Capítulo V

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Harley

8 de março de 2018

Quinta-Feira, Tarde

14h04

Depois de almoçar no hotel em que dormia há quase oito anos, Harley Cleanwater retornava ao seu escritório assim como combinara com o novo problema em seu dia-a-dia: Munique Lancaster. Agora, ela esfregava as têmporas na esperança de diminuir a dor que fazia sua cabeça latejar. Já estava sem álcool há algumas horas e sua garganta parecia perceber isso.

Como um distrator pertinente, o celular dela vibrou.

- Harley. – Disse ao atender.

Ninguém respondeu, apenas o barulho de talheres tinindo um contra o outro e passos rápidos.

- Harley? – A voz de Mina Le Roux soou no outro lado da linha, seu sotaque francês arrastando o "r" do nome da detetive.

- Sim. – Respondeu a mulher enquanto continuava a caminhar pelas calçadas traiçoeiras, um atrativo para os poucos cachorros de rua que ali haviam.

- Como está?

- Pra falar a verdade...não muito bem. – A detetive bufou enquanto atravessava a rua. Se Mina estava ligando para ela, então algo havia acontecido. Algo sobre Tom.

- O que houve?

- Não importa. O que queria me dizer?

- Harley...o que aconteceu?

- Diga-me que Tom ainda está aí.

Houve certo silêncio no outro lado da linha e o coração de Harley bateu mais forte.

- Sim, Harley. Ele ainda está aqui.

Certo peso despencou dos ombros dela.

- Ótimo.

- Quero falar sobre o tratamento, Harley. Tom está melhorando...

A detetive sabia que haveria um "mas" em poucos segundos.

- Mas ele continua perguntando sobre a mãe.

Harley respirou fundo e uma concentração de pulsações nervosas reuniu-se em sua testa, martelando-a como mineiros zangados atrás de diamantes num filme antigo de contos de fadas.

- O que você disse para ele?

- Que ele poderia vê-la.

- Mina! – Harley a reprimiu ao exaltar sua voz, encostando-se contra a parede de pedras velhas de uma das casas que ficava na Market Place.

- O que eu poderia ter dito, Harley?! Ele quer vê-la...sente falta dela.

- Se ele a encontrar, podemos colocar tudo a perder! Já havíamos entrado num acordo.

- Apenas me parece desumano mantê-los afastados, Harley! Já faz meses! Acha mesmo que Helga não conseguira manter esse segredo? Um segredo que salvaria o próprio filho?

Harley engoliu em seco.

- Não podemos arriscar.

- Bom, então você terá de pensar em alguma coisa.

- Acha que não sei disso?! – Retrucou a detetive e, segundos depois, se arrependeu da resposta. – Desculpe, Mina..., mas tem sido meses difíceis.

- Eu sei, Harley. – A mulher no outro lado da linha parecia tão cansada quanto a detetive. – Helga continua atrás de você, não?

- Quase todos os dias. – Admitiu por entre uma lufada de ar. Harley sentiu as lágrimas querendo surgir em seus olhos. – Ela quer ver o filho.

Obsessão Sublime (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora