Capítulo IV

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Harley

8 de março de 2018

Quinta-Feira, Manhã

09h08

- Harley! – Exclamou um homem de ombros largos, os cabelos penteados à escovinha e a barba ainda por fazer, tornando seu rosto um pouco mais grosseiro do que o normal, sua jaqueta preta lhe fazia parecer duas vezes maior do que realmente era.

A detetive estacionou o carro, as rodas amassando algumas folhas como um alerta de que ela já estava próxima demais da guia da entrada do hotel.

- O que está acontecendo? Como assim ele...? – Questionou ao vê-la sair do automóvel, as pernas rígidas enquanto ela puxava a saia um pouco mais para baixo.

- Morto.

- Tem certeza?

- Bom...gostaria de não ter. – Retrucou ela ao aproximar-se dele, o perfume de Eldric entorpecendo a mulher rapidamente antes de ser dispersado pelos ventos.

A cada segundo que se passava, mais e mais espectadores fúnebres chegavam com seus celulares em punho, uma arma tão vulgar quanto uma carabina, pronta para transformar um desastre em um horror a ser assistido. Havia uma jornalista chorando perto das portas de vidro da entrada, seu terninho agora amassado enquanto ela não conseguia conter as gotas salgadas que escorriam por seu rosto e manchavam sua maquiagem. Harley a reconheceu como sendo a jornalista que seguiu Collin até o quarto onde o corpo estava.

– Quem é ela? – Perguntou Eldric sem se mover, fazendo com que Harley virasse seu corpo e encarasse a juba ruiva de Munique Lancaster.

- Explico mais tarde. – Disse a mulher, lutando contra a sua vontade de revirar os olhos pela garota tê-la seguido.

Munique respirou fundo, receosa e um pouco menos animada. Conforme adentraram a propriedade, seus olhos não souberam para onde ir. Havia carros de polícia circuncidando a área, a grama do jardim da frente estava bem aparada, porém com certo tom amarronzado e sendo pisoteada pelos jornalistas, alguns choravam e as enormes faixas de um amarelo doentio já cobriam as janelas da suíte, podendo ser vista descaradamente da entrada conforme os saltos de Harley lutavam para não se prenderem nos cascalhos.

- Não quer mesmo me falar quem ela é? – Eldric indagou num sussurro e Harley soltou uma lufada de ar.

- Ideia do Humes.

- Humes? E por que você seguiria uma ideia dele?

- Porque, Eldric... – A detetive parou no instante em que dois policiais disseram que eles não poderiam avançar além daquele ponto. – Agora trabalho para ele. – E, no instante em que o corpo roliço do delegado surgiu atrás dos policiais, eles permitiram sua passagem.

- Ele não pode ir. – Alertou Gerald com a mão grossa e engordurada quando Eldric deu dois passos para frente.

- Ele está comigo. – Harley explicou.

- Ele não pode ir. – Repetiu o delegado enquanto girava o corpo, sua barriga dançando na direção da entrada com uma superioridade que somente um homem medíocre teria.

- Sinto muito. – E essas foram as últimas palavras dela para ele antes de seu corpo ser invadido pelo aroma de lavanda e morte que se alastrava pelo hotel.

Conforme subiam as escadas forradas pelo mais belo carpete italiano, Harley não pôde deixar de notar o quanto a nuca de Gerald Humes estava encharcada pelo suor do nervosismo que afligia cada fibra de seu corpo.

Obsessão Sublime (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora