Capítulo 17

2.4K 166 17
                                    

M A N O E L A 

Abri meus olhos, fazendo a claridade irritar os mesmos, tentei me mover, mas eu sentia meu corpo fraco de mais pra isso.. Minha boca estava seca, eu estava com sede, mas me sentia fraca até pra falar.

- Querida, graças a Deus você acordou! 

Olhei em direção a voz e era minha tia Ellen.

- T-tia. - Disse com dificuldade.

- Shh, não fala nada, está tudo bem! 

Ela acariciou minha mão, com lagrimas escorrendo pelo rosto.

- Sede.

- Você quer água?

- Sim!

- Tudo bem, eu já volto! 

Ela se afastou de mim, saindo do meu campo de visão.. Olhei em direção aos meus pulsos e ambos estavam enfaixados..

- Como você se sente?

O médico se aproximou de mim, com uma prancheta em uma das mãos.

- Fraca.

- Você perdeu muito sangue, por isso está fraca desse jeito! Por que fez isso?

- Porque eu queria morrer! 

Disse já com os olhos cheios de lagrimas.

- Você é tão nova e já quer morrer?

- Você não sabe o que eu passo dês do meu primeiro dia de vida.

- E você sabe?

- Sei! - Limpei as lágrimas.- Só queria buscar minha paz.

- E acha que morrer dessa forma te traria paz?

- Sim! 

- Olha querida, eu não sei o que você passou e também não sou a pessoa mais indicada para te aconselhar sobre isso, mas eu convivo com a morte todos os dias e te garanto.. viver, é muito melhor do que morrer! Você não tem ideia da quantidade de pessoas que passam por mim todos os dias, querendo só mais um dia de vida, quando sabem que tem ainda algumas horas! Você é uma menina linda, não desperdice sua vida dessa maneira! - Me mantive calada porque não sabia o que dizer.. - Eu recomendei para o seu pai uma psicóloga, acho que vai ser bom pra você!

Apenas concordei com a cabeça e ela saiu do quarto, após me lançar um sorriso.

----

Dois dias foi o tempo que fiquei no hospital! As únicas pessoas que me visitaram foram minha prima e minha tia, meu pai eu nem sei se ele apareceu por aqui e também não perguntei, com medo da resposta! Minha tia estacionou em frente a minha casa e segurou minha mão.

- Você sabe que pode contar comigo para o que precisar, não sabe?

- Sei sim tia, obrigada!

- Eu só não te levo para morar comigo, porque mal fico em casa!

- Não se preocupe, eu vou ficar bem!

- Por favor meu bem, não tente fazer isso de novo.

- Não vou!

- Obrigada!

Ela me deu um beijo na mão e eu desci do carro, segurando minha mochila, subi as escadas que dava acesso a entrada principal da minha casa e antes deu bater na porta a mesma foi aberta pela Rita.

- Querida, que bom te ter em casa.

Ela me abraçou e eu suspirei.

- Oi Rita.

- Vem, seu quarto está pronto.

Entrei com ela me abraçando e pra minha surpresa, ou não, meu pai estava em casa.. Parei em frente a ele e abaixei a cabeça.

- Você sempre quer ser o centro da atenções, não é mesmo Manoela?

- Querido, não precisa disso ..

- Retirei a porta do seu quarto, já que é evidente que você não é digna de ficar sozinha com uma porta.

Eu escutava tudo calada e de cabeça baixa. Claro que ficar sem porta no meu quarto seria horrível e tirava completamente minha privacidade, ainda mais do que ter alguém dividindo o quarto comigo.. Mas não adiantaria argumentar contra a decisão do meu pai, e eu estava me sentindo cansada de mais pra fazer isso.

- Posso subir?

- Você está de castigo, me dê o seu celular e está proibida de sair, da escola pra casa, de casa pra escola.

- Sim senhor!

- Agora suba!

- Sim senhor!

Comecei a andar, indo em direção ao meu quarto e suspirei ao não ver a porta.. Joguei minha mochila no chão e fui em direção a minha cama.. Me deitei de costas pra porta e abracei uma almofada, fechando meus olhos.

Acordei sentindo alguém acariciar meu cabelo, abri os olhos de vagar e encontrei a Rita sentada na beira da minha cama.

- Oi querida, como se sente?

- Bem!

- Eu trouxe alguma coisa pra você comer, você perdeu o jantar.

- Que horas são?

- Onze e meia!

Me espreguicei na cama, me sentando.

- Obrigada, mas não estou com fome!

- Você precisa comer..

- Não sinto fome, mas pode deixar aí, depois eu como, obrigada.

- Está sentindo alguma dor?

- Não! Estou bem.

- Que bom, fiquei muito preocupada com você!

Apenas concordei com a cabeça.

- .. O seu pai também, por isso ele retirou a porta.

- Duvido muito que ele se importe..

- O seu pai te ama querida, ele só não sabe demonstrar!

- Eu já estou acostumada! Eu vou tomar banho e vou deitar, obrigada pelo lanche.

- Tudo bem! Tente comer, pelo menos um pouco certo?

- Certo! 

Ela sorriu e me deu um beijo na cabeça, saindo do quarto e eu respirei fundo, encarando a bandeja na beirada da minha cama.

Eu não sinto verdade nas atitudes da Rita, as vezes parece que tudo isso é fingimento e logo ela se mostra o que é realmente! Nos meus livros de romance as madrastas nunca foram pessoas boas, sempre pessoas más e por isso fico com um pé atrás com ela. 

Encarei meu armário cheio de romances que eu já li e reli várias vezes e me permiti sonhar, imaginando minha vida daquela maneira.... Bobagem!

Me levantei da minha cama e caminhei em direção ao armário, deslizei meus dedos pelos meus livros e os puxei, jogando um por um no chão, até ele estar completamente vazio.. Peguei uma mala em meu guarda roupa e coloquei os livros dentro dela, arrastando a mesma com dificuldade pelo corredor e escadas, até chegar do lado de fora.. Fiz esse trajeto duas vezes devido a quantidade de livros e quando estavam todos empilhados do lado e fora, joguei fogo, vendo cada uma daquelas mentiras queimando.

- Manoela, o que está fazendo ?

- Me livrando disso tudo!

- Fogo? Chama o bombeiro. - Daiane chegou histérica ao nosso lado e eu me desliguei do mundo, vendo cada livro que um dia me fez sonhar queimando, fazendo uma grande fogueira.. Eu poderia me jogar em cima deles e queimar também, talvez assim eu morreria de vez e encontraria paz.. Dei dois passos em direção a fogueira e senti alguém me segurando pelo braço, olhei na direção e era o meu pai.

- O que pensa que está fazendo?

- Não sei.- Dei alguns passos para o lado, me afastando da mão dele e dei as costas pra pilha de livros queimando e caminhei em direção ao meu quarto.

[>>>>>>>]

Doce IlusãoOnde histórias criam vida. Descubra agora