I • Rússia

92 11 23
                                    

Observando tudo correr pelo vidro do carro, penso em como sempre quis sair da cidade, talvez do país. Considerava um sonho deixar tudo para trás, e assim procurar um local para viver em paz e feliz.

Olhando tudo ficar para trás, e coisas novas surgirem a frente, embora tivesse visto todas as casas e prédios, todos os dias a quase 2 anos, penso em como seria ótimo ver prédios novos em lugares diferentes.

Observando pequenas gotas de água caírem do céu, penso em como a chuva lembra lágrimas, de um jeito indireto, mas ainda assim recordava. Lembrava muito bem que, quando chovia, eu acabava chorando junto com o céu sem cor, mas no momento eu não queria chorar.

Então, o carro parou. Não foi bruscamente, mas fui um pouco para frente. Olhei para a motorista, minha mãe, que olhava diretamente para mim.

- Está tudo bem? - perguntou, sua voz soando preocupada, e sua mão vindo a minha bochecha, acariciando-a com o polegar.

Gostava de ser profundamente sincero com ela. Ela sempre acreditava em tudo que dizia, e por este motivo queria ser verdadeiro com a mulher que eu mais amava e admirava. E, olhando em seus olhos por alguns segundos que conseguia aguentar, neguei com a cabeça.

Não saiu uma palavra de minha boca, mas ela me deu um abraço apertado. No qual, poderia morar para sempre sem me incomodar com isso. Ela se separou segundos mais tarde, por algum momento me senti completo, e logo em seguida me deu um beijo na testa.

- Você vai conseguir, meu amor. Você sempre consegue. Você é forte, e sempre irá conseguir realizar o que deseja. - e, mais uma vez, um abraço forte.

Por alguns minutos, pude me assegurar que tudo iria ficar bem. Pude ter uma certeza de que eu não morreria naquele momento e muito menos durante o dia. Sabia que minha mãe tinha esse efeito sobre mim, pois estava acostumado quando ela me "enfeitiçava", porém eu sabia que era um efeito que se finalizava rápido. Sabia que depois de talvez uma ou meia hora eu poderia estar péssimo. Mas, do mesmo jeito me segurei na ideia de que iria ficar bem.

- Eu te amo, gatinho. - ela disse, me olhando nos olhos, sua voz soando verdadeira e linda. - Eu te amo infinitamente. - um beijo na bochecha e pude ir embora.

Abri a porta do automóvel, e assim que pisei na calçada olhei para o céu. Estava tão nublado e fechado que não parecia um clima de Sydney.

- Tchau, mamãe. - soltei, dando um pequeno sorriso para ela. Ela sorriu de volta, acenando, e logo foi embora.

Vi o carro virar a esquina, e me senti perdido no meio daquilo tudo. Olhei para o prédio, guardando alguns detalhes em minha mente. Logo, tomei coragem e caminhei para dentro do colégio.

Ao meu ver, todo dia é como se fosse um primeiro dia de aula. Hoje não é o primeiro dia de aula do ano, na verdade é a quinta semana depois desse início. Mas, sempre parece um novo começo para mim.

Dei passos inseguros, me direcionando ao meu armário. Gostava sempre de ter uma trilha sonora enquanto caminhava, era engraçado ter algo tocando enquanto você anda, particularmente, me sinto em um filme. Como escolha, Welcome To My Life, do Simple Plan começou a soar em meus ouvidos.

Olhava para o chão enquanto andava. Não havia tanta gente no corredor no horário, mas simplesmente não gostava de encarar as pessoas. Costumava dar passos rápidos, consequentemente para ninguém prestar muita atenção em mim.

O número do meu armário era 204. Os armários eram de tamanho mediano, sendo assim, cada parte da fileira tinha dois armários, o de cima e o de baixo. O meu ficava na parte de cima. Peguei o livro das duas primeiras aulas: que seria matemática, e fui diretamente para a minha sala, normalmente caminhando de cabeça baixa.

Before I Go • Muke Onde histórias criam vida. Descubra agora