Capítulo 13

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Dizer "sim" é uma escolha. É confirmar uma pergunta de alguém, é aceitar aquilo que se foi instituído.

E eu me lembro de quando eu te disse "sim". Me lembro da pergunta que fez minha vida mudar para sempre, Laura.


O meu corpo já estava doendo e cansado de tanto trabalho que eu tive no hospital, voltei pra casa tão sonolenta que desviei a atenção várias vezes enquanto dirigia. Me joguei em meu sofá assim que cheguei, foi o móvel mais perto que eu encontrei e que eu podia me jogar. Charlie estava em casa, ele ficou apenas algumas horas sozinho e eu consegui finalmente confiar em alguma vizinha para olha-lo, ela era uma senhora muito amável e legal, era nova no bairro e no seu primeiro dia ela nos convidou para almoçar em sua casa. Suas filhas, por outro lado, não eram muito legais, uma delas trabalhava e ajudava a mãe, mas as outras tinham um semblante tão irritante e desnecessário que eu nem me dei a oportunidade de tentar conversar com elas. Charlie desceu as escadas correndo, provavelmente se assustou quando ouviu a porta bater e quis ver quem era.


- Oi, mãe! - Ele disse e se aproximou.

- Oi, querido. Como foi na escola hoje? - Perguntei e o coloquei sentado em meu colo.

- Legal... - Ele abaixou a cabeça.

- Tá tudo bem, Charlie?


Eu o conhecia bem o bastante para saber que tinha alguma coisa incomodando ele. Charlie era uma criança sincera, ele não tinha medo de falar nada, acredito que todas as crianças são, por pura inocência. Ele saiu do meu colo e abaixou-se no tapete para pegar um de seus carros, eu me sentei junto a ele e insisti em saber o que havia acontecido.


- Charlie... - Exclamei.

- Sim.

- Alguém da sua escola falou algo que você não gostou?

- Não... - Ele titubeou antes de falar.

- Alguém fez algo que você não gostou? - Me aproximei mais dele.

- Não, mamãe!

- Então você fez algo de errado na escola e agora está com medo de me contar? - Comecei a ficar preocupada.

- Mais ou menos... - Ele respondeu e fez cara de quem ia começar a chorar.

- Venha cá!


O peguei no colo ali mesmo e dei um abraço nele, alguma coisa o deixou magoado e eu queria muito saber o que era, mas Charlie parecia estar com medo de me dizer. Sorri e disse que tudo ficaria bem e que ele poderia me contar qualquer coisa que nós resolveríamos o problema, e depois de alguns minutos finalmente consegui convence-lo a me dizer a verdade. Fiquei chocada no inicio, mas de algum jeito eu teria que falar algo para mudar a situação.


- O Juan é o meu melhor amigo na escola, e ele é mais velho que eu... Mas hoje, ele me disse uma coisa e eu bati nele.

- Okay... E o quê foi que ele disse que te deixou bravo a ponto de bater nele? - Falei com calma.

- Ele estava chato hoje, e eu não quis emprestar um dos meus carros, e então ele me chamou de gay, mamãe!


Abri a boca voluntariamente, quase desesperada ao ouvir aquilo. Charlie não imaginava o porque aquele comentário o afetou tanto, talvez ele imaginava ser algo ruim e desagradável. Olhei pros lados e suspirei, voltei a olha-lo e ele disse:

Cartas que você jamais vai lerOnde histórias criam vida. Descubra agora