Capítulo 4: Uma Carta Para Papá

15 6 0
                                    

Verão, 19XX, 14 horas.

"Vim contar o que aconteceu, me perdoe.

Estava a colher e cai, me perdoe.

Juro, tentei andar, mas caí, me perdoe.

Não pude colher, me perdoe.

Não pude ajudar, me perdoe.

Os deixei em fome.

Por tudo me culpas, perdoe.

Se não por mim por mamá.

Perdoe por tirá-la de ti.

Por meus joelhos cortar me perdoe.

Me perdoe por quebrar seu viver, me perdoe.

Mesmo que não possa ler me perdoe.

Tentei não chorar e sua carta borrar.

Me perdoe, papá."

Do dia que a escreveu a guardo comigo.

Da minha menininha a carta eu guardei, guardo comigo em meu coração, eu a guardo menina-varão, minha flor do luar, filha de Vênus.

Não quis brigar contigo por se cortar, por não poder trabalhar. Não quis te ferir apenas embalsamado, não chores minha menina.

1993 deixaste teus irmãos no campo, o fizeste por bem, tu, tão parecida a tua mãe, aquele anjo que Deus levou e agora me leva junto. Não te culpo, menina, vós tão pequena não terias um anjo levado. És na terra um divino legado, minha criança, minha pequena.

Me lembrei de ti, filha, no meu último respirar. Já me vou, já é tarde e o tempo passou.

Amo-te, doce flor.

Papai.

Álya - El Azabache [COMPLETA EM RASCUNHO - 1° ARCO] Onde histórias criam vida. Descubra agora