Ethereal

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Ethereal: (adj.) Luz extremamente delicada. Não é desse mundo.

Fantine POV

   Luciana voltou diferente dessa semana de férias. Não sei explicar bem em que aspecto, mas ela parecia ter uma aura mais leve. Estava 100% ali presente. Ainda não tínhamos tido tempo de sentar e conversar. Eu não sabia a quantas andava seu relacionamento, mas acho que também não queria saber. Nesses últimos dias, percebi que senti falta dela. De ficar perto, de aconselhar, de abraçar... Mas não senti falta de ouvi-la falar do outro. E preferia continuar assim, pelo menos por enquanto. Pelo menos enquanto passávamos por esse processo de gravação do novo CD.

   Depois de algumas horas em estúdio, começávamos a dar o primeiro sinal de cansaço, por isso resolvemos fazer um intervalo de alguns minutos. Nesse receio de ouvi-la falar do Leonardo, acabei grudando na Aline, de modo que não tivéssemos nenhum momento a sós. E não sei se ela percebeu, mas pelo resto do dia, não dirigiu a palavra a mim. Não era o que eu queria, mas, aparentemente, tínhamos esfriado de novo. Enquanto não afetasse o lado profissional, eu saberia levar.

   Nos dois dias que se seguiram, nossa rotina se repetiu. Aline chegou a perguntar o que tinha acontecido, porque me via desconfortável em alguns momentos perante Luciana, mas eu desmentia, dizendo que estava tudo como sempre foi, que não passava nada. Eu a via de segredinhos com a Paty e morria de vontade de descobri-los, mas Luciana parecia ter entendido a minha postura e seguíamos nesse jogo de "quem é mais indiferente". No penúltimo dia, no entanto, dei de cara com ela, quando saía do banheiro. Nessas condições, não pudemos evitar trocar meia dúzia de palavras. Luciana me empurrou para dentro e fechou a porta atrás de nós duas. Não sei o que ela pretendia, mas estava curiosa.

- Eu precisava falar com você mesmo. – Ela começou.

- Diga.

- A gente pode continuar nessa ignorância ou você pode me explicar o que aconteceu. – Ela indagou acusativa.

- Como assim? – Me fiz de besta.

- Não começa! Antes do nosso recesso, você vivia no meu quarto e agora não quer nem olhar na minha cara.

- Ué, não aconteceu nada. – Menti. - Você também não falou comigo. – Tentei jogar a culpa para o outro lado. – Achei que fosse um acordo silencioso.

- Pois bem, da minha parte não tem acordo nenhum. – Rebateu. – Podemos voltar a conversar como duas amigas que somos?

- Por mim... – Dei de ombros.

- Ótimo! Eu e Leo estamos em crise. – Ela soltou, aliviada. – Eu tava querendo te contar isso...

   Eu não ouvi o que veio depois, porque estava processando a última informação, mas percebi que ela me encarava, esperando que eu falasse alguma coisa. Desviei o assunto, dizendo que tínhamos que voltar ou os outros sentiriam nossa falta, depois conversaríamos melhor. Ela concordou e saímos as duas dali. Encontramos Aline no meio do caminho. Ela vinha à nossa procura e estranhou estarmos saindo juntas de um banheiro único, mas tentou não deixar transparecer. Mesmo que perguntasse, não tinha acontecido nada. Uma pena.

   Gravamos mais algumas vozes e ainda faltavam 3 músicas para fecharmos o CD. Os produtores perguntaram se tínhamos alguma composição ou ideia para essas faixas que faltavam, resolvi mostrar uma composição minha. A tinha finalizado recentemente. Falava basicamente sobre não querer ficar longe da pessoa, porque com ela tudo é mais fácil, mas ao mesmo tempo, a pessoa não se decide e acha que a distância não tem muito problema. Só que isso não faz sentido nenhum para quem está apaixonado.

- Ainda não decidi o nome, mas, provisoriamente, tô chamando de "Um Dia Sem Você"... - Comecei a dedilhar o violão.

   Eu sei que ela não olhava para mim só por ser eu, entende? Ela acompanhava o caminho que meus dedos trilhavam naquelas seis cordas de náilon. E parecia tão confortável. Não existia produção, câmera, equipe, nada nem ninguém que atrapalhasse sua tranquilidade e força. Foi aos poucos que me dei conta de que não prestava mais atenção no que acontecia ao redor. Meu foco estava em outro lugar e tinha direção única.

   Algumas pessoas demoram a sentir esse "click". Esse momento em que tudo muda, porque você foi capaz de enxergar por outro ponto de vista. O momento em que a realidade se confunde e passa a exigir mais.

   De acordo com a fisiologia, quando uma pessoa se apaixona, ela tende a ter maior liberação de dopamina e endorfina em certas partes do cérebro. Estas vão estimular o sistema de recompensa, responsável pelo prazer. Também temos aumento de feniletilamina, noradrenalina, ocitocina, vasopressina, dentre outros hormônios que induzem as alterações físicas, como o aumento da frequência cardíaca e blá blá blá. Confesso que nunca entendi de fato o que acontece, mas, se me perguntassem, eu responderia, com a certeza de quem já lidou com isso, que se apaixonar diz respeito ao momento em que tudo e todas as coisas passam a fazer sentido. E não é porque certa pessoa guarda com ela as respostas do mundo, mas sim porque a partir dessa nova realidade, você ressignificou todas as suas perguntas.

"Passa mais um dia sem ter o que fazer / Nada é mais igual e ainda quero ter você / Não diga que quer que tudo seja assim / Que tá tudo bem, mesmo longe de mim."

Para se apaixonar não é necessário mais do que um segundo.

"Se é tudo tão fácil quando é com você / Se é tudo mais claro, quando posso te ver? / Decida o que quer sem perguntar por quê."

Click.

"Não faz sentido, não faz... viver sem ter você / Não faz sentido, não faz... você longe de mim."

Eu ressignifiquei as minhas perguntas.



*********

  Gente, mil desculpas pelo capítulo curtinho, mas esse final de semana foi uma loucura com show das meninas aqui no RJ e tudo o mais. Eu só tenho mais um cap escrito além desse, por enquanto, e semana que vem tenho duas provas. Então, provavelmente, ficarei uns diazinhos sem postar (a não ser que eu arranje tempo). Mas tentarei fazer caps mais longos, assim que eu puder. 

Bisous :*

RaméOnde histórias criam vida. Descubra agora