo tempo tão sozinha.