devaneios

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   E tinha aquele sonho horroroso que vez ou outra me fazia despertar com ânsia de vômito medo e suando frio...
Nesse sonho específico eu ia ao cemitério à noite ,sempre a noite e encontrava a sepultura da minha irmã que depois de planejar uma vida numa casinha do campo tinha ganhado uma lápide fria e pequena com azulejos brancos e um pequeno espaço para uma foto e flores que agora ela ganhava aos montes mas que em vida nunca recebera sequer um ramalhete de margaridas. Mais uma pra minha longa lista de injustiças.


Lá eu chorava passava a mão sobre o retrato dela como se ela pudesse sentir. E em completo desespero eu cavava a parte do túmulo onde fecharam com tijolos minha pobre irmã... minhas unhas quebravam e minavam sangue eu não sentia dor era um ato insano de libertar minha irmãzinha. E um por um eu tirava todos os tijolos e puxava o caixão para fora do túmulo. Eu tinha certeza que ela estaria viva e que o milagre que me foi prometido com certeza se cumprira e lá estaria a Yara enterrada viva. Eu quebrava as trancas do caixão e abria e lá estava ela morta fria e já se decompondo e eu caía ao seu lado, a puxava para meu colo e chorava desesperada... eu gritava de dor... Que dor.

   E quando eu acordava e enfim passava meu mal estar ficava só a raiva o desapontamento e a tristeza. A dor de esperar um milagre que nunca veio.
  
   Me lembrava quando eu era crente, não cheguei a ser fanática mas quase. Eu tinha uma fé cega de crer no impossível , viver da minha fé e testificar atos que não tinham explicação...

Meus milagres. Eu tinha tanto amor em Deus Eu vivia para Ele. Eu pregava seu amor e poder por todo lugar que eu ía. Eu fazia missões e profetizava em seu nome. Sua voz em meu coração era mais íntima e pessoal que a minha própria. Eu era crente como poucos que conhecia. Eu falava que isso ou aquilo ia acontecer em nome dele e acontecia porque eu tinha fé.


Mas tudo isso tinha acabado.
Minha fé estava morta e eu não cria mais nem em mim mesma; pensava que talvez toda essa intimidade espiritual tinha sido fruto da minha imaginação e que talvez a voz tão familiar em meu intimo fosse a minha própria consciência me pregando peças talvez. Tudo ilusão.


Aquela paz , aquele conforto que eu tinha nos braços de meu pai celestial eu perdi e sua voz depois de tanto eu fingir não ouvir... Parei mesmo de escutar.

Como a Morte d'ela me mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora