Capítulo 16

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Eu odeio admitir que sentia sempre a sua falta toda vez que você ia embora, Laura.

Mas eu também não ia me desculpar por sentir tudo à flor da pele.


Fui escalada para uma das melhores cirurgias naquela tarde, todos que passavam por mim me olhavam e sorriam como se eu fosse a melhor pessoa dali. O chefe anunciou um grande problema que o Hospital estava passando, todos ficamos um pouco nervosos e sem saber o quê falar, mas no fim, tudo acabou bem. Todos os dias durante alguns intervalos que eu tinha nós duas ligávamos uma pra outra, mas não naquela tarde. Você não ligou pra mim nem tampouco eu pra você, e aquilo era horrível. Era assustador. Respirei fundo e peguei meu celular, parece que eu pressentia as coisas quando elas exatamente iam acontecer. Recebi uma ligação da Natasha, nós duas conversamos tanto. E desde sempre é assim.

A conversa durou bastante tempo, mais do que eu poderia imaginar e, logo, tive que voltar as salas depois que ouvi um "boa sorte com tudo" dela. Sorri e desliguei o celular. Me dirigi o mais rápido que pude para a sala da qual estava acontecendo uma cirurgia cardíaca em uma garotinha, o problema dela era mais comum em crianças e eu sempre me especializei mais na pediatria. Eu a conheci uns dias antes de sua tão esperada cirurgia, me dei a oportunidade de ler o prontuario dela e assim pude monitora-la o tempo que ela precisasse. Seu nome era Triz. Ela era uma garota engraçada e que gostava muito de brincar, tinha uma força inigualável e era a que menos tinha medo. Triz me lembrava muito o meu filho, eles dois seriam amigos rapidinho caso se conhecessem.

A todo minuto que se passava as coisas iam ficando melhor. Nós conseguimos finalmente acabar depois de horas dentro daquela sala perturbadora. Todos do andar bateram palmas após nos ver saindo do ambiente e o Dr. Harry acenou, agradecendo. Foi um dia cansativo e produtivo, e logo eu estava em casa, jogada em minha cama descansando as costas que mais pareciam de uma velha de 80 anos. Preparei um café e também waffles com sorvete. Eu precisei me distrair enquanto Charlie estava a caminho de casa com seu pai, os dois passaram alguns dias juntos fazendo coisas de pai e filho, como sempre Charlie me contava. Recebi uma mensagem quase inesperada. Era a Natasha. O quê era inesperado seria o seu convite louco. Como sempre, Natasha inventando festas legais. Dessa vez, seria em um local diferente. Confirmei minha presença e ela me mandou um áudio gritando já festejando e me dizendo que seria a sua melhor festa. Isso ela dizia todas as vezes, eu já estava acostumada.

Algumas semanas mais tarde minhas malas estavam prontas e depois de alguns minutos esperando desde a última ligação, Natasha apareceu em minha casa e me ajudou a colocar as coisas em seu carro. Desnecessário dizer que Charlie era o mais animado de todos, havia acordado 3 horas mais cedo do que o normal porque ele estava bem ansioso. Não demorou muito até que chegamos em um local grande e fechado, não sabia ao certo quem era o proprietário, porém o lugar era espaçoso e suspirei aliviada, feliz por estar ali. O chalé era imenso, havia cerca de uns 7 quartos para os hospedes, sem contar os outros cômodos, e aquele nem era o maior chalé do terreno. Levamos as malas pra dentro e fiquei com um dos primeiros quartos por preguiça de caminhar e olhar os outros, lá não tinha escadas, os cômodos eram apenas em um único andar para facilitar. Vários outros chalés menores, ou seja, de apenas dois cômodos podiam ser vistos pela janela do meu quarto, fiquei admirando-os e depois notei que em alguns também estavam ocupados por senhoras e casais de adolescentes. Assim que Jason chegou, Charlie correu para o campo junto com ele enquanto fiquei no chalé com a Natasha e mais algumas pessoas preparando comidas e bebidas para aquela festa, fizemos tudo que o tempo nos permitiu e depois eu dei um banho em Charlie, o garoto estava todo bagunçado e sujo. Ele optou por ficar brincando com algumas crianças na varanda e todos nós levamos as mesas e preparativos para fora, decidimos que seria legal deixar que tudo fosse aproveitado ao ar livre, e aquela noite estava perfeita. Nem tudo acontece como a gente quer, muito menos coisas imprevisíveis. Você apareceu naquela noite, Laura. Quando senti que precisava beber alguma coisa, eu me levantei e Natasha me seguiu até a enorme mesa, ao lado dela deixamos um frigobar, peguei duas garrafas de cerveja e uma delas entreguei para Natasha que me agradeceu e num instante abriu-a e bebeu um gole. Nós duas sorrimos uma pra outra, aquele momento poderia ter durado mais alguns segundos se ela não tivesse desfeito o seu sorriso rapidamente após olhar por cima do meu ombro e engolir em seco. Semi-cerrei os olhos pra ela e a olhei sem entender nada, após isso ouvi uma voz reconhecível atrás de mim que me fez suar frio.

Cartas que você jamais vai lerOnde histórias criam vida. Descubra agora