Gjensynsglede: (n) Norueguês. A alegria de encontrar alguém que você não vê há anos.
15 anos de saudade se materializaram nos meus olhos quando a vi.
Não lembrava o quanto era capaz de sentir, até vê-la novamente.
Seu perfume segue impregnado nas roupas que ela deixou para trás quando se foi e que eu guardei numa tentativa de mantê-la por perto. Os anos não amenizaram a minha dor, como era de se esperar. Só acentuaram essa sensação insuportável de ardência no peito e impotência. Estruturei meu mundo ao seu redor e quando ela se foi, saí da órbita. Nunca mais me alinhei de maneira apropriada. Não fui capaz de dar 1 volta completa em torno de mim, porque me afundei por dentro. Agora, a gravidade parecia estar voltando a exercer sua força.
Ela não sabia a que vinha e seus olhos deixavam transparecer bem sua confusão. Estávamos ambas com a guarda elevada. Dois muros imponentes, dispostos no que parecia ser uma viela, dada a proximidade que nos encontrávamos. Não ousei falar, porque da última vez, ela me deixou com as palavras presas e vê-la novamente não as fizeram sair... pelo contrário.
- Oi, Fan...tine. – Ela hesitou um pouco.
Era exatamente por isso que eu estava indo ficar com a Kikish. Queria evitar um primeiro contato tão desconfortável, mas ela, mais uma vez, aparecera inocente no meu caminho. A insegurança não lhe vestia bem, mas no presente momento, era a única roupa que lhe cabia. Resolvi não pesar mais a situação.
- Oi, Lu! – Sorri timidamente, tentando deixa-la mais à vontade. – Quanto tempo! – A peguei de surpresa, puxando-a para um abraço.
Os segundos iniciais foram de dormência. Acho que foi informação demais para o meu cérebro captar e redistribuir ao corpo. Eu não sabia qual a intensidade certa que se espera de um abraço, e como não conseguia sentir meus membros superiores, procurei ser o mais sincera possível. Tentei alcançar um meio termo entre "tão frouxo que ela corre o risco de cair" e "tão apertado que eu corro o risco de quebrá-la". O perfume das roupas que eu guardara continuava ali e foi o responsável por acordar vagarosamente os meus sentidos. Não tardou muito para que Tiago aparecesse, impedindo que eu me demorasse naqueles braços mais do que deveria. E eu o agradeci, mentalmente, pois não saberia como cortar esse reencontro sem ficar desconcertada.
Ele resolveu mostrar a casa para Luciana e eu disse que ia dar uma olhada em Christine no quarto e logo me juntaria a eles e às outras meninas na varanda.
Luciana POV
- Luciana, você não mudou nada! – Aline veio receptiva em minha direção, quebrando o gelo.
- Que bom que você veio! – Karin exclamou, enquanto me abraçava.
- Oi. Tudo bem? – Patrícia (ou seria Lissah?) me cumprimentou mais tímida.
Nós não nos víamos há alguns anos e eu tinha medo do que aconteceria quando o reencontro ocorresse. Antes, a despedida não fora tão amigável. Na época da minha saída, por mais doloroso que fosse, me vi obrigada a não olhar para trás, numa tentativa de não tornar mais difícil a decisão e com isso, sei que magoei quem não merecia. Durante nosso afastamento, só viemos a ter certo tipo de contato na tentativa inicial da volta em 2012, e o contato não havia sido feito por vontade delas. Eu estava lutando com algumas coisas da vida e não achei que fosse o momento de reinseri-las, correndo o risco de perde-las como na primeira vez, mas também assumo que a pitada de orgulho que ainda me restava serviu para que eu analisasse friamente a situação e recusasse o convite feito. Infelizmente, só vi a distância que nos separava aumentar. Acabei entendendo que talvez a hora certa não chegasse nunca, que esse capítulo ficaria em aberto ou que já tinha acabado e eu só precisava aceitar essa condição. Felizmente, surgiu uma segunda chance dos nossos caminhos se cruzarem e, dessa vez, me agarrei à oportunidade com as forças que ainda me restavam. Eu sentia que elas seriam a resposta para o meu grito silencioso de socorro.
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Ramé
FanfictionRamé: (n) Libanês. Algo caótico e alegre ao mesmo tempo. "- Fanta... Ela tentou explicar, mas faltaram-lhe as palavras. Saíram pelos olhos. E se formou um dicionário em suas mãos. Éramos como dois barcos que navegávamos para rumos diferentes a ca...