Como a Morte d'ela me mudou

cicatrizes

A primeira coisa que fiz já que não conseguia caminhar e com minhas feridas todas minando sangue a cada movimento que eu fazia Fiz a única coisa que eu podia fazer sem m machucar tanto. Pensar.

E eu pensei muito. Fui voltando devagar cada passo meu na minha mente pra tentar retornar quando tivesse forças pra caminhar. Refazendo todo percurso na minha mente voltei ate o ponto crucial ... A morte da Yara.

Sim, foi nesse momento que tudo tinha começado afinal de contas.
Então revirando o sótão da minha alma achei a bendita caixa da dor ; não, ninguém a jogou fora. Ela estava lá intacta com todas as minhas dúvidas e dores escondidas dentro.
Eu tinha que começar por algum lugar né? E eu sabia que isso ia me machucar muito mas era algo que eu tinha que fazer.

Abri a caixa a tanto tempo guardada e vrum...
Um atropelamento de sentimentos inquietantes e aquela dor horrível estava de volta ; o mesmo gosto amargo na boca e sensação de sufocamento desesperador como se fosse a data fosse muito recente. Como um vendaval me abalou toda por dentro. Mas eu não desanimei sentei ao lado da caixa e comecei a tirar de lá cada retrato, cada bilhete , cada recado , cada revelaçao, cada promessa...eu chorava muito porque doía muito ; tudo era uma bagunça e eu estava tão confusa...
Ainda não sabia o que fazer com tudo aquilo..

Ouvi um barulho vindo de algum lugar me assustei porque minha alma estava tão vazia a tanto tempo sem Deus que qualquer barrulho fazia um eco enorme. Mas eu não fiquei com medo.

Era só um faxineiro. Um senhor de cabelos brancos usando uma roupa simples de zelador.
Ele se aproximou de modo tão calmo que me trouxe paz e sorriu pra mim.
_Está tudo uma bagunça por aqui não é?
_Sim, está.

Por incrível que pareça nao quis perguntar seu nome ou que fazia ali. Eu estava tão sozinha que resolvi aproveitar a companhia. Talvez fosse um amigo.

Provavelmente a realidade era que eu estava delirando a beira da morte em alguma parte do meu deserto então pra que saber ne?.

_Quer ajuda?
Ele perguntou.
_Na verdade acho que não pode me ajudar. É uma caixa bem particular.

_ Eu sei. Guardei ela a um tempão. Faz muito tempo que dei uma faxina aqui e você ate pediu pra eu jogar fora mas eu sabia que um dia você ia precisar dela.

Ta eu fiquei curiosa. Mas não perguntei nada ; se fosse um anjo? Sei lá. Porque alguém ainda faria qualquer limpeza em meu interior se eu mesma não ligava a mínima?

Interrompendo meus pensamentos ele falou:

_mas eu coloquei alguns itens novos aí dentro. Algumas coisas que talvez você pudesse perder aí guardei elas aí . Estão lá no fundo. Quando você terminar de organizar tudo vai ver.
_Ta bem então acho que você pode sim me ajudar afinal . pelo visto conhece mais o conteúdo da caixa que eu mesma.

_ Isso é verdade.

Sem convite ele veio e sentou perto de mim.
Pegou umas fotografias minhas e da Yara fotografias que na verdade nem existem nessa realidade mas existem na minha mente ,tipo ela com meu filho Gu crescido ,outra comigo em sua festa de boas vindas e até uma de toda família reunida em seu casamento, fotos de sonhos ...coisas que nunca chegaram a acontecer e q  eu tinha jogado tudo la dentro da caixa.

Ele analisou a fotografia e sorriu pra mim.
_Você é mesmo uma artista não? que cores lindas que bom gosto. Escolhemos bem seus talentos.

Antes que eu pudesse questionar ele enfiou a mão num bolso e tirou de lá outras fotografias.

_Vamos trocar? Talvez voce goste mais dessas.

Eu peguei e olhei. E não pude acreditar.
Eram todas da Yara em algum lugar muito lindo numa Campina com muitas flores amarelas sua cor favorita , ela tinha os cabelos longos e com a cor natural, ela sorria, estava tão linda tão feliz. Nunca vi fotos tão belas que cores maravilhosas , que lugar perfeito ....que lugar?.que lugar era aquele? aquelas eram fotos recentes como se fossem tiradas a poucos dias.

Olhei outra e mais outra foto todas naquele lugar encantador , na última ela estava ...
...
...abraçada com o faxineiro ???

Olhei pra ele e para a foto , pra ele e pra foto...
Estava com pergunta na ponta da lingua.
mas Ele respondeu antes que eu a fizesse.

_Sim sou eu na fotografia. Mas essa não a pergunta certa.
Você deveria questionar quem sou eu; mas tudo bem Norma eu te conheço bem demais pra esperar que agisse de outra forma. Deixa eu facilitar pra você. Talvez você se lembre de mim já fomos amigos muito próximos .
Ele estendeu a mão pra mim como se fosse se apresentar mas não falou nada porque simplesmente era desnecessário.
Quando estendi a mão tive que parar o movimento no ar ...
A mão dele tinha um furo que a atravessava de um lado pra o outro. Na outra mão a mesma marca e tambem nos pés descalços... Nem se eu fosse um completo ateu iria confundir o meu suposto anjo que afinal nao era só um anjo era só o proprio Jesus Cristo em pessoa ali dando aquela faxina básica na minha alma e eu nem o reconheci.

Que situação.