Postura

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   Na prática meu primeiro passo no longo caminho de volta pra casa foi mudar minhas vestes.
   Descobri ficando quase nua que meu guarda roupas era uma causa perdida. Uma mistura de periguete com blogueirinha metida a miss juventude. Tudo muito curto escandaloso, colorido, chamativo e transparente. Só faltava andar com um preço na testa já que como num açougue eu estava com todas carnes a mostra.
Sinto vergonha dessa época.
Como se uma venda caísse de meus olhos comecei a enxergar muita coisa que eu não via. Tipo o quanto esse modo de me vestir causaram infinitas brigas e discussões com meu marido enciumado. Coitado, ele não gostava e tinha toda razão .
   Essa parte não foi difícil minha amiga Thamy me ajudou me dando outro guarda roupas. Agora com roupas discretas e comportadas. Minha mãe também e tia Mira minhas amadas mamães que com toda alegria do mundo via a filha rebelde ir embora dando lugar a filha elegante e recatada de outrora. Me ajudaram muito nessa parte.
   Não mudei meu Guarda roupas para agradar igreja A ou B ou pra agradar pessoas nem mesmo minha família ou marido. Eu mudei meu estilo de vida à começar pela minha aparência e se eu queria voltar pra casa nada daquela outra Norma me servia mais. Eu queria dar orgulho para meu pai Celestial. Não queria mais envergonhar ou desonrar quem fez tanto por mim.
Queria mostrar pra o mundo através das minhas roupas que seguindo os padrões bíblicos eu era uma mulher casada, mãe de dois filhos e serva de Deus ia me comportar com tal e devia me dar o respeito.
Já que antes nem eu mesma me respeitava.
   E assim eu fiz.
   Junto com minhas vestes , desfiz de todo acessório que causava escândalo ou chamava muito atenção, me maquiava de modo discreto sem deixar de ser bela para meu marido e para mim mesma. Mudei meu modo de falar e sem aquele bando de passarinhos barulhentos eu assumi uma postura mais sóbria e séria que eu deveria ter para dar um bom exemplo pra meus filhos.
   Deixei de ir a festas e eventos onde minha atual condição não permitia. Evitava pessoas fofoqueiras e pecuinhas.
Desfiz minhas redes sociais e fiz novas.
Eu queria uma vida nova e estava determinada a conseguir isso.
  Se eu disser que foi mamão com açúcar, facinho , uma moleza, seria uma mentira descarada.
   Meus companheiros me deixaram e isso me doeu de forma que continuou machucando por muito tempo. Ver tudo que eles faziam e tudo que acontecia e não mais participar me doía sim . não vou negar. Se sentir excluída dói.
   Mas eu me lembrava da profecia. Da minha sentença de morte e seguia em frente. Um dia essa dor e essa falta ia acabar e iria valer a pena
Eu imaginava o quanto seria maravilhoso voltar pra casa de papai e isso sim era gratificante. Então eu esquecia a parte triste do processo
Eu só erguia a cabeça e dava mais um passo, e mais um, e mais um... Cada "Não" era mais um passo ;cada oração que voltei a fazer era mais passo; cada dia em jejum era mais passo...

Como a Morte d'ela me mudouOnde histórias criam vida. Descubra agora