Capítulo 16

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M A N O E L A 

Eu queria sumir, queria dormir eternamente, queria morrer.. Não quero dramatizar toda essa situação, mas eu realmente estou devastada por dentro.. Cheguei da escola e me tranquei em meu quarto, deitei na cama tampada até a cabeça e encolhida, eu estava me sentindo a pior de todas as mulheres, ou realmente uma criança iludida. Eu não fiz nada para merecer isso, pelo menos eu acho que não.. Lucas não tinha esse direito, não tinha! 

Esses livros idiotas mentiram, não existe essa de amor a primeira vista, frio na barriga não significa que você encontrou o amor da sua vida, todas essas histórias que a minha vida inteira eu li, imaginando viver um amor desse tipo, não passa de histórias, aquilo não é verdade, a vida real é totalmente diferente! 

Limpei as lagrimas que escorriam e me sentei na cama, abraçando minhas pernas, eu só queria que tudo isso passasse, que essa dor passasse, que essa vergonha passasse, eu só queria dormir até que eu pudesse acordar desse pesadelo. Não é possível que ninguém nesse mundo me ame! Eu me sinto órfã de pai e mãe, mesmo tendo meu pai presente em minha vida! Ele não me ama, minha mãe não me amou, o Lucas não me ama.. Essa ultima frase fez meu coração se apertar e um soluço alto escapou de mim.  Meu pai me trata com tanta frieza, com tanto desprezo, eu não entendo porque ele não me jogou fora, porque não me doou pra alguém, será que ele ficou comigo somente pra me fazer pagar por tudo que minha mãe fez pra ele? A culpa não é minha! Eu não tenho culpa da minha mãe ter ma abandonado com ele pra fugir com outro homem, eu não tenho culpa! Mesmo sendo a primeira vez que meu pai me bate, eu me sinto agredida por ele todos os dias, por cada atitude dele! Meu pai nunca me abraçou, nunca fez questão disso, não me lembro da ultima vez que ele me tratou com afeto, que me tratou com amor, carinho. É como se eu fosse somente uma obrigação dele.. Isso dói, dói de mais! Como um pai pode tratar a própria filha dessa maneira? não tem explicação! 

Eu quero morrer! Não é querendo ser exagerada, mas talvez essa seja a única maneira deu fazer essa dor passar de dentro de mim! Não vai fazer falta pra ninguém, meu pai não se importa mesmo, talvez eu morrendo será o alivio da vida dela, ele tira esse peso das costas e pode ser feliz realmente, já que talvez eu esteja impedindo que ele seja. 

Me levantei e fui em direção ao banheiro, procurei dentro do armário um gilete e quando achei fui em direção ao meu quarto, me sentei no chão, encostada em minha cama e respirei fundo, encarando meus pulsos.  Talvez realmente essa seja a melhor solução. 

Eu sei que tem pessoas com muito mais problemas do que eu, que estão enfrentando coisas maiores do que uma rejeição do pai e um coração partido. Mas eu não sou forte como elas, não tenho a mesma força, não sei lidar com a dor, eu não consigo! Ta doendo de mais pra mim conseguir suportar. 

Acariciei meu pulso e respirei fundo... Peguei o gilete e passei em meu pulso, sentindo minha pele sendo rasgada e o sangue escorrendo rapidamente, doeu, mas não tanto quanto eu achei que doeria.. Passei novamente o gilete com mais força, aprofundando o corte e troquei o gilete de mão, fazendo o mesmo com o outro pulso. 

Deitei no chão e fiquei vendo o sangue escorrendo do meu pulso, enquanto meu corpo ia ficando fraco

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Deitei no chão e fiquei vendo o sangue escorrendo do meu pulso, enquanto meu corpo ia ficando fraco... Essa vai ser a melhor solução pra todo mundo! 



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N I C O L E 

Eu estava me sentindo culpada por tudo que estava acontecendo com a Manoela. Talvez se eu não tivesse incentivado ela tanto  a cair de cabeça nesse relacionamento, a viver de verdade, a encarar a realidade, ela não estaria passando por tudo isso agora, estaria ainda enfiada em seus livros, imaginando o seu futuro. Ela não estava preparada para viver isso, Manoela é menina de mais pras maldades de alguém como o Lucas, eu só não percebi isso antes! Respirei fundo e encarei minha mãe, que dirigia concentrada.. Ela estava extremamente chateada com o que aconteceu com minha prima e bastante estressada pela atitude do meu tio. Minha mãe e ele nunca deu certo, a vida inteira bateram de frente um com o outro. 

- Seu tio não podia ter feito o que fez, aquele homem não nasceu para ser pai!

- Mãe, você conhece meu tio Marcos!

- Por conhecer ele que estou falando isso! Marcos parece jogar a culpa do mundo nessa menina e isso não está certo, mas ele vai ver só!

Minha mãe estacionou o carro de qualquer jeito e descemos do carro, ela caminhou até a porta principal e tocou a campainha como uma desesperada.

-.. Marcos está ai?

- Sim senhora!

- Ótimo!

Minha mãe passou pela empregada e eu fui atrás dela, meu tio estava sentado no sofá, mexendo em seu tablet enquanto a Rita estava ao seu lado mostrando alguma coisa.

- Ellen! - Ele direcionou seus olhos para minha mãe. - O que faz aqui?

- Cadê minha sobrinha?

- No quarto!

- Quem você pensa que é pra bater na cara dela?

Minha mãe jogou a bolsa no chão e se aproximou do irmão que se levantou.

- Eu sou o pai dela!

- Grande bosta de pai você é, Marcos! Quando é que você foi pai? O que você entende em ser pai? Absolutamente nada! Essa menina cresceu criada por empregadas, enquanto tudo seu era trabalhar!

- Pra sustenta-la, ou você acha que as roupas dela eu comprei sentado no sofá esperando o dinheiro cair do céu?

-Ser pai é dar amor, carinho, cuidar!

- Intrometa na criação da sua filha e não da minha!

- Gente, é melhor vocês se acalmarem! - Rita se levantou ficando ao lado do meu tio e minha mãe olhou  pra ela de cima a baixo.

- Não se meta! - Disse entre dentes e a mesma deu um passo pra trás. 

- Fala logo o que você quer, Ellen?

Um grito vindo do andar de cima atraiu os olhares em direção a escada.

- Manoela.

Eu sai correndo, indo em direção ao quarto da minha prima e a imagem que eu vi fez meu corpo congelar no lugar. Ela estava deitada no chão, por cima de uma poça de sangue que saia do seu pulso.. 

- Chamem uma ambulância, rápido! 

Minha mãe gritou se aproximando do corpo da Manoela que estava desacordada.. Encarei meu tio que olhava tudo ao meu lado, seu rosto era inexpressivo, não dava pra saber o que ele estava sentindo, se é que ele estava sentindo alguma coisa.. As lagrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu continuava parada, no mesmo lugar, vendo tudo sem conseguir mexer em um músculo se quer. 

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