I was born sick, but I love it
2009. São Paulo. SP.
12 de setembro.
A plenitude e a calmaria que um beijo pode trazer me impressiona. Um toque tão simples, tão delicado. Consegue nos encantar com sua paz, mas consegue acelerar nossas batidas cardíacas. Faz com que nossa mente se aquiete, em contrapartida faz com que todo seu corpo se arrepie. Principalmente quando o que está fazendo é considerado "errado".
Após meu primeiro beijo com um garoto, tudo pareceu um tranquilizante temporário. As palavras: "família tradicional coreana" voltaram a atormentar minha mente. Descontrole. Beijar Park Jimin foi um erro agridoce. Ao mesmo tempo que seus lábios eram doces, me traziam a sensação amarga de ter beijado uma pessoa do mesmo sexo que eu.
Por mais que meu psicológico me alertasse sobre o perigo que corria ao deliciar-me com a boca do menor, eu só conseguia desfrutar de mais e mais beijos. Era uma necessidade. Eu precisava daquilo. Jiminie continha o sabor viciante e açucarado que fora causado pelo bolo servido anteriormente.
Minha mãe tinha insistido em cantarmos "parabéns" em coreano e português. "Para dar sorte ao meu primogênito!" Sim, tive sorte que o presente do Jimin para mim eram inúmeros beijos e caricias. Tivemos de fugir da mais velha, nos mataria se nos visse tão próximos dentro de sua casa. Estávamos na pracinha em frente à minha casa, eu no balanço vermelho, ele no balanço azul.
Conforme o tempo passava, desejei que os segundos não existissem. Alguns momentos deveriam durar para todo o sempre. Almejei ainda mais que nosso momento juntos fosse infinito quando ouvi a voz aguda da mãe de Jimin. O chamava para se arrumar para a missa. Park morava ao lado de minha casa, que por algum acaso da vida, se localizava na mesma rua de uma igreja muito bem frequentada.
Só pude suspirar e aceitar o fato de que essa seria a última vez que o veria nessa data tão especial. Queria que o mais novo ficasse, ele poderia orar depois. Mas foi falho. Park realmente gostava de frequentar a igreja, ao contrário de mim; e não iria faltar justamente a missa de sábado.
Jiminie se despediu com um abraço apertado, desejando-me tudo de bom e de melhor e muita felicidade. Também me disse que faria o possível para que o meu "presente de aniversário" durasse eternamente.
O vi atravessar a rua e subir as escadas de sua casa, a mãe do menino acenou contente para mim. Lhe mostrei o sorriso menos constrangido que pude lhe dar. Estava envergonhado. Ela me viu agarrado ao filho dela. Ao meu amigo de infância.
Mirei minha atenção em minha casa, alguns convidados permaneciam a comer salgadinhos e elogiar os docinhos de minha mãe. Não queria voltar para lá. Até porque eu não queria essa festa. Meus amigos não estavam na cidade para comemorar essa data comigo, nem meu pai estava na cidade – chegaria esta noite depois de um longo dia trabalhando em um prédio de finanças na Paulista.
Mesmo com a preguiça me dominando e eu querendo desesperadamente ir assistir televisão, ou ir dormir, levantei-me do balanço enferrujado e fui até a garagem de minha casa. Mamãe servia chá a algumas vizinhas, três ou quatro crianças corriam enquanto outras duas comiam doces, as velhinhas conversavam, os meus familiares fofocavam. A única que sorria para mim era minha avó, a morena bebia seu chá enquanto procurava no bolso a sua carteira. Não duvido que o seu presente seja uma linda nota de cinquenta reais.
Antes de me dirigir à ela fui até minha mãe, precisava de sua permissão para poder ficar até tarde ali na pracinha esperando Jimin sair da igreja. Era uma rua perigosa, na verdade, uma cidade perigosa. Mas sei que ali eu poderia ficar em paz, tranquilidade.
Minha mãe permitiu, deixou-me passar as últimas horas de meu aniversário com meu melhor amigo. E por alguns segundos, poucos na verdade, ao ver a mulher morena tão feliz e simpática, eu acreditei que ela aprovaria um filho homossexual. Porém nunca fui um menino de alimentar esperanças, principalmente quanto a minha família.
Após passar alguns minutos com os convidados da festa, eu voltei para o meu balanço vermelho. Suspirei e sorri com a bela imagem que contemplei, uma das criancinhas com sua fralda de bichinhos, desceu as escadas de minha casa, correu até mim com suas perninhas fofinhas e me entregou um chocalho rosa. A coloquei em meu colo, a pequena criança olhou-me nos olhos com um sorriso fofo.
Era mais um daqueles pequenos momentinhos tranquilos e de calmaria. Que infelizmente duram poucos segundos, minutos. Às vezes parecem nem existir. Pelo menos para alguém como eu, que sempre tentou fugir da realidade.
Até então eu nunca tinha valorizado esses segundos tão rápidos que eu conseguia ter com Jimin, com meus amigos ou simplesmente com uma criancinha no meu colo com um chocalho. Porém... É doze de setembro de 2009. A noite em que qualquer mínimo segundo em que meu coração não apertava começou à valer.
A mãe do pequeno o chamou para casa, eu apenas sorri para a amiga de minha mãe. Os minutos foram passando conforme o meu balançar de pernas, e do fim da rua pude ver Jimin correndo como se tivesse acabado de cometer algum pecado dentro da igreja. Eu apenas sorri, vendo que as estrelas já iluminavam o céu. Junto à lua, claro.
O pequeno correu até mim, se jogou sobre meu corpo e quase estragou o balanço. Eu dei-lhe o abraço mais forte que podia lhe dar, sendo correspondido assim que ele se ajeitara sobre mim. Sorri com minha total atenção em sua expressão alegre. Logo o mais novo já se aproximava para me dar mais um beijo. Quando o perguntei sobre a missa, ele teve a audácia de responder "Jesus está bem" e voltar a me beijar.
Talvez demonstrar tanto carinho publicamente, não tivesse sido uma de nossas melhores decisões.
–O que está acontecendo aqui?
Desejei que a voz tão autoritária viesse de minha mãe, mas veio justamente do meu pai. Almejei que quem fosse a nos separar rudemente e com força, fosse minha mãe. Mas a mulher apenas nos olhava boquiaberta, seu olhar entregava sua extrema decepção e desgosto. E mesmo que eu odiasse vê-la com tal expressão, seria melhor que essa também fosse a expressão de meu pai. Já que uma das piores coisas de toda a minha vida, foi ver o olhar de ódio do mais velho.
Não era decepção, nojo, ou tristeza. Era ódio.
E o pior não era vê-lo com tal sentimento, o pior foi ter sentido seu ódio. A sua raiva pelo filho ser diferente. Não ser o esperado. O certo.
Pedi para que Jimin fosse embora. Meu olhar entregava que era quase uma imploração. Meu pai apenas levantou o braço, mostrou-se agressivo.
Na pracinha que brinquei a minha vida toda; no balanço vermelho, meu pai me bateu por não ser homem.
Esse foi o melhor-pior presente de aniversário que recebi do meu marido, Park Jimin.
I was born sick, but I love it
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.take me to church
DiversosUm lástimo retrato de uma história prevalente de amor. Kim Namjoon transforma sua dor em arte, rasga-lhe a alma e lhe escorrem as lembranças. +18 | Cenas violentas | Crítica | Yaoi | Yuri | MinJoon | YoonSeok