Meraki: (v.) Grego. Fazer algo com a alma, criatividade ou amor; quando você deixa um pedaço de si no seu trabalho.
No dia seguinte ao encontro na casa do Tiago, Pablo me mandou todas as informações do show e o contrato. Apesar da conversa que tínhamos tido, resolvi mandar uma mensagem para cada uma das quatro meninas, perguntando se elas estavam de acordo e se não seria um incômodo a minha volta. Para a minha alegria, todas responderam positivamente, mas eu ainda demorei um pouco para assinar, pois precisava conversar com o Leonardo. Afinal de contas, mudaria a logística da casa por algumas semanas.
Começamos a namorar em 1997 e, como todo início de relacionamento, tudo parecia um mar de rosas. Éramos ambos de cidades pequenas de Minas e tínhamos vindo para São Paulo, tentar ganhar a cidade grande. Por estarmos longe das nossas famílias, acho que acabei o transformando num pilar necessário, num ponto de apoio. Quando surgiu a seletiva para o Popstars, compartilhei que estava pensando em me inscrever e ele não se opôs, mas também não manifestou a empolgação que eu esperava. Ele dizia que estava torcendo por mim, mas, lá no fundo, eu sabia que ele não era a favor da maioria das minhas escolhas. À medida que eu ia avançando no concurso, nos víamos cada vez menos até que chegou ao ponto de não termos mais contatos externos. Passei a focar completamente na minha realidade naquele momento, o workshop, e estreitei laços com as outras meninas.
A cada eliminação ficava mais complicado saber quem seriam as escolhidas. Na minha cabeça, eu já tinha algumas preferências e as expus, quando tivemos que montar a nossa ideia de banda, a pedido da produção. Patrícia, Aline, Karin, eu e Perlle. Acho que harmonizaríamos muito bem e a convivência com elas não era difícil. Para a minha surpresa, quando voltamos da viagem ao Uruguai, Perlle resolveu desistir do programa. Disse que não estava conseguindo se encontrar no estilo que o grupo parecia estar tomando, preferia continuar com seu jeito voz e violão. Essa foi a primeira vez que parei para pensar sobre isso. A minha praia era o rock e a mpb, mas o pop parecia estar ganhando seu lugar.
Na última fase do programa, restávamos oito vivendo em uma mesma casa. A maior parte do tempo era como estar presa em uma eterna noite do pijama com as amigas, pura diversão. Mas, às vezes, rolavam uns choques. Eu e Fantine éramos as campeãs nesse quesito. Ora com as outras meninas, ora entre nós duas. Éramos parecidas demais e quando se tratava de questões profissionais, sempre queríamos fazer valer nossas opiniões. Acho que nutríamos uma admiração mútua, mas nunca soubemos lidar muito bem com isso e acabávamos entrando na defensiva.
No dia da tão temida decisão final, pudemos encontrar nossas famílias. E o Léo estava lá. Fiquei feliz em vê-lo, não vou mentir. Senti algo diferente nele. Não soube explicar muito bem o que era na hora e só comecei a entender bem depois.
Voltamos para a casa POP, as cinco, e por lá ficamos mais alguns dias antes de começarmos de fato a fazermos os shows. Acho que nesse ponto eu posso dizer que já amava as meninas. Tínhamos uma força juntas que era inexplicável! Mal sabia eu que esses eram os momentos de paz antes da tempestade.
Quando iniciamos a turnê pelo Brasil, comecei a ter problemas no meu relacionamento. Tentávamos nos falar por telefone todos os dias, mas, às vezes, eu chegava exausta das viagens e caía morta na cama. A ligação seguinte começava sempre com uma discussão do "por que eu não tinha ligado no dia anterior", onde ele jogava na minha cara que estava se sentindo abandonado, como se fosse escolha e culpa minha.
- Luciana, eu fiquei até tarde ontem esperando você ligar e nada. Você acha que tá certo isso? – Ele resmungou.
- Ai, Léo. – Revirei os olhos - Eu já te falei diversas vezes que o trabalho tá puxado e o cansaço tá sendo mais forte que eu.
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Ramé
FanfictionRamé: (n) Libanês. Algo caótico e alegre ao mesmo tempo. "- Fanta... Ela tentou explicar, mas faltaram-lhe as palavras. Saíram pelos olhos. E se formou um dicionário em suas mãos. Éramos como dois barcos que navegávamos para rumos diferentes a ca...