Capítulo XVI

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Munique

10 de março de 2018

Sábado, Manhã

09h30

Não demorou para que a garota alcançasse a pequena caixa que era a delegacia de Castle Combe, com suas portas de vidro automáticas e pisos brancos infestados pelo cheiro de lavanda suja do sabão que alguém usou para "limpar" ali. Ela estava nervosa. Não, pior ainda, estava zangada.

Com passos firmes e os punhos cerrados, Munique atravessou a rua e alcançou as portas, que se abriram com sua chegada. Quem Harley pensava que era para falar daquele jeito!?

- Dormiu bem? – Uma voz perguntou ao lado dela, assustando-a.

Chester estava ali, um dos ajudantes de Edgar que, aparentemente, tinha problemas com espinhas, que brotavam no lado direito de sua testa, próxima às tarântulas loiras que ele chamava de sobrancelhas. Seu nariz era belo e, talvez, fosse a única coisa que pudesse ser considerada tal em seu rosto. Naquele dia, sua camisa vermelha apertava seu peito que, surpreendentemente, não era molenga.

Munique fez que sim, sacudindo a cabeça e tentando não se distrair.

- O que está fazendo aqui?

- Poderia te perguntar o mesmo, não? – Ela retorquiu com um ar brincalhão. Se uma coisa ela havia aprendido com Harley até então era que um detetive tem que saber como se adaptar ao ambiente e conseguir a informação que quer do jeito que for preciso. Bom, ao menos um detetive que se respeite, é claro.

- Touché. – Ele apontou o indicador para ela e o sacudiu no ar.

Ainda estavam parados na recepção, próximos ao balcão branco, recém polido, a cadeira acolchoada vazia e uma pilha de folhas em branco que jamais seriam preenchidas repousando ao lado do mouse, colado ao teclado do computador pitoresco.

- Está trabalhando na recepção? – A ruiva concluiu e o garoto arregalou os olhos castanhos, caminhando para trás coçando a nuca.

- Andar com aquela detetive está te deixando muito esperta, hein? – Chester disse apenas para disfarçar o nervosismo que subitamente surgiu em seu corpo. Isso sempre acontecia quando estava perto de garotas que considerava atraentes e, por Deus, ele achava Munique atraente para cacete! – Mas, está correta, senhorita...

- Pode me chamar de Munique.

- Munique. – Ele repetiu por entre os lábios de salsicha. Chester já sabia o nome da garota e ela tinha plena consciência disso, mas era parte do joguinho de sedução dele fingir ter esquecido o nome dela. Afinal, como seu pai erroneamente ensinara, ele devia desvalorizá-la primeiro, mostrar que era esquecível e não era a única. – Eu ia chamá-la de Mônica, mas esse era o nome da garota do bar.

A ruiva não ergueu nem sequer uma sobrancelha, como a detetive fazia, mas seu olhar cínico e afiado fez o garoto se afundar na cadeira antes vazia, as mãos nadando em suor.

Ela pensou em continuar seu caminhar até a sala dos arquivos onde, possivelmente, a autópsia estava, mas isso despertaria a curiosidade de Chester e ele não podia segui-la. Então, a garota simplesmente permaneceu parada, esperando que ele falasse mais alguma estupidez.

- Fiz algumas ligações para o caso, sabia? – Perguntou para quebrar o silêncio sufocante enquanto girava seu corpo na cadeira.

- Jura? – A garota inclinou-se sobre o balcão, os braços unidos e os dedos entrelaçados. – Ligou para quem?

Obsessão Sublime (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora