epilogue

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Chega um tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E o coração está seco.
- Carlos Drummond

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Está tudo escuro. Minha cabeça dói, e não sei onde estou. Por trás das minhas costas algo confortável se faz presente, talvez esteja em um cenário completamente diferente ao qual minha mente se limita a formar.
Não arrisco abrir os olhos, não, ainda não é o tempo.
Aquele nome voltou a ocupar toda a extensão de meus pensamentos, um inferno.

O dia havia sido normal, de qualquer modo. Ainda sinto minha bochecha ser furada pelas unhas avermelhadas como sangue de minha madrastra.
Sangue.
Essa palavra me proporciona uma angustia inexplicável, talvez estivesse enlouquecendo de vez.
Estou com um estranho sentimento de angústia, decadência e medo, não sou capaz de deixar de citar a minha ânsia de vômito ao tentar explorar o preto de meu cérebro.
Me pergunto o por que de na minha mente apenas morte e aflição estão presentes, é fato... talvez estivesse apenas enlouquecendo de vez.

Uma das grandes provas de estar ficando louco, é que nessa imensa escuridão consigo escutar meu nome ser clamado por uma voz que não me agrada. Ela me dá nojo.

As vozes insistem em se aproximar cada vez mais, e enfim, crio coragem para abrir os olhos.
Um grande clarão, e a sala com cheiro de soro e medicamentos. Estava certo de algum modo quando disse que minhas costas pairavam em algum lugar confortável, estava deitado em uma cama, mais especificamente, 'numa maca.
Grunhi baixo, aquela luz no topo da sala estava machucando meus olhos.

- Oh, você acordou.-
A silhueta de minha madrastra se faz presente do meu lado, parecia cansada e preocupada.
- Você não tem noção do quanto pedi aos céus que estivesse morto.-

Preferi tirar a parte "preocupada", aquele verme nunca se preocuparia por mim, e também, não faço questão de ter algo nojento se preocupando comigo.

- Vais dar um trabalhão para gente, depois de tudo que aconteceu naquele colégio de merda que seu pai te colocou. Claro que foi tudo culpa sua, não podia ser de mais ninguém-
Lançou-me um olhar mortal, o qual não fiz questão de retribuir.
Se levantou e foi em direção a porta com um sorriso no rosto, consegui ver a traseira de meu pai.
- Amor, ele acordou. Céus, eu estava tão preocupada! Vamos logo, ele ainda está se recuperando-

A expressão alegre do meu pai se fez presente em seu rosto, veio correndo em minha direção e me proporcionou um abraço caloroso.
Aquele nome rodeou minha pobre e enfaixada cabeça novamente.

- Meu filho! Não tens noção de como estava angustiado. Pensei que nunca lembraria de nós, o médico disse que foi semi acertado em uma parte frágil do crânio! És tão sortudo por não ter sido em cheio.-
Sentia suas lágrimas quentes descerem de seu rosto apreensivo.

A porta rolou para o lado pela terceira vez, e alguns policiais entraram na sala sem nem ao menos pedir licença. Verdadeiros trogloditas.

- Senhor Jeon, ele acordou? Temos que falar com ele agora.-

Meu pai assentiu e deixou o local, não sem antes distribuir um beijo molhado em minha testa.
Arrisquei a me endireitar na maca, mesmo que aquela posição machucasse minha cabeça.

- O que querem de mim?-

- Quero que nos diga tudo.-
Falou simplista como se fosse a coisa mais normal neste mundo, o louco aqui era ele, no fim de tudo.

- Como vou lhes contar tudo se aqui não tem nada?-

- Não se faça de besta, você foi encontrado desacordado em uma sala repleta de gente morta. Seu amigo ligou desesperado para o centro policial dizendo que um ataque havia ocorrido em sua escola. Pode começar a explicar, por favor.-

Minha mente entrou em colapso, o que era aquela baboseira que saia da boca dos senhores em frente à mim?

- Desculpe senhor, mas hoje foi um dia como os outros. Eu fui para a escola e encontrei ele lá.-

- Quem seria ele, Jeon?-

- O menino dos olhos de formato de lua. Ele... ele era meu amigo de infância... O Jimin!-
Sorri alegre ao finalmente pôr para fora aquele nome que me atormenta. Estava ansioso para vê-lo novamente e deixar claro que lembro muito bem de si.

- Park Jimin está morto, e matou quase todos naquela escola. Um assassino a sangue frio, um manipulador, um monstro! Ameaçou diversos dos seus colegas, ameaçou suas famílias, os conseguiu na palma da mão por conta de suas riquezas sujas. Aquele doente tinha distúrbios que nem a mais avançada medicina podria explicar, um lunatico.-

Então, eu só pude rir... Rir até não conseguir mais. Era nítido o olhar de dúvida nos tiras ao meu lado, mas eu só conseguia rir.

o menino dos olhos não é assim. Ele é doce, gentil, e prometeu me amar mesmo que tivesse que morrer.
O menino dos olhos foi minha primeira e verdadeira paixão.
Por que estão a falar tão mal dele assim?
Ele é bom.
Por que está tudo voltando a ficar preto?
Ah sim, O menino dos olhos está tampando minha visão...?
Não me lembro de nada, apenas dele... que sorri com os olhos

- Médicos! Médicos! Código Vermelho! Ele está nos deixando! Aguente Firme garotão!-

Não preciso aguentar firme, eu quero ir! Eu preciso ir!




"O inferno não é o fogo, o inferno não são as balas, esse não é o máximo do sofrimento. O inferno é a lama, que te arrasta com ela para o fim sem que você perceba."







Fim.

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