Antes de começarmos a conversar, o garçom veio nos atender. Trazia com ele o recado do senhor que estava no caixa: "O mesmo de sempre?". Nos encaramos e soltamos uma risada sincera, o jovem garçom não entendia, mas acho que para não parecer de fora, ou desatencioso, acabou que também soltou uma risada. Antes de respondermos a pergunta, lembrei do prato que costumávamos pedir. Ovos fritos com uma carne de hambúrguer artesanal, fina, com um pouco de salada e um suco de laranja era sempre meus pedidos. Já meu pai, tentava ter uma vida mais saudável possível, dizia ele que era por causa da idade. Sempre pedia salada, com molho natural, com um misto de queijo light e um suco de limão, que segundo ele ajudava na digestão.
Sem demora, na verdade já tínhamos demorado, meu pai respondeu que sim. O garçom retirou-se em direção a cozinha. Novamente voltamos a nos encarar. Após alguns segundos calados, a conversa começara a correr.
—Como está sua mãe? Ainda viaja muito? - perguntou como se já soubesse a resposta.
—Está bem, eu acho. Conhece bem ela. - respondi sem muita excitação
—Então, fico feliz por isso, aproveitando a ocasião, quero te mostrar algo.
A mão dele corria pela perna, aos poucos chegava no bolso. Após isso sacara um envelope e entregou-me. Ele tinha um selo parecia de cartas antigas. Enquanto abria, ele me olhava animado. Finalmente abri. Antes que eu pudesse retirar o conteúdo, o garçom chegou com os nossos pedidos. Estava com uma aparência e cheiro atraente como sempre, o melhor foi que ganhamos como cortesia duas trufas. Segundo garçom, era um agradecimento por sermos clientes fiéis. Coloquei o envelope aberto na esquerda da mesa, os olhos de meu pai acompanhava o movimento. O prato me chamava e eu não resisti. A cada intervalo de mordidas, conversávamos sobre tudo: Faculdade, trabalho, emprego etc, mesmo assim, não tinha noção do que estava naquele envelope.
Pratos vazios, era o momento de retornar para onde paramos, antes disso, levantei e com os pratos em mão levei em direção a cozinha, deixei no balcão. Quando sentei novamente, meu pai parecia um pouco nervoso. Peguei o envelope e retirei o conteúdo. Eram quatro passagens áreas com uma nota de hospedagem em um abrigo em Odda. Era um convite para camping, com tudo pago pelo visto. O que eu não entendia era o porquê das quatro passagens. No fundo tinha um papel, parecia uma carta. Peguei, mas antes de abrir olhei para ele. Não parecia que as coisas estavam correndo do jeito que ele queria, porque a feição dele exibia isso. Abrir a carta, era curta, com poucas palavras.
Noan,
Espero ter uma relação saudável e amigável com você. Espero ser mais que uma madrasta, espero ser uma amiga, para quem sabe, junto com seu pai, contribuir para uma melhor construção da pessoa maravilhosa que você já. Com essas intenções, convido você, antes da nossa viagem juntos, para um almoço em família: Eu, você, seu pai e seu irmão, Alex. Ele tem 2 anos e meio, mas acho que, com certeza, lembrará da nossa noite juntos.
Atenciosamente, Karine.
Não sabia como reagir a isso. Era um turbilhão de pensamentos em minha cabeça. Meus sentimentos estavam aflorando, todos de uma só vez. A vontade de chorar surgia. Até mesmo a viagem não conseguia controlar o que estava acontecendo: meu descontrole emocional diante da notícia.
Ele percebeu, sentou ao meu lado e com o braço esquerdo me envolveu. Não disse nada, compreendeu que aquele era o exato momento para ficar calado. Aquilo, um envolvimento silencioso, é apenas o que precisamos às vezes quando estamos tristes e confusos. Era melhor que receber uma série de frases vazias, repetitivas, a fim de te tirar na tristeza.
Levantei, pedi desculpa a ele e sai sem levar nada. No início do percurso após a saída do Jubas, corri o máximo que podia. Senti envolto de solidão. Sentia as lágrimas escorrendo. Sequei enquanto corria. Entrei em várias ruas, procurando movimento, na verdade, procurando um meio mais rápido para casa. Estava finalmente em uma rua movimentada, parei o primeiro táxi que vi. Torcia para chegar em casa logo.
[...]
Minha casa era meu abrigo. Assim como várias pessoas, depois de situações com a mesma força que essa, torcia para chegar em casa. Parecia que lá podíamos esquecer nossos problemas, graças ao conforto que ela passara. Ou até mesmo desabar na tristeza, sem a preocupação de ser o centro dos olhares alheios, como seria caso acontecesse na rua.
Não aguentei chegar no quarto, precisava colocar para fora. No chão da sala chorei, perguntava diversas coisas, procurava respostas, que com certeza, não viriam ali, naquele momento, muito menos de mim. Não entendia que não valia a pena chorar, me preocupar e outras coisas, naquele instante, não dependia nada de mim, não tinha nada o que fazer. Tinha apenas que deixar o momento ocorrer.
Estava frio e escuro, coloquei as mãos no bolso. Senti algo, não lembrava de ter guardado nada. Quando vi, lembrei o que era. Não lembrei de devolver os fones de Dylan. Peguei meu celular e dei um toque, ninguém atendia. Queria devolver os fones dele, ou simplesmente queria uma companhia silenciosa. Achava que Dimitri e Aléssia estavam ocupados com sei lá o que, provavelmente estavam juntos e não poderiam vir. Já o Dylan, ele saíra no mesmo instante que eu, acho que estaria em casa nesse momento.
Trinta minutos se passaram, meu rosto já estava inchado, meus olhos vermelhos, isso tudo por chorar tanto. Não tinha vontade de levantar para nada. Acho que meu dia acabava ali.
Meu silêncio e prantos foram interrompidos. A campainha da casa tocava. Exitei em levantar. Mas a pessoa parecia insistir em querer falar com alguém. Sabia que tinha alguém em casa, pois eu esqueci de colocar o sapato para dentro. Levantei e fui abrir a porta. Era Dylan. Com um olhar preocupado ele falou:
—Esqueci meus fones, quer conversar?
***Dicas do escritor: 1º Prestem atenção nas mensagens, elas foram colocas para ajudarem vocês caso precisem!
2º Não deixem de dar estrelinha e comentar, tanto aqui, quanto em outras histórias. Estrelinha mostra que vocês gostarem e animamo escritor a continuar.
3º Novamente lembrando, todos locais citados aqui existem, se quiserem dar uma olhadinha, basta pesquisar no google.
Espero que estejam gostando do livro. Beijos, beijos! ***
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Deixa Fluir
RomanceA mudança dos fluxos da vida não é geralmente bem aceita por parte das pessoas. Noan, ao entrar no primeiro ano, encontra-se em uma situação inesperada: suas atividades e conexões com amigos e família, em geral, são afetadas por mudanças sutis, mas...