Especial: O Nascimento de Vênus

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Por todo lado se ouviam gritos.

Gritos de agudos, gritos de mulher. Uma mulher gravida cuja criança quer sair.

O nome desta mulher é Reneé, ela é filha francesa. Não está entendendo bem? Não se preocupe, eu explico. Eu sou a morte, vim para buscá-la, mas ainda há tempo, tem uma criança a caminho. Guarde-a em sua mente, ela e tão importante quanto a mãe.

Enquanto espero te contarei o que há neste mundo. Estamos no ano de 1923 no dia 7 do mês de Pluviose, o que no seu mundo pode ser lido como 27 de Janeiro. Este mundo não é como o seu mundo, nele a revolução francesa falhou. Todos os franceses que não os nobres foram mortos ou exilados.

Aliás, não se preocupe com a nossa querida Reneé, se ela não tivesse morrido aqui morreria em dois anos, com a caçada a descendência revolucionária. Esta parte do pais é dominada pelo Reino Prussiano, e chamado de Nova Prússia. Esta cidade, Abgetren, antes levava o nome de Gerberoy. Ela é próxima de Heilig, antiga Páris.

Reneé já foi chamada Vênus, bastante incomum. Vênus, devo lembrar, e o nome romano de Afrodite, deusa do amor, da beleza, do riso e do casamento. Mas nossa Reneé não fez juízo ao nome, seu amor e a escrita, sua beleza e reprimida e seu riso inadequado. Nada nela estava certo, tudo nela era perfeito.

Lembro que existe uma lenda, uma lenda conta de uma rosa criada no nascimento de Vênus. A flor sagrada de Vênus, foi criada enquanto acontecia o nascimento da deusa do amor. A rosa, com sua encantadora beleza e fragrância, é o símbolo do amor. Se eu tivesse escrito teria feito diferente: a rosa veio ao mundo quando vênus o deixou, este foi o preço do seu amo. Os de uma rosa espinhos nos lembram que o amor pode ferir. Vênus escolheu assim.

Ah! O bebê está nascendo, uma menina. Não é surpresa que a menina venha ao mundo azulada, estamos no segundo mês de inverno, no mês nas chuvas. Aliás, está chovendo agora, isso deve ser horrível prós espasmos. Talvez eu devesse levar Vênus antes da criança vir, alguém certamente deve evitar que leve as duas comigo, deve haver um médico ou curandeiro por aqui, afinal.

Aí vem Kunz, o pai, é bom que ele tenha trazido uma manta para a criança ou ela poderia morrer de frio. A menina chorou, ela está bem. E uma pena que sua mãe já esteja esfriando. Agora que todos se viram para parabenizar a mãe, eu já a tenho comigo.

E a segunda esposa sua que levo, Kunz, não te culpo em me ter um ódio indomável, mas entenda, todos vão morrer um dia. Alguns diziam que a lei devia ser como a morte, mas eu digo que a morte devia ser como a lei, talvez assim eu fosse menos odiado.

Tomei Vênus comigo. As árvores de laranjeiras estão carregadas de flores brancas suas pontas se tornam douradas. As folhas têm nervuras áureas e o flavo está também presente nos troncos, de modo que o bosque parece inundado da divina presença de Vênus.

Ela não chorava. Me pergunto se realmente levava uma mortal comigo. As vezes a morte pode se surpreender com pessoas, é raro pra morte encontrar a vida e ainda mais raro encontrar quem a viveu.

Perguntei a Reneé o seu último pedido "Eu quero que a minha filha tenha um nome perfeito, nem prussiano, nem francês, seu nome será Lourdes, Álya Lourdes. Minha menina, minha pequena Rosemary."

Reneé foi a única filha do último revolucionário e agora sua criança é a última filha da revolução. Uma filha de Vênus.

Álya - El Azabache [COMPLETA EM RASCUNHO - 1° ARCO] Onde histórias criam vida. Descubra agora