Estávamos indo em direção a sala. Todos estavam juntos dirigindo em direção as salas naqueles corredores cheios. Um silêncio estranho habitava entre nós, não conversávamos , acredito que estavam ainda digerindo a realidade. Entretanto, em um dado momento, os caminhos passaram a ser opostos. Foi o fator decisivo. Estava naquele momento só eu e Dylan. Não sabemos o porquê até hoje, mas ficamos parados ali, talvez por alguns minutos. Diversas são as respostas para nossa ação naquele instante, mas acredito que o mesmo que acontece com diversas pessoas (e que é normal) passamos também: Diante de um impacto que nos abala, paralisamos e fazemos a tentativa de aceitação da ideia. A aceitação é o primeiro passo para caminharmos adiante. Foi o que aconteceu naquele corredor. Aceitamos aquilo, aquele momento.
Continuamos em direção a sala. Estava um pouco nervoso, minhas mãos me denunciavam, a cor delas estava mais pálida. Não paravam de tremer. Os olhares de Dylan deixavam claro a preocupação dele referente a meu nervosismo.
Paramos. A porta da sala estava diante de nós, eramos capazes de escutar a professora se apresentar, como era de costume da maioria dos professores no primeiro dia. Apoiei minha mão direita na maçaneta, no movimento de abertura, senti um toque em minha mão esquerda. Era Dylan, nossas mãos estavam entrelaçadas. Seu olhar passava-me calma. Enquanto nos perdíamos nos olhares, a porta abriu. Era a professora, aparentava ser de idade. Sorriu, ao mesmo tempo, apontava para dentro da sala, convidando eu e a Dylan, dois atrasados, entrar na sala. A turma nos encarava, senti a mesma sensação do meu primeiro dia de aula na primeira série. Eram vários rostos novos, logo os vários pensamentos começaram rondar minha cabeça... O que eles achariam de mim, o que eles pensavam... Dylan largara minha mão, isso trouxe-me de volta para real.
Entramos lentamente pela esquerda, onde estava posicionada a porta de entrada, em direção aos bancos e mesas do fundo. A sala era larga com uma longa sequência de janelas na direita, com cortinas, que nessa hora estavam enroladas e presas a uma corda decorativa. Na parte da frente estava uma mesa grande, até demais, que, com certeza, era do professor. As cadeiras e mesas dos alunos estavam separadas em fileiras próximas.Dylan sentou logo em seguida que eu, na fileira ao lado. A professora atraiu nossas atenções para ela.
[...]
Sinal tocou, aquele som irritante. Permanecia sentado, acompanhando visualmente todos saírem. Dylan não mais estava sentado na carteira ao lado, mas sim na ponta de minha mesa. Assim como, observava. Antes de levantarmos, Dimitri e Aléssia chegaram, soltavam sorrisos e acenos de mãos.
—Não foi tão mal, né? — entonava em bom tom — o pessoal da sua turma parece ser legal, aqueles garotos de olhos pretos e cabelo azul... — deu uma pausa acompanhado de um suspiro.
Todos tinha entendido o que ela queria dizer. Era provavelmente a terceira pessoa que ela crushava, ou mais, não duvido nada. Não entendia como ela conseguia se "apaixonar" por uma pessoa tão rápido, não conhecia, nunca havia tido uma conversa. Não era um problema ela ser assim, só que eu não entendia. Achava que era, na verdade, pelo fato de nunca ter passado por isso, nunca ter passado da simples admiração de beleza.
— Esse é o quinto! — confirmava Dimitri sorrindo, já esperava isso — nem o professor escapou dos olhares dela. — comentava encarando ela com uma feição de "você está demais em !?"
— E você, Noan, o que achou? — essa pergunta estava recheada de maldade, seu rosto indicava isso.
Todos me encaram, Aléssia com seu rosto maldoso, Dimitri com seu sorriso de canto de rosto e Dylan sério, acho que estava ansioso pela resposta.
— Você sabe... - falei sem muita emoção, dei uma pausa e continuei — Nada que não passe da simples apreciação.
Era assim com todas pessoas, não importava o gênero, a orientação sexual, nada. Nenhuma conseguira despertar algo em mim.

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Deixa Fluir
RomanceA mudança dos fluxos da vida não é geralmente bem aceita por parte das pessoas. Noan, ao entrar no primeiro ano, encontra-se em uma situação inesperada: suas atividades e conexões com amigos e família, em geral, são afetadas por mudanças sutis, mas...