CHAPTER TWELVE

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Atualmente
Morristown, 14 de Fevereiro de 2018

Estou quase saindo de casa quando meu celular começa a vibrar em minha bolsa.
- Alô?
- Bom Dia. - A voz de Ben parece ofegante do outro lado da linha. Coloco o celular entre a orelha e o ombro e pego minha mala e a bolsa ao mesmo tempo, levando para fora do apartamento.
- Bom Dia. - Digo brevemente. levo as malas com certo esforço até o carro e fecho o porta-malas.
- Você está bem? Está pronta? - Ele pergunta e novamente sua voz sai ofegante.
- Quase. - Coloco a bolsa no banco do passageiro e volto para trancar a porta do apartamento. Um gemido alto vem do outro lado da linha e eu já não consigo mais me segurar. - Por favor me diz que você está malhando...
- Estou. - Ouço o riso abafado dele e suspiro aliviada. - Por quê?
- Achei que você estava... Que tinha alguém... esquece. - Sorrio sozinha. - Vou chegar aí em algumas horas, mas preciso passar em um lugar antes. - Entro no carro e ligo o aquecedor para me proteger do frio de Nova York de manha cedo.
- Que lugar?
- Um lugar muito importante para a missão. - Eu digo e rezo em silêncio para que ele não fale mais nada. Se minha equipe descobrir que eu atrasei de propósito...
- Sei... - Ele não parece muito convencido, mas pelo menos não faz mais perguntas.
- Preciso ir. Chego mais tarde, Ben. - Estou quase desligando quando ouço ele rir.
- Manda um oi pro seu irmão. - Ele diz antes de desligar. Sorrio sozinha, certa de que ele não vai contar para ninguém.
Algumas horas depois estou estacionando em frente à casa dos meus tios. Um lugar tão familiar que chega a doer. Saio do carro e só então percebo o quanto estou nervosa. Faz alguns meses que não vejo meus tios, mas mesmo mantendo contato com eles ainda é estranho aparecer aqui. Lembro que da última vez que estive aqui não acabou muito bem.
Bato na porta e espero até alguém abrir.
A porta se abre e revela um pequeno senhor de óculos quadrados, com os olhos cansados e o rosto cheios de rugas. Quando seus olhos azuis encontram os meus, seus lábios finos se abrem em um grande sorriso.
- Aisha! - Ele abre os braços e me abraça apertado.
- É bom te ver, tio. - Sorrio tímida. Me afasto do abraço ao ver Jonathan correr até mim, pulando de dois em dois os degrais da escada.
- AISHA! - Ele grita.
- JONATHAN! - Grito de volta. Nossos corpos se chocam e ele cai em cima de mim. Me levanto com dificuldade e o ajudo a levantar, mas quando estamos de pé ele me abraça novamente.
- O que você está fazendo aqui? - Ele pergunta, com brilho nos olhos.
- Aisha? - Ouço a voz de minha tia descendo as escadas. Ela está impecável, como sempre. Seus cabelos loiros estão presos em um coque perfeito, sua pele está perfeitamente maquiada, sem nenhuma parte limpa, e sua postura está correta, revelando a intimidação que quando era pequena me fazia ficar tensa sempre que a via. Hoje percebo que ela apenas finje ser essa mulher fria e controladora, que por trás há uma grande alma e um imenso coração.
- Tia. - Abraço ela apertado.
- Você está indo para algum lugar? - Meu tio pergunta, olhando para o carro atrás de mim. Meu olhar para em Jonathan e em sua expressão confusa.
- Sim, estou indo em uma viagem de negócios, tio.
- Mas você não...
- É muito bom ver vocês, mas só vim para dar um oi. - Interrompo Jonathan. Todos parecem surpresos.
- O quê? Como assim? - Meu tio pergunta, parecendo triste. Nesse momento me arrependo de não vir visitá-los de vez em quando. São sempre eles que aparecem em minha casa, e quase nunca fico lá com eles.
- Tenho que voltar, preciso...
- ...trabalhar. - Jonathan termina minha frase, com o completo contrário de sua alegria de alguns segundos atrás.
- Mas eu voltarei. - Seu rosto se ilumina de novo, assim como o de meus tios.
- Quando? - Minha tia pergunta, mostrando a curiosidade em seus olhos.
- Não sei. Espero que em breve. - Digo com sinceridade. Não sei se vou poder vir com toda a missão de proteger a identidade da Natasha, mas não quero que fiquem me esperando por muito tempo, como já aconteceu milhares de vezes, por causa do meu trabalho.
- Dá próxima vez, traga o Ben. - Arregalo os olhos para Jonathan, que está sorrindo como um bobo. Acho melhor não contar o "oi" que o próprio mandou para ele, para não continuar com a conversa. Respiro fundo e o ignoro.
- Ben? - Minha tia pergunta. Ah não, la vamos nós...
- Ben é aquele rapaz que trabalha com você? - Meu tio diz, claramente confuso.
- Não importa. - Tento trocar de assunto. - Realmente preciso ir, mas prometo que irei voltar. - Digo mais para mim mesma que para eles.
- Vê se não demora. - Jonathan me dá mais um abraço, mais apertado que o último. - Amo você. - Abraço ele também. Logo meus tios se juntam a nós e o abraço fica maior e mais apertado.
- Voltarei logo. - Saio sem olhar para trás, já sentindo as lágrimas vindo. Quando entro no carro, olho para a casa e vejo que eles ainda estão lá, acenando para mim. Só agora que percebo que ando muito mais preocupada com meu trabalho do que com minha família a tempo demais.
Preciso terminar com isso logo. Preciso acabar com os vigilantes. Preciso voltar para a minha família.

