I'll tell you my sins so you can sharpen your knife
2010. Porto Alegre. RS.
14 de abril.
Com meus globos oculares ardendo e meus dedos congelados tremendo, corri em desespero pelos corredores de minha escola até chegar no banheiro. Não vomitei na entrada porque conseguir engolir tudo que transbordava em minha garganta.
Bati a porta de um dos cubículos e me ajoelhei rapidamente. Pressionei meus fios de cabelo enquanto o liquido passava de minha boca para a privada nada higiênica de minha escola.
Por sorte, fui capaz de suportar o mal estar até o último período das aulas. Não obtive sucesso em manter meus olhos abertos e fixos nos conteúdos que os professores passavam durante toda a manhã, estava pálido e meu estômago se revirava incessantemente. É simplesmente horrível!
Meu próprio pai me drogou. Deu ordens, deu sua permissão, para que eu ingerisse drogas licitas e ilícitas. Tudo para que eu me "tornasse" homem, em seu cérebro minúsculo o fato de eu ser homossexual me faz menos homem; é uma mentira. Porém, uma mentira que é dita diversas vezes, contada, recontada, recriada, repetida e ouvida de inúmeras formas; acaba virando uma verdade em sua cabeça. Mesmo que você saiba a realidade.
Em minha mente tudo o que meu pai dizia parecia se tornar real, as palavras repetiam a cada segundo. Estava quase que inteiramente convencido de que eu era uma aberração. Mas ainda existia uma pequena parte de mim que lutava bravamente para que eu parasse de crer nas palavras de meu pai.
–Olha só... Não esperava ver a menininha aqui... Tão desprotegida!
O grave afetado pela puberdade soou pelo banheiro e interrompeu-me de chorar com meus próprios pensamentos. O timbre era marcante, não era a primeira vez que eu escutava aquela voz de tom sacana. Suas palavras só foram dirigidas a mim uma ou duas vezes. Felizmente.
Porém a fama terrível do garoto de 19 anos era conhecida por todos. Um menino com mais de 18 anos em pleno 1º ano do ensino médio, "conquistador", bonito, hétero e violento. Ou, como eu prefiro apresentá-lo: um fracassado com 19 anos conseguindo conquistar somente garotas de 12 anos, bonito em comparação aos outros, com masculinidade frágil, preconceituoso e agressor. Este era o Rafael, um dos alunos mais populares da minha escola. E um dos mais imbecis também.
Nunca tive certeza se os boatos sobre sua pessoa eram verdadeiros. Só passei a "conhece-lo" por culpa do meu estômago fraco.
Enquanto me encontrava ajoelhado em frente a privada, com a dor descomunal em meus órgãos internos e tendo o gosto forte do liquido que passava da minha garganta para a minha boca, ouvi a porta do banheiro bater duas vezes.
Da primeira vez não houve um barulho estrondoso. Apenas foi fechada. Não liguei, algum aluno deve ter entrado dentro do banheiro. A segunda batida me assustou. O susto que levei fez-me vomitar mais.
As vozes começaram a ecoar, meninos mais velhos pelo tom da voz. Me distanciei da privada, limpei minha boca no papel higiênico tratando de não executar nenhum movimento brusco, não queria fazer barulho. Por um mínimo instante senti meu corpo rodar, fechei os olhos tentando não me afetar pela tontura e prestar atenção nas palavras dos garotos.
Apanhei de dentro de minha mochila algumas pastilhas, enfiando em minha boca para recuperar um pouco da lucidez.
–Me deixem em paz. – O timbre enfraquecido junto de um bater de costas na parede.
–A garotinha está com medo? – Arqueei as sobrancelhas. – Somos seus amigos! – Não estava entendendo nada.
–Fique calmo, não vamos de causar mal! – Ouvi um som estranho, parecia com um zíper se abrindo. – A não ser que você diga isso para alguém, bichinha! – Arregalei os olhos, meu coração acelerou.
–Fique longe de mim! – Exclamou tentando se esconder dentro de um dos divisórios do banheiro. – Eu vou gritar e vocês vão se fo... – Antes que o menino pudesse terminar a frase, ele fora jogado para a pia, sua mochila escorregou pelo chão e a sua garrafa d'água parou em meus pés. – O que está... fazendo? – Perguntou afoito, me coloquei em pé com cuidado, como o grupo de meninos conseguiu ser estúpido e burro ao ponto de não verificar se havia mais alguém presente no local?
–Vamos fazer você parar de ser uma menininha! – Meu estômago se retraiu ao ouvir o tom de voz forçado de um dos garotos.
–Eu não sou uma garota! – Gritou o menino, um barulho estranho foi ouvido, não soube identificar com clareza. Talvez um soco?
–É um gay. Dá no mesmo! – Peguei minha mochila com as duas mãos, esperando o momento certo para sair. Não me surpreendi com o que ouvi, apenas revirei os olhos. Já tinha escutado isso antes.
–EU NÃO SOU GAY! – O som de algo sendo golpeado novamente. – Me larga!
–Nós vamos te ensinar que ser uma menina não é a melhor opção pra você!
E eu não podia mais aguentar ouvir aquilo e esperar o "momento certo" para sair de dentro do local. Abri a porta com força, assustando os agressores e caminhando diretamente para o garoto de calça abaixada prestes a... estuprar o menino atirado no chão que antes havia gritado.
Minha mente ignorou a cena, me encontrava concentrado em acertar minha mochila pesada pelos incontáveis cadernos e livros em sua cabeça. Rafