Cartas que você jamais vai ler

Capítulo 01

Sempre te escrevi coisas lindas porque era tudo que eu tinha.

A melhor coisa da minha vida foi ter você comigo.

Eu me lembro da primeira vez que nos vimos como se fosse ontem. Me lembro do lindo sorriso que você esboçou no rosto quando seus olhos encontraram os meus.

Tudo acontece quando a gente menos espera. Desde que tive minha primeira decepção amorosa eu passei muito tempo me distanciando de tudo que pudesse me prender, eu não queria me apegar a mais ninguém. A única pessoa com que eu me importava era com Charlie, meu filho, fruto de um relacionamento nada duradouro. Minha mãe sempre foi a melhor pessoa ao meu lado, fora meu pai e minha irmã que eu quase não me enturmava por falta de tempo.
Aquela manhã estava tudo calmo e tranquilo, nada que fosse durar muito tempo, afinal, as manhãs sempre são muito corridas para mim. Charlie brincava com seus carros antes de ir para a escola, faltavam alguns minutos livres ainda. Congelei quando ouvi a porta principal abrir e suspirei pesadamente ao ver quem era.

- Bom dia!

- Olá, Brad. – Respondi.

Brad era meu ex-namorado da adolescência. Foi com ele que tive minha primeira e desastrosa relação.

- Papai. – Exclamou Charlie, correndo para abraçar o Brad.

- Como é que está o meu garoto, hein?

- Aqui estão as coisas dele, andem logo ou vão se atrasar. Não demora pra trazer ele de volta, por favor.

- Taylor, eu sei cuidar do meu filho.

Revirei os olhos e ignorei totalmente aquilo. Eu não queria demonstrar raiva perto de Charlie, ele ainda acreditava que nós poderíamos ser uma família novamente. Dei um beijo no rosto do meu filho e acenei para ele quando o mesmo entrou no carro. Já estava sentindo muita saudades, eu odiava ter que ficar longe de Charlie por um dia inteirinho. Caminhei casa a dentro novamente e peguei minha bolsa, nela precisei guardar uma quantia grande em dinheiro, teria que depositá-lo hoje antes de ir trabalhar.
A coisa mais difícil pela manhã é encarar a cidade de Boston. O trânsito é totalmente inesperado, tem dias que ele está tranquilo, e dias que fica parado durante um milênio. Eu só queria chegar rapidamente no hospital, tinha muito trabalho pra fazer e aquele engarrafamento estava me atrasando mais do que o normal. Bati os dedos no volante repetidamente enquanto curtia uma música que tocava na rádio, o farol continuava fechado e eu já estava perdendo a paciência. Assim que a fileira de carros começou a se movimentar, eu ouvi um barulho estridente atrás do meu carro. Sim, naquele momento eu senti arrepios. Acelerei um pouco e olhei pelo retrovisor, um carro chocou-se com o poste amaçando todo o capô e deixando uma pessoa ferida. Ao ver aquilo meu coração apertou, eu tinha que ajudar. Sem pensar duas vezes, desci do carro após encosta-lo perto do meio-fio e caminhei em direção ao local de acidente. Vários outros carros estavam em volta e eu não os vi antes. Um deles era o carro da polícia e vários policiais saíram do mesmo pedindo para as pessoas se afastarem. Quando te vi, meu coração pareceu saltar pela boca. Você estava segurando uma arma e chegando perto do homem acidentado dizendo para o mesmo sair de dentro do carro. Te olhei por longos segundos até você sentir minha presença ali. Os outros policiais pegaram o homem e o levaram para longe enquanto você dizia para as pessoas se acalmarem que aquele homem era apenas um ladrão e que os policias estavam correndo atrás dele, por isso o mesmo perdeu o controle e bateu contra o poste. De repente aconteceu uma coisa que, na minha concepção, eu não imaginaria que fosse acontecer. Você se aproximou de mim, Laura. Seu jeito ligeiro de arrumar os óculos te deixava parecida com algum tipo de personagem de filme ou série, e fiquei paralisada apenas observando seu jeito de andar até mim. Não entendi no começo o porque eu fiquei absorta ao te olhar, mas era como se você tivesse um ar de paz misturado com seu jeito extremamente sexy de se comportar diante aquela situação, e aquilo me impressionou.

- Está tudo bem? – Você me perguntou.

- Bom…  – Gaguejei - Estou bem sim, obrigada.

Sorri educadamente e você sorriu de volta, e que sorriso lindo. Desde a primeira vez que te vi, você passou a morar em meus pensamentos com frequência.
Quando você avisou que a policia levaria o ladrão até o hospital antes da delegacia, sugeri que seria em um hospital mais próximo, ou seja, no qual eu trabalhava. Você se despediu de mim apenas com um “adeus” e se foi, entrou no carro e deu partida. Suspirei pesadamente e caminhei até o meu carro novamente. Segui meu caminho sem tirar aquela cena de você aparecendo e abordando o ladrão que ainda estava dentro do carro, e pra falar a verdade, até hoje eu não deixo de pensar nisso.

Citação: Eu te escrevia coisas lindas, porque era tudo que eu tinha.
- Pablo Reis Expresiones