Wei wu wei: (n) Chinês. "ação sem ação"; decisão deliberada de fazer nada, por uma razão em particular.
Eu não soube o que responder. Luciana sabia me deixar desconcertada quando queria. Desde a casa do Tiago, eu ainda não havia parado para avaliar o peso que o reencontro tinha tido em mim. Estava tão envolvida no projeto, que acabei ligando o automático e me deixando um pouco de lado. A mensagem dela, no entanto, me fez lidar com alguns fantasmas.
Desde que Luciana se foi, me agarrei mais ao meu violão e passei a escrever obsessivamente. Não sabia ao certo o que escrevia: músicas, frases, poemas, cartas... só sei que precisava colocar para fora tudo isso. Com os meses, fui ficando mais leve, fui me conformando com essa nova condição de não tê-la mais no meu dia a dia, fui conhecendo novas pessoas que me ajudaram, de certa forma, nesse processo de cura. O Well fora uma dessas pessoas. Ele era nosso segurança e acho que pela postura protetora que lhe impunha a profissão, passei a encontrar conforto nele. Acabamos criando um infinito particular e me deixei envolver completamente. Foi por volta dessa época que escrevi a última das coisas da "coletânea Luciana". Era um texto que eu pretendia transformar em música em algum momento, mas nunca cheguei a o fazer. Acho que saber que era o último me incitava a pensar que dessa vez seria o fim definitivo, que eu arrastara por um ano já, e, mesmo sabendo que era isso que eu almejava, algo em mim ainda não estava pronto para executar.
Já não dói como antes, mas o sentimento continua aqui. Está adormecido. Escondido em algum lugar. Esperando, provavelmente, o dia em que possa despertar.
Já não sinto sua falta como antes, mas o vazio continua aqui. Intacto. Esperando o dia em que possa voltar a ser preenchido.
Já não sinto sua falta como antes, mas o sonho continua aqui. Enfraquecido. Esperando um outro alguém para preencher nele o seu lugar.
Não sei se o que sinto é saudade. Saudades da imagem que eu tinha de você. Saudades do que eu era. Saudades da personificação do "nós".
Mas chegou uma hora em que nós nos perdemos. Perdemos a direção. Perdemos a conexão. Você veio em contramão e me atropelou. Me atropelou e me deixou ali. Estatelada. Nenhuma ajuda ousou oferecer. Nenhum mísero pedido de desculpas. Nenhuma explicação. Agonizei por dias. Quiçá, meses. Me perdi no tempo. Me perdi em pensamentos. Perdi meus sentimentos.
Chegaram a dizer que eu pegaria uma gripe por causa do gelo que existia dentro de mim. Fui chamada de insensível. Insensível?! Logo eu que senti tanto por alguém e acabei sem ninguém. Sem reação. Sem escolha.
Agora já faz quase um ano que não tenho contato contigo. Soube outro dia por um de nossos amigos em comum que você também não estava feliz. Naquela época, a escolha foi sua. Eu estava nas suas mãos. Confesso que surgiu uma esperança vinda de algum lugar. Mas a arranquei da melhor maneira que pude. Porque hoje, quem escolhe sou eu.
O que posso afirmar é que o tempo amenizou muitas coisas. Que a floresta que existia dentro de mim foi desmatada. As borboletas que por ali passeavam toda vez que te via foram caçadas. Os pássaros que faziam nossa trilha sonora se calaram. As cachoeiras, que apareceram constantemente depois do fim, secaram.
Secou. Cessou. Acabou.
Sim, eu sabia de cor. O deixei guardado e o revisitava de vez em quando, com outras perspectivas, pensando que conseguiria transforma-lo, mas não.
Quando escrevi Pra Sempre Te Amar, eu realmente não estava pensando nela, ou achava que não. Tinha começado um relacionamento com o Well, dando uma pausa na minha longa lista de conquistas, e não fazia questão de escondê-lo, muito pelo contrário. Inúmeras foram as vezes em que, envergonhada, admiti que a música era para ele. Mas agora, com a mensagem de Luciana, percebi que não fazia sentido todo o discurso de "dói ter que esperar" e tudo o mais ser direcionado ao Well, porque ele estava sempre comigo. Preso nessa reflexão, ficou meu sono. Quando dei por mim, o sol já nascia do lado de fora e logo estaríamos todas reunidas novamente. E eu não havia chegado à nenhuma conclusão.
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- A noite foi boa, hein, amiga? – Aline me cumprimentou.
- Hã? – Eu ainda estava um pouco lenta.
- Pela sua cara de sono, dá pra perceber que não dormiu nada...
