Mokita

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Mokita: (n) Kivila. Aquela verdade que todos conhecem, mas não se atrevem a falar sobre.

   Não demorou muito para que o C'est la Vie parasse nas prateleiras das melhores lojas brasileiras de entretenimento. Tínhamos aderido a um novo conceito para essa segunda era: super-heroínas. E vendíamos como água. Era extremamente gratificante enxergar nos olhos de milhares de crianças e adolescentes a admiração e o amor pelo nosso trabalho, ainda mais em um momento em que as coisas começavam a andar para trás, de certo modo, para mim.

   Depois daquele penúltimo dia no estúdio, eu parecia estar voltando ao eixo. Passei a noite toda com Luciana, enquanto ela me contava da briga feia que tinha tido com "aquele que não deveria ser nomeado" antes de ir ficar com os pais em Varginha. Eu via que em alguns momentos, principalmente de dúvidas, ela tentava segurar o choro e eu fazia de tudo para confortá-la, ainda que não soubesse muito bem como. Era péssimo ter que ouvi-la abrindo seu coração, quando eu sabia que não estava nele. Ou, pelo menos, não do jeito que eu queria. Aquele dia, depois que terminei de tocar a minha música, eu senti que alguma coisa mudou no ambiente, mas não dei tempo suficiente para que essa mudança se instalasse. Eu precisava descobrir primeiro o que acontecia comigo e, o estúdio, não era um bom lugar para cair em si. Assim que tive a oportunidade, fui para o hotel.

- Fantine, você tá aí? – A ouvi me chamando do outro lado da porta.

- Só um minuto. – Deixei a garrafa de vinho de lado, levantei da cama sem muita vontade e fui atendê-la.

- Posso entrar? – Ela perguntou e eu dei espaço.

- Bom, a que devo a honra? – Brinquei.

- Você saiu do estúdio apressada, com uma cara esquisita. Vim ver se você está bem. – Ela franziu o cenho, preocupada.

- Tá tudo certo, só estava um pouco cansada...

- Ah... Eu queria te parabenizar pela música também. É bastante boa... – Ela sentou na cama. – Você vai me contar quem serviu de inspiração? – Ela riu, sapeca.

- Você quer saber mesmo? – A encarei séria.

- Claro. Por que não? – Ela desviou o olhar.

- Você. – Dependendo da reação dela, eu poderia culpar a bebida.

- Hein?! – Ela parecia confusa.

- Brincadeira. – Desconversei. – Mas, me conta, como estão você e o Leo? – Sentei ao seu lado e ofereci o vinho.

   Nessa conversa pode ser que tenham acontecido coisas a mais, mas eu não tenho a memória do que se passou. É tudo um grande borrão. Minha próxima recordação clara é acordar no dia seguinte, atrasada para o último dia no estúdio, com dor de cabeça e algumas garrafas, que eu não lembrava ter guardadas, espalhadas vazias pelo chão.

   Com o passar dos dias, continuei acompanhando de fora a narrativa da história dela, tentava fazê-la enxergar que muitas coisas estavam erradas, mas alguns dias não eram capazes de minar 6 anos. Aguentei na sombra por algum tempo, mas existem coisas que sufocam a ponto de paralisar. Uma delas é ver alguém que você gosta presa em uma situação que não lhe faz bem e você não pode fazer nada para ajudar, porque já tentou de tudo em vão.

   A festa de um ano de formação do grupo foi o meu limite. Passamos o tempo todo juntas, sob olhares curiosos dos nossos amigos e familiares que não víamos há algum tempo e estavam presentes e sob as lentes da imprensa, que esperava avidamente por algum furo de reportagem. Apesar de tudo, estávamos à vontade, brincando na piscina de bolinhas, "brigando" no meio do futebol de sabão... até mesmo na hora de cortar o bolo, fizemos uma guerrinha particular de chantilly. Leonardo de vez em quando a puxava para um canto e parecia reprimi-la como se ela fosse uma garotinha pequena. Isso foi, aos poucos, esgotando a paciência dela, mas eu estava fazendo um bom trabalho em animá-la. No fim da festa, quando quase todos já tinham ido embora, me despedi dos poucos que ainda estavam ali e fui atrás dela. De longe, avistei Leonardo gesticulando de maneira exagerada e percebi que o clima não estava dos melhores entre os dois.

RaméOnde histórias criam vida. Descubra agora