II • Polo Sul (Antártida)

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antes de tudo: to atrasada não é surpresa me perdoa? :(

Não gostava de levantar. Na verdade, eu odiava acordar e levantar pois eu tinha que sair do meu porto-seguro. Tinha que viver, e eu odiava viver no lugar que fui colocado.

Odiava o modo como a minha cara era amassada pelas manhãs de um modo quase sobrenatural e como eu tinha olheiras, revelando descaradamente que não dormia bem. Também odiava como o meu cabelo, no momento tingido de verde, não queria ficar do jeito que sempre deixei quando ele simplesmente não queria, odiava o jeito que ele continha vida própria.

Era quinta. Uma quinta-feira. É, eu odiava quintas-feiras, odiava tudo que conseguia em um dia que acordava nenhum pouco bem.

Era seis e quarenta, como sempre acordava neste horário, era uma monotonia, de fato. Mas, hoje estava diferente pois comecei parado em frente do espelho, recordando pequenos detalhes que já algum tempo não reparava.

Olhei para minhas mãos e depois para o meu rosto. Olhei nos meus olhos, que tinha o tom verde igual ao do meu cabelo, e me estranhei. Fazia alguns meses que não parava em frente do espelho e que não via meus mínimos detalhes.

Não percebi minha mãe entrar e ficar me encarando, só percebi depois que ela chamou minha atenção, dizendo meu apelido:

- Mike? - olhei para ela, meu estomago estava estranho e os meus olhos estavam prontos para chorar. - Você está aí a algum tempo, está tudo bem?

Neguei com a cabeça lentamente e ela caminhou até mim, colocou as mãos em minhas bochechas e beijou minha testa e a ponta do meu nariz, o que me fez rir baixinho e fracamente.

- Aconteceu algo ou é só um dia ruim? - ela perguntou, com seu tom de voz sempre tão gentil e delicado e arrumando alguns fios do meu cabelo o colocando no lugar.

- É um dia ruim, mamãe. - a respondi e fiz um bico infantil sentindo meus olhos marejarem e ela me abraçar.

- Fique em casa, 'kay? - ela disse, ela entendia perfeitamente. - Vou tentar sair antes das seis para ficar com você, kitten. Agora, volte a dormir. Assim pode melhorar. - ela sorriu e me acompanhou até a cama.

Deitei, ela me cobriu dos pés aos ombros e me deu um beijo na testa, que para mim sinalizava proteção. Me sentia como uma criança de menos de seis anos, mas eu gostava de ser cuidado assim por ela.

- Eu amo você, gatinho. - ela acariciou minha bochecha - Vou avisar Calum que o senhor não vai antes dele começar a ligar em todos os telefones desesperadamente.

- Eu amo você, mamãe. - respondi, baixo, como uma criança, e ela sorriu.

Ela digitou algumas coisas em seu telefone e obteve uma resposta logo depois, em questão de segundos. Meu melhor amigo esperava algum sinal de vida vindo de mim.

- Cal estava preocupado, mas são seis e cinquenta! - ela riu, o que me animo, provocando um sorriso pequeno e fraco em mim. - Ele disse que vai passar aqui depois da aula, e ele vem correndo.

- Tudo bem, vou esperar ele vir... - disse baixinho, com sono e esquecendo, quase por completo, o sentimento que tinha e que era um adolescente.

Before I Go • Muke Onde histórias criam vida. Descubra agora