Capítulo 02

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Eu sempre quis impressionar você.

De todas as formas, e com todas as idiotices que já disse.

Porém, você também sempre tentou chamar a minha atenção, e eu amava isso.

Sala 13. Paciente com náusea avançada.

Foi tudo o que o Dr. Harry me disse antes de me dirigir para a sala. Paramos diante do elevador e o esperamos. Eu estava muito impaciente, e não sabia o motivo. O Dr. Harry me olhou e eu apenas torci os lábios após apertar pelo milésima vez o botão. Ele sempre foi muito calmo, uma coisa que eu admirava muito. Talvez o problema não esteja nos outros, e sim em mim. Eu sempre tive o pavil muito curto, e você sempre brincou comigo por causa disso, Laura. Eu havia esquecido uma pasta importante e me amaldiçoei mentalmente por isso. O Dr. Harry pediu que eu voltasse ao balcão para pegar, e então o fiz. Ao voltar, Lisa, nossa balconista estava olhando a lista de pacientes e nem notou quando eu cheguei. A tirei daquele estado absorto e pedi a pasta, ela se levantou e foi buscar. Olhei para o lado e vi várias pessoas, e a que me deixou transtornada foi você. Te vi em pé, encostada na parede me olhando. Sorri pra você e fiquei feliz ao te ver sorrindo de volta, eu sempre fui apaixonada nesse seu sorriso. Tomei um susto quando Lisa apareceu chamando pelo meu nome. Ela me pediu para ir a sala 04 após sair da outra pois um paciente precisava muito de ajuda. Pedi a ela para mandar uma emfermeira e realizar alguns exames enquanto eu estaria ausente, e Lisa assentiu com a cabeça. Peguei a pasta e agradeci a ela, olhei pra você novamente e corei ao notar que você ainda me olhava.

Eu queria muito saber o que você pensa quando olha pra mim. O que você tem que me deixa tão sem jeito? O que você fez comigo e como eu, de repente, me vi já pensando em você?

Talvez eu tenha uma resposta óbvia.

Finalmente cheguei a sala 13 e pude ajudar o paciente. Ele já estava se sentindo um pouco melhor então decidi ir a sala 04. Ao chegar lá, vi que você estava ao lado da maca conversando com o paciente. A poucos minutos eu havia visto você no corredor e num passe de mágica já estava dentro da sala? Aquilo me deixou um pouco nervosa. Cheguei a pensar que estava sendo perseguida por você, e na verdade, eu estava mesmo.

- Olá, sou a doutora Schilling e de agora em diante eu cuidarei de você. - Falei ao entrar na sala.

- Bom dia, doutora. - Disse o paciente.

O homem do qual estava sentado na maca usava uma farda, ele era um policial. Lembrei da cena a algumas horas atrás quando ouvi você me dizer que o tal ladrão do qual perseguiam iria primeiro ao hospital, achei estranho pois não era ele ali. Olhei a prancheta na frente da cama e o nome "Karl" estava na primeira linha.

- O que aconteceu, sr. Karl? - Perguntei.

- Foi uma pancada - Disse ele.

- Cuidaremos disso. - Observei os exames.

Eu precisava usar uma outra sala específica então pedi que os emfermeiros o levassem, ainda na maca. Anotei algumas coisas importantes na minha prancheta e percebi que todos haviam saído da sala, menos você. Arrisquei olha-lá e como eu já imaginava, você estava me olhando. Naquele momento eu pensei que você era algum tipo de pessoa atrevida, entretanto você me olhava de um jeito tão intenso que eu tive a sensação de que já nos conhecíamos a muitos anos.

- Precisa de alguma coisa? - Perguntei e sorri.

- Talvez, Dr. Taylor.

Me assustei. Confesso. Eu não tinha falado meu primeiro nome em nenhum momento, como você sabia qual era?

- Diga-me - Respondi gaguejando.

- Acho que precisamos nos ver mais vezes. - Você respondeu e saiu.

Não pude evitar e deixei um sorriso bobo escapar. Me surpreendi pela sua falta de vergonha na cara e fiquei um tempo parada, olhando pro nada e deixando aquelas suas palavras pairar pela minha cabeça. A resposta pela qual eu me apaguei tanto a você: foi o seu sorriso que tirou a graça de todos os outros.

Cartas que você jamais vai lerOnde histórias criam vida. Descubra agora