Convidei Dylan para entrar. Logo estávamos sentado nas poltronas da sala. Por uns minutos tentei esconder minha tristeza, guardar o que estava sentindo.

—Seus fones... Esqueci de devolver

— O que ocorreu? Você parecia esta chorando — perguntou meio preocupado — Se não quiser comentar, tudo bem.

Entreguei os fones a ele, mas as nossas mãos grudaram umas nas outras. Diante daquelas paredes estavam eu e Dylan, se olhando com as mãos juntas. Encarei nossas mãos, em seguida seu rosto, atencioso, calmo, disposto a ajudar. Já não aguentava mais. As emoções começavam a escorrer pelo meu corpo. Lágrimas desciam suaves pelo meu rosto e pingavam na minha camisa. Minha feição já mudara de cor, naquele momento era vermelha. Uma estranha leve tremedeira tomava conta de mim.

— Não sabia o que ocorria... Não imaginava que, mesmo com minha mãe, ele faria algo assim. Como pode... — parei, não aguentava continuar falando, soluçava muito.

— Não precisa ter pressa, estarei aqui quanto tempo precisar. — disse como se fossemos ter todo tempo.

— Como pode ter um filho de dois anos com apenas meses de término — falei demonstrando choque.

Era algo que eu realmente não conseguia entender. Não imaginava em nenhum momento que meu pai poderia ter feito aquilo. Pensei que teria, pelo menos, consideração por mim, pelo que eu poderia sentir. Naquele momento eu sentia um pouco de raiva. Não conseguia entender se isso era correto ou não. Estava confuso, ao mesmo tempo amargurado. E ao mesmo tempo estava envolto pelos braços de Dylan. Tão envolvidos, que nossos corações estavam apenas separados por duas finas paredes. Novamente voltava a chorar. Ele permanecia em silêncio.

[...]

Após minutos chorando já não tinha mais lágrimas suficientes, a dor também, escorreu juntamente as pequenas gotas. A fome bateu. Dylan estava na cozinha preparando algo. Não sabia que ele cozinhava. Enquanto isso liguei o celular, tinha notificação de música nova. Aurora acabava de lançar um single, Queendom. Coloquei na playlist e deixei tocando. Dylan chegava com dois pratos. Estava com miojo, mergulhados nele, tinham verduras, legumes etc. Segundo ele era yakisoba, mas não parecia bem. Pelo visto ele sabia cozinhar, só que de forma simples. Ou melhor dizendo, não tão bem. Apesar da aparência, o gosto estava bom, acho que era pelo fato que eu estava com muita fome.

Sentamos juntos no chão de frente um para o outro no chão.

— Como achou minha casa? — realmente não sabia como ele conseguira meu endereço.

— Perguntei a Aléssia. — afirmou mastigando um pedaço de algo no canto da boca e colocando a mão sobre a boca a fim de não parecer mal educado.

Aléssia costumava vir aqui, Dimitri já viera uma vez, entretanto nunca mais retornou. Acho que traumatizou com o cachorro da vizinha que correu atrás dele.

— Com quem aprendeu a cozinhar? — questionei enquanto colocava o prato no chão.

— Tive que me virar, não tenho quem cozinhe para mim. Sou mestre na arte do miojo. — afirmava rindo. Esse sorriso.

Já não comíamos mais. A música continuava a tocar e Dylan levantava para levar os pratos para pia. De forma estranha o tempo fechou. Observava enquanto ele retornava para sala. Tocava Never Gonna Give You Up. Começava a dançar enquanto a música tocava. Dançava feito anos 80, com estralar de dedos, giradas e aquelas feições engraçadas que os dançarinos faziam.

just wanna tell you how I'm feeling

Caminhava em direção a mim enquanto remexia-se devagar. Com outra girada, parou, abrindo os braços e me olhando sorrindo e um pouco sem graça, chamava-me para dançar. Estendi o braço e rapidamente fui agarrado. Assim, estavam segurando um na mão do outro. Remexíamos as pernas, a cintura em uma tentativa frustrada de parecer uma dança de discoteca. Mas isso não foi motivo para tirar o gosto daquele momento. Antes uma sala repleta de sentimentos ruins, diante de nós, transformou-se em um campo alegre, onde teve a plantação de algo que colheria os frutos bons futuramente.

Deixa FluirWhere stories live. Discover now