Capítulo XVIII

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Robin

12 de março de 2018

Segunda-feira, Manhã


07h34

Robin manobrou o carro de forma sutil e o estacionou na frente da casa. Ela recostou a cabeça no volante, cansada. O que estava fazendo? Qual era o problema dela? A mulher olhou além do vidro do carro, encarando a porta fechada da construção de dois andares, rochosa e imponente, as cortinas seladas. Por que não conseguia mais olhar para Collin? Por que não conseguia mais ficar com ele? O garoto deveria estar sofrendo e algo naquele dia a fez ir até ali, desligando o motor e esticando as pernas ao caminhar, o vestido verde-musgo grudado nas laterais de seu corpo enquanto ela apanhava a chave em sua bolsa.

Por um momento, a mulher sentiu um arrepio percorrer seu corpo. A brisa pareceu mudar de direção. Ela olhou para os lados e, aflita, entrou na casa, batendo a porta atrás de si e trancando-a novamente, o coração batendo mais rápido sem um motivo aparente.

Calma, Robin... ela pensou enquanto encostava as costas na parede e deixava sua bolsa cair. Mas o medo que instantaneamente domou seu corpo fez com que lágrimas surgissem em seus olhos, ardendo-os como se fossem ácidas. Ela sabia que Collin não estaria naquele horário e, talvez apenas por isso, tivesse ido até ali. Merda...

Robin enxugou as lágrimas antes que elas caíssem e foi até a cozinha. Tudo estava tão diferente, agora que Bruce morrera. Parecia que havia algo que a detinha a cada passo que dava, como um aviso ou então uma maldição. Ao chegar naquele cômodo, ela logo percebeu cacos de porcelana no chão, os olhos se arregalando quando um segundo arrepio percorreu seu corpo e ela não pôde deixar de se perguntar: a casa estava, realmente, vazia?

- Dana? – Robin perguntou de forma quase tão estúpida quanto as final girls de filmes de terror com orçamento baixo. Não houve resposta.

É curioso como o ser humano age em momentos de tensão. Muitos tentam sair do ambiente o mais rápido possível para se livrar daquela sensação horrível, mas outros ficam enfrentando o medo e controlando seu corpo. Robin encaixava-se no segundo grupo. Sabia que tinha de estar ali. Precisava passar por aquilo e, como uma forma de tornar a situação mais amena, sua mente surgiu com uma resposta plausível para os cacos brancos que ainda estavam no chão: talvez Collin apenas tivesse derrubado aquilo naquela manhã antes de ir para o curso, em Bristol.

Conforme o caminhar pela cozinha, os dedos esqueléticos de Robin dançavam sobre a mesa de madeira que havia no centro do piso, bem à frente da pia, a qual tinha restos de um ovo frito em seu interior. Alguém não acabou o café da manhã, pelo visto. A viúva acabou pensando, então, no quanto Collin podia estar sofrendo e o fato dela não ter estado ali só ampliava tudo. Os olhos continuaram a percorrer a pia no instante em que ela decidiu que, a partir de então, ficaria com o garoto, passando por um faqueiro com capacidade de dez facas próximo a uma trouxa de pano. Curiosa, a mulher a abriu, encontrando o prato de porcelana que fora quebrado.

Algo em seu peito relaxou e o suor pareceu diminuir a intensidade de seu fluxo nas costas da mulher.

Um estrondo surge no andar de cima e Robin dá um salto, que derruba o resto do prato quebrado para dentro da pia. Uma porta bateu.

Com a adrenalina fluindo em suas veias, ela correu até a porta de frente e agarrou a maçaneta. Ainda estava trancada. Seus olhos temerosos fitaram o andar de cima, a escada e o balaústre vazios, quietos e sem sinal de vida. Talvez fosse o vento..., mas algo em Robin a fazia ter certeza de que alguém estava naquela casa junto a ela.

Obsessão Sublime (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora