Obsessão Sublime (Degustação)

Capítulo XIX - Parte II

* Anteriormente, na parte I - Harley Cleanwater interroga brevemente Robin Whitewoods, após a descoberta de que havia um cordeiro na caixa deixada no apartamento de Emma Quinn. Logo em seguida, enquanto tentava manter Edgar numa única ala do hospital, a detetive descobre que, na segunda caixa que foi entregue pelo agressor, havia um coração. Mas a pergunta é: seria um coração humano? *

***

13h20

Ela só podia ter perdido a hora. Era isso que Eldric pensava no instante em que Harley Cleanwater surgiu à sua frente, pernas duras presas naquela saia preta de cintura alta, o busto coberto pela camisa social rosa pastel e uma bolsa pendendo no braço esquerdo. Ele dirigiu até ali o mais rápido que pôde depois de apanhar a autópsia no escritório, analisá-la e, surpreendentemente, convidar a detetive para almoçar. Embora estivesse feliz de vê-la ali, não pôde deixar de falar:

- Está atrasada.

Harley ergueu uma sobrancelha e arremessou sua bolsa sobre o sofá estofado de vermelho e amarelo.

- Você me trouxe para um McDonalds, não está podendo pedir muito.

Ele riu por entre o pigarrear, nervoso por não saber como retrucar.

- Por que se atrasou? – Finalmente perguntou, antes de começar a mexer no porta-guardanapos de metal que ficava no meio daquela mesa grudenta, que já havia sido vítima de tantas crianças e adultos emporcalhados que nem ao menos parecia fazer questão de se livrar daquela superfície extra de gordura e saliva.

Era inevitável e praticamente impossível para a detetive não pensar em Tom justamente ali, na Cabot Circus, a cópia menor e mais barata da Picadilly Circus, onde ela trouxera o garoto no ano passado e, horas depois, descobriu o que ele havia feito. Não à toa, sua reposta envolvia o garoto:

- Não podia deixar o hospital até que Edgar saísse para almoçar. – Justificou enquanto encarava, enojada, uma marca bizarra de ketchup no canto da mesa. - Se saísse antes, talvez ele entrasse, por um acaso maldito, na ala em que Tom está e descobrisse tudo.

- Você não contou a Mina que está aqui, não é? – Os olhos de Eldric pareceram perfurar a detetive, cansada e sem forças para criar uma parede contra ele.

- Não. – Admitiu enquanto sentia a boca secar, mordiscando os lábios. – Se dissesse, ela ia querer almoçar ou tentar ajudar e a última coisa de que preciso é de mais dor de cabeça. – A detetive debruçou-se sobre a mesa, os cotovelos contra a gordura enquanto os dedos afincavam-se nas madeixas cor de âmbar.

- Fico feliz em saber que não te dou dor de cabeça. – Disse apenas para, depois, sorrir charmosamente.

- Ainda não me causou dor de cabeça. – Refutou enquanto endireitava-se, dobrando as mangas e sentindo o calor aumentando, ironicamente. - O que descobriu?

Eldric pareceu empalidecer por alguns segundos antes de estralar o pescoço com movimentos rápidos.

- Não quer almoçar primeiro? – Sugeriu e um tijolo formou-se dentro do estômago de Harley.

- Apenas me diga que o coração de Bruce Whitewoods ainda estava no corpo dele quando a perícia levou o corpo.

- Quer que eu minta? – Perguntou Eldric soltando um suspiro e olhando para a direita, na direção do balcão abarrotado de pessoas esfomeadas que querem pedir seus lanches o mais rápido possível. Aquele cenário limpo, mas infestado de fritura em seu próprio ar, e abarrotado o desanimou, fazendo-o voltar sua atenção para a detetive. – Não encontraram o coração.