CAPÍTULO 5 -

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Um mês e nenhum sinal de Sebastian, os dias começaram a ficar cada vez mais difícil diante da falta que a perda agora real estava em mim. Noites mal dormidas, pesadelos e o pranto insistente fazia a minha necessidade da morte ser maior.
Meu pensamento matinal era sempre o mesmo "Infelizmente mais um dia pra enfrentar..."
Comecei a evitar novamente as pessoas e Marina estava se tornando um problema com suas histórias fantasiosas de profecia e desinteressantes, um dia ela chegou em casa e eu estava deitada e fingi dormir e a vi colocar suas mãos sobre mim e senti como um conforto em minhas pernas e saía de suas mãos uma luz, assustada levantei e perguntei o que estava fazendo e ela me disse que descobriu que pode curar as dores do espírito, foi através do seu gato Toddy que descobriu depois que ele ficou doente e o curou desse jeito.
  - Pareço um gato Marina? Ou um animal qualquer? De onde tirou que preciso ser curada? E por Deus, você acredita em umas bobagens que chega a ser ridículo, agora me faz um favor, saí daqui antes que te jogo lá fora e não apareça sem avisar de novo.
Virei pro canto e puxei o cobertor sobre a cabeça ouvindo ela apenas sair chorando; me arrependi no mesmo momento mas não iria atrás porque apesar de dura eu disse a verdade pra ela.
Adormeci.
Acordei com um raio clareando minha janela junto com a chuva fria que batia no meu rosto.
Que merda logo agora que estava sonhando com minha mãe, inferno, inferno, inferno... Levantei nervosa pra acender a luz pra fechar a janela mas estava sem energia, olhei pra cima e levantei às mãos indignada. Valeu, óohh um belo joinha pra quem esteja rindo da minha cara aí em cima agora, devo ter apedrejado Jesus só pode. Enquanto reclamava outro relâmpago e no clarão notei que havia alguém em meu quarto no canto da porta e fiquei estática, juro que nem o grito tive na garganta naquele momento porque me faltou ar nos pulmões, fechei os olhos e fiquei em pé parada sentindo meu coração e respiração disputando espaço entre meus dedos.
- Quem está aí? Por fim perguntei. ( Não querendo a resposta confesso)
- Responde logo caralho, quem é?
Silêncio absoluto.
"Pai nosso que estais no céu, santificado seja o Vosso nome... (Comecei a rezar porque sabia que ia morrer ou pelas mãos que quem estava ali ou de infarto de tanto medo), senti minha calça molhada e disparei a chorar por ter urinado na roupa, aquela altura tirei a mão do rosto e não havia mais ninguém lá.
Voltou a luz em poucos minutos mas não me fazia sentir mais segura, alguém esteve em meu quarto, na minha casa enquanto eu dormia e de pavor chorei querendo minha mãe.

Ester sempre foi uma mãe tão presente que nunca tinha pensado como seria quando a perdesse, acho que isso é algo que os filhos nunca pensam, sabe que os pais um dia vão morrer, mas nunca aceitam pensar sobre o assunto.
Abraçada a uma fotografia de todos juntos adormeci depois de tomar banho e trançar muito bem tudo, colocando uma cadeira na maçaneta da porta.
Amanheceu chovendo e Charles estava sentado no sofá comendo pão com uma caneca de café. Essa era a única coisa que puxei dele, a necessidade de café todos os dias. Estava com as roupas e o boné de sempre e perguntei se esqueceu de trancar a casa ontem porque alguém esteve no meu quarto no meio da noite, ele logo levantou e respondeu que não perguntando porque não gritei e chamei por ele, dei de ombros e não respondi.
Estou saindo pro colégio, tchau.
Saindo atrás ele me fez perguntas que nem prestei muito atenção, apenas balancei a mão dando tchau.
No caminho vi o Dimy e sem saco desviei o caminho é não fui pra aula. Resolvi ir pra minha antiga casa que estava com uma placa de VENDE-SE.
A casa parecia diferente quando entrei pela janela, perdeu aquela referência de lar, era apenas uma sala com móveis, cozinha com pouca luz que entrava pela janela e as escadas compridas demais. Caminhei pelo corredor e vi um brinquedo jogado no chão, as lágrimas saíram sem eu perceber. Abrir a porta do quarto da minha mãe e na cama estava sua almofada feita de crochê então deitei abraçando e em total desespero chorei por um longo tempo.
Agora você invade as casas? Uma boa ecoou no quarto, num salto pulei da cama e lá estava ele encostado no portal de calça jeans e camiseta me olhando de braços cruzados.
Sebastian? O que faz aqui?
Sorrindo me fez a mesma pergunta, o que você faz aqui?
Eu moro aqui, fiquei em silêncio por um instante e corrigi, eu morava aqui antes...
Bela casa, sua mãe tinha bom gosto.
Valeu, mas ainda não me respondeu o que faz aqui.
Olhando fixamente pra mim disse que veio atrás de mim.
Te vi desviando do caminho e resolvi te seguir.
Por que? Não sei pra que veio, sumiu, desapareceu e...
Ele me beijou, me beijou um beijo longo e intenso me envolvendo por completo em seus braços derrubando toda e qualquer barreira que talvez pudesse criar, mas eu não quis e viajei naquele beijo como se o mundo parasse de girar e contemplasse todo aquele momento e fizemos amor ali mesmo no chão do quarto.

Duas FacesOnde histórias criam vida. Descubra agora