Hanyauku: (v) Rukwangali. Andar na ponta dos pés sobre areia quente.
Eu pensava que sair do grupo seria a melhor solução para os problemas que tinha adquirido até então. Mas isso foi apenas a ponta do iceberg que bateu o Titanic. Entrei em um período complicado, com raríssimas ajudas disponíveis. Na verdade, eu parecia não querer muito me ajudar e a pessoa mais próxima de mim também não se importava com o meu estado. Não fazia diferença naquele momento. As poucos perspectivas que eu tinha para o futuro, diminuíam com o passar dos dias. Confesso que, por inúmeras vezes, quase desisti, mas a minha fé me segurou e me guiou para a reconstrução da minha força. Comecei a encontrar alegria na música novamente e todo o resto foi se alinhando como deveria ser desde o início. Dei aulas de inglês; transitei por algumas bandas, das quais guardo boas lembranças e nas quais fiz grandes amigos; gravei alguns jingles; fiz backing para alguns cantores... Assim se passaram alguns anos. E confesso que diversas foram as vezes que imaginei como teria sido se lá atrás eu tivesse optado pelo rumo incerto ao lado dela.
Com a tentativa inicial da volta do Rouge em 2012, eu e Leonardo voltamos a dar atrito. Apesar da minha recusa ao projeto, acho que ele não conseguia suportar nem a ideia de me ver novamente com as meninas num palco. Tivemos inúmeras discussões que só se agravavam e eu confesso que cheguei a ficar assustada em algumas delas. Dizem que toda história de amor acaba virando tragédia, se você tiver tempo o suficiente para vive-la. Eu estava começando a comprovar essa teoria.
Foi nessa época que passei a considerar o divórcio. Comecei a pesar os prós e contras da nossa relação, passei a somar cada mínimo detalhe que antes me escapava, cada mania idiota que antes eu ignorava. Fui me armando de argumentos e justificativas plausíveis. Mas o que me impulsionou a compartilhar essa intenção com Leonardo foram os sinais que Ela começou a dar por volta de 2015 de que, talvez, houvesse me perdoado. Ainda assim, demorei um pouco para tomar coragem, mas, em uma conversa sincera, acabei por compartilhar com ele que eu queria me separar. Acho que acabou tendo o efeito contrário ao que eu esperava e acabou servindo de alerta para que ele revisse seu comportamento, porque dali em diante parecia que tínhamos resetado nossa história. Parecia que à lá The Scientist tínhamos voltado ao começo. E eu me permiti acreditar de novo que dessa vez seria distinto. Mas nenhuma mentira dura para sempre, por quê com essa seria diferente? As brigas voltaram tão rápido quanto tinham desaparecido. Numa tentativa idiota de amenizá-las e nos consertar, pensamos em ter filhos. Mas não deu certo. Que criança gostaria de ser concebida no inferno que estava se tornando a nossa convivência?
No início de 2016, fui surpreendida por um burburinho na internet. Por volta de fevereiro, abri o twitter e me deparei com Rouge nos assuntos mais comentados da rede. Estranhei, afinal de contas, desde a tentativa da volta em 2012, nada mais relacionado ao grupo tinha ficado em evidência. Cliquei, curiosa, para descobrir do que se tratava e logo encontrei os vídeos acústicos no que era, aparentemente, a sala da casa da Aline. A princípio, hesitei em vê-los, mas algo me fez dar o play em "O que o amor me faz". Estavam as 4, sob luz de velas, criando um clima acolhedor, tranquilo. Patrícia, Karin e Aline mantinham a sintonia perfeita nas vozes e Fantine, como sempre, junto ao seu violão, dando o toque final na música. Não sei explicar ao certo o que senti ao ver esse registro, mas lembro de uma saudade desmedida e um amor que não tinha consciência de que ainda estava guardado em tamanha proporção. Confesso que nos dias que se seguiram, imaginei diversas vezes como seria pertencer de novo, como seria trilhar novos caminhos juntas. Me vi tentada a fazer contato, a dar o primeiro passo dessa vez, mas o destino me reservava outro rumo.
Lá para o meio do ano, o mundo parecia estar desabando em cima de mim novamente. A coragem que eu estava adquirindo nos últimos tempos para sair de casa de vez se esvaiu por completo com o diagnóstico da mamãe. Câncer. Você sempre ouve falar, mas nunca acha que vai acometer alguém próximo e de repente, PLUFT!, doente. A possibilidade da perda era o que mais me aterrorizava. Saber dessa possibilidade, na verdade, é a pior parte em diagnósticos do tipo. Você passa a viver, inconscientemente, as 5 fases do luto, mas se apega à incerteza do final. A vontade de fazer alguma coisa, o desejo de tomar para mim o sofrimento dela, a esperança, ainda que pequena, de que tudo ficasse bem... tudo foi convergindo para mais um looping emocional. Ver a pessoa que você mais ama na vida ir embora aos poucos, sem que você possa fazer nada para mudar a situação é uma das maiores dores que já senti. Mas eu tentei ser forte junto dela até o fim, eu tentei fazer com que a sua última memória de mim fosse a da garotinha que a alegrava com suas cantorias e vivia sonhadora por aí.
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Ramé
FanfictionRamé: (n) Libanês. Algo caótico e alegre ao mesmo tempo. "- Fanta... Ela tentou explicar, mas faltaram-lhe as palavras. Saíram pelos olhos. E se formou um dicionário em suas mãos. Éramos como dois barcos que navegávamos para rumos diferentes a ca...