Sorri, sem graça. Melhor ela pensar que eu tinha terminado a noite com alguém do que sozinha, refletindo sobre Luciana. Já podia imaginar o sermão que levaria, caso Aline descobrisse.
Estranhamente, o dia transcorreu sem que Luciana comentasse sobre a mensagem da noite anterior. Ela estava igualmente receptiva, mas nada além disso. E, com esse comportamento, eu não entendia se ela ainda esperava a minha resposta que nunca chegou ou se a falta da mesma já a tinha respondido de maneira positiva. Para piorar a minha dúvida, Para Sempre Te Amar não foi escolhida para compor o repertório, portanto, qualquer tentativa de iniciar uma conversa a partir do ensaio da mesma já estava descartada. E a tudo isso, podemos somar o ritmo intenso de trabalho que estava se acumulando sobre nós naquele momento, não deixando rastro de tempo livre para jogar conversa fora ou pensar em reviver assuntos do passado. Acho que, no final das contas, foi melhor assim, pelo menos até que passasse o primeiro par de shows.
A loucura daquelas duas semanas de preparo se acentuou quando aterrissamos no Rio de Janeiro. Até esse momento, por mais que tivéssemos ensaiado exaustivamente, acho que nenhuma de nós éramos de fato conscientes do que aquele show significava. E, preciso confessar que demorou muito para assimilar a quantidade de gente que tinha vindo nos ver. Se nos emocionamos com a simples passagem de som, fica até difícil descrever o sentimento quando as cortinas caíram oficialmente e todos os gritos ecoaram pelo Vivo Rio. Nesse mesmo dia, enquanto ainda estávamos na maquiagem, recebi outra mensagem de Luciana, que estava no camarim ao lado.
"Você não sabe o tamanho da minha felicidade e gratidão por podermos compartilhar o palco mais uma vez. Obrigada por ter me aceitado de volta, de braços abertos e sorriso no rosto... que, diga-se de passagem, é lindo! 😋" – De fato, um lindo sorriso apareceu no meu rosto depois de ler.
Mais uma vez, não respondi. Eu juro que não queria deixa-la sem resposta, mas seguir seu jogo, nesse momento, seria como abrir uma caixinha esquecida no lado emocional do meu cérebro, bem lá no fundo, trazendo à tona não só a parte agradável da paquera, mas também o que não me apetecia reviver. Lembrar de tudo era como experimentar um sabor agridoce de saudade. Eu queria brincar com o fogo, mas esse não era o melhor momento para me queimar. Ao menos, não enquanto tínhamos 4000 pessoas esperando lá fora pela magia do reencontro.
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Oi, gente, rs!
Quanto tempo, hehehe.
Então, sinto que devo uma explicação pra vocês e, de antemão, já peço desculpas pelo abandono. Eu tinha pensado, de fato, em não terminar essa fic, porque eu parei de shippar elas duas e perdi real a inspiração, além disso, sempre que eu pensava em voltar, não conseguia escrever absolutamente nada e não estava com tempo para me forçar por causa da faculdade. Aí começou o desleixo da produção com o grupo, a falta de vontade evidente de prepararem um projeto digno de artistas e fui me desanimando com as coisas relacionadas às meninas. Pra completar, comecei a acompanhar um reality espanhol que tinha um ship maravilhoso que consumiu minha vida nos últimos 3 meses de 2018 (beijos pras albalias, se tiver alguma por aqui, tamo junto ;*), aí ficou difícil mesmo de voltar aqui. Porém, por incrível que pareça, meu ship do reality espanhol, de certa forma, acabou me reacendendo a imaginação, devido à quantidade de fics que li delas duas (sigo shook que superaram camren em número de fics). Voltei a precisar da escrita pra me desafogar e com isso quero dizer que pretendo terminar essa fic. yaaaay \o/ hehehehe.
Mas, antes que me perguntem, não tenho nenhum capítulo pronto além desse, só tenho a ideia do que escrever no próximo. Como estou de férias, acredito que não vou demorar muito pra att (prometo que não chego a 8 meses de novo). Só tenho uma pergunta pra vocês: no caso de passar um momento mais quente, digamos, vocês querem a cena descrita completa (mas poeticamente, pq tenho vergonha) ou só que deixe a entender que rolou?
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Ramé
FanfictionRamé: (n) Libanês. Algo caótico e alegre ao mesmo tempo. "- Fanta... Ela tentou explicar, mas faltaram-lhe as palavras. Saíram pelos olhos. E se formou um dicionário em suas mãos. Éramos como dois barcos que navegávamos para rumos diferentes a ca...