Doce Ilusão

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M A N O E L A

Abri meus olhos e pisquei algumas vezes, olhei em volta e eu estava no quarto da minha cama, levei a mão até minha cabeça e a mesma estava estourando, quando me ajeitei na cama a porta se abriu e o Lucas entrou.

- Oi..

- Minha cabeça está doendo.

- Imaginei!

Lucas se aproximou de mim e me entregou um copo de água e um comprimido.

-.. Como está se sentindo?

- Cansada! - Suspirei. - O que aconteceu?

- Você desmaiou assim que seu pai foi enterrado..

- Meu pai foi o que?

E era como se tivesse dado um estralo em minha cabeça e eu me lembrasse dos últimos acontecimentos. Meus olhos se encheram de lágrimas.

- Ei, não chora..

- Ele morreu Lucas, eu perdi meu pai!

- Eu sei e eu sinto muito por isso! Mas agora você precisa ser forte pela nossa filha!

Neguei com a cabeça.

- Ele não merecia isso!

- Eu sei! Mas infelizmente aconteceu e eu vou estar aqui pra te ajudar a passar por isso!

Lucas me abraçou e eu apertei seu corpo contra o meu, escondendo meu rosto em seu pescoço.

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A perda do pai começa a nos ensinar o valor do tempo. O que não fizemos, a visita e o gesto adiados, a palavra não dita, a compreensão não exercida, o papo azeda, a advertência desdenhada, o convite abandonando sem resposta, o interesse desinteressado, tudo isso volta, massacrante, cobrando-nos o egoísmo. O tempo deixa de ser exercício de desperdício gratuitos e começa a se transformar num bem maior: o que ensina a arte de uma convivência que com ele nunca se soube exercer e, já, tempo não há de recuperar.

Já havia se passado uma semana desde a morte do meu pai e eu não consigo sair do meu quarto, não sinto fome, não sinto vontade de absolutamente nada! A única coisa que faço é tomar banho e quase sempre com a ajuda do Lucas também, porque sinto meu corpo tão fraco que mal consigo me colocar de pé! Eu tenho ignorado todo mundo, desliguei meu celular e não faço questão de liga-lo! As únicas pessoas que eu vejo é o Lucas e a Tina! Nem a Nicole eu tenho recebido e sou grata ao Lucas por respeitar minha decisão!eu quero curtir o meu luto, quieta, sozinha, sem precisar ficar ouvindo " meus sentimentos" de todo mundo, não quero ser mal agradecida, apenas não quero ver ninguém e parece que até Helosa tem vivido esse luto comigo! 

- Você precisa comer.

- Não estou com fome!

- Manoela, você está grávida! Daqui a alguns dias nossa filha vai estar aqui conosco e para que isso aconteça, você precisa se alimentar!

- Eu não sinto fome, depois eu como!

- Você tem falado isso a semana toda! Olha, eu sei da sua dor e respeito ela! Mas eu quero que minha filha nasça com saúde e que você tenha saúde, então por favor, coma!

Respirei fundo, mesmo sem vontade eu concordei com a cabeça! Lucas tinha razão, eu precisava parar de pensar só em mim e começar a comer pela minha filha! Lucas sorriu satisfeito e pegou o prato que parecia ter uma sopa e se sentou na minha frente, encheu a colher e colocou em minha boca, eu mastiguei de maneira lenta e quando engoli, me deu vontade de vomitar, respirei fundo e comi mais algumas colheres e quando me dei por satisfeita, Lucas parou!

- Não quero mais!

- Tem certeza?

- Sim!

- Por hoje vou me dar por satisfeito, ok?

- Obrigada!

- O que acha de sairmos? Você pegar um sol?

- Não quero, Lucas!

- Você sabe que precisa né?

- Eu sei! - Suspirei.

- Sua tia tem te ligado, está preocupada com você!

- Depois eu falo com ela!

- Você sabe que ela também está sofrendo né? E que você é o que restou do irmão dela!

- Eu sei! - Concordei com a cabeça. - Mas eu quero viver meu luto sozinha! Ver minha tia agora é aumentar minha dor!

- Tudo bem! Vou levar esse prato na cozinha, se precisar de alguma coisa me chama tá?

- Obrigada!

Me ajeitei na cama, deitando novamente e suspirei, fechei meus olhos e dormi.

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L U C A S

Manoela tem me deixado bastante preocupado, ela havia emagrecido nesse período de luto dela e isso tem me deixado em alerta! Ela está grávida, no final da gestação e todo cuidado nessa reta final é importante, pelo menos foi o que li em um dos meus livros de " Pai de primeira viagem" .. Eu tenho feito minha parte, tenho dado comida pra ela, mesmo que seja poucas colheres.. Ellen, Nicole e Rita ligam todos os dias para saber como ela está, tentar falar com ela e Manoela rejeita todas as vezes! Eu não forço porque sei que ela precisa desse momento só dela, ela precisa ficar sozinha e conseguir se restabelecer.

- Ela comeu?

- Um pouco, mas comeu!

- Menos mal né?

- Sim! - Suspirei e passei minha mão no meu cabelo. - Estou bastante preocupado.

- Ela vai superar! Heloísa vai vir na melhor hora, isso vai ajudar ela!

- Tomara! Eu queria poder fazer alguma coisa que ajudasse ela sabe? Mas não posso fazer nada, nem imagino a dor que ela está sentindo agora!

- Você já está fazendo seu papel, tem cuidado dela da melhor maneira possível.

- Mesmo assim não acho que é no suficiente.

- É sim! Não se preocupe. - Tina acariciou meu ombro. - As coisas logo se ajeitam!

A campainha foi tocada e Tina foi em direção a porta para ver quem era, em segundos Nicole e mais dois meninos entraram.

- Lucas..

- Oi Nicole!

- Manoela?

- Dormindo!

- Queremos vê-la. - O idiota que havia beijado ela no casamento se pronunciou.

- Querer não é poder!

- Lucas, eu estou preocupada com ela!

- Eu sei Nicole, eu também estou! Mas Manoela não quer ver ninguém, não sou eu quem estou proíbindo não!

- Eu sei! Mas talvez ela queira ver o Samuel.

- Não quer!

- Como você pode ter tanta certeza disso?

Ele deu um passo em minha direção, ficando frente a frente comigo, como se tivesse me peitando!

- Se ela quisesse te ver, teria pedido pra você vir!

- Essa discussão não vai adiantar nada gente, pelo amor de Deus! - Nicole disse. - Manoela ..

Olhei em direção ao corredor dos quartos e Manoela vinha.

- Oi! O que fazem aqui?

Nicole não disse nada e foi em direção a prima, abraçando a mesma e vi Manoela retribuir o abraço e respirar fundo, fechando os olhos... Os dois idiotas foram em direção a elas e eles se abraçaram, todos juntos! Encarei Tina e a mesma sussurrou um calma, mas calma era a última coisa que eu queria ter nesse momento.

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