Flashback
New York, 21 de março de 2016

Escuto o barulho de uma máquina e tento despertar, mas meus olhos estão extremamente pesados.
- Oi Aisha - Escuto uma voz masculina sussurrando perto de mim e logo sinto um aperto em minha mão.
- Oi - Digo sonolenta, desta vez conseguindo abrir os olhos. Assim que me acostumo com a claridade, vejo os familiares olhos azuis de Jonathan e dou um sorriso - O que aconteceu? Quanto tempo eu estou aqui? - Porém no mesmo instante que pergunto eu me lembro. O cyberterrorista. O Presidente. As pessoas mascaradas. A Fuga. E então, tudo preto.
- Faz um dia só e eu não sei muito bem como aconteceu , mas o Will disse que você estava saindo do escritório quando a confusão na estação de trem começou. E você acabou por cair com a população em pânico e as pessoas passaram por cima de você - não pude deixar de notar o vinco de preocupação em sua testa e eu sabia que quando estivesse em casa, ele me questionaria sobre isso. Não é a primeira vez que vou para o hospital com uma desculpa assim.
- Espera, o Will está aqui no hospital também? Ele está bem? - Pergunto preocupada com a possibilidade dele ter se machucado.
- Ele está aqui e está bem.
- Ufa - Digo fechando os olhos e relaxando imediatamente. Quando abro novamente vejo Jonathan com uma pergunta escrita em seus olhos. Respiro bem fundo e me preparo para tentar responder. - Faz logo a pergunta Jonathan, sei que você está se coçando pra falar.
- Ele voltou de vez para NY? Vocês conversaram? Vão reatar? Nós vamos para a Austrália? - Diz ele em um folego só e mesmo sem querer, dou risada. Will e Jonathan sempre foram muito próximos, tinham a relação de irmãos mais do que de cunhados. E quando eu e Will decidimos nos separar, doeu tanto em jonathan quanto em mim.
- Não, Jonathan Thompson. - Digo rindo - A gente se encontrou por acaso. - dou de ombros - Ele também estava na estação de trem. - Digo e o gosto amargo da mentira fica em minha boca.
- Mas não rolou nada mesmo? Uma chama ou sei lá. - Diz ele com uma cara sem vergonha.
- Jonathan, Eu não vou discutir isso com você! - Eu digo e ele quase cai da poltrona, que está ao meu lado, de tanto rir. Porém ele para e me encara com a diversão sumindo aos poucos de seus olhos.
- Aisha, tenho algo pra te contar. - Ele respira fundo. - Ben está aqui também e o caso dele foi mais grave - Meu coração para. - Ele levou um tiro e foi levado para a cirurgia. Porém houve complicações, a bala acertou uma veia importante e, por conta do trânsito, ele demorou ir para sala de cirurgia. - Ele olha pra baixo. - Parece que ele teve uma hemorragia. A cirurgia acabou faz algumas horas... - E então eu não escuto mais nada. Tiro a agulha do soro em meu braço e começo a me levantar.- Aonde você pensa que vai?
- Eu preciso vê-lo! - Digo levantando tão rápido que chego a ficar tonta por um momento, mas não deixo que isso me abale. - Qual quarto ele está?
- Você não pode fazer isso!- Jonathan me segura pelos ombros. Droga! Quando foi que ele ficou maior que eu?
- Eu posso e eu vou. - Digo encarando seus olhos. - E se você não me soltar agora eu vou deixar você sem a banda por um mês.
- Você não ousaria!
- Você é menor de idade e eu sou sua tutelar. Eu posso te proibir de muitas coisas. - Vejo que ele está com muita raiva, mas sei que ele não vai me contradizer. - Qual. Quarto. Ele. Está?- Jonathan respira fundo e me solta.
- Quarto 403. - O tom de derrota é evidente em sua voz.
- Obrigada. - Digo dando um abraço rápido nele e saindo pela porta.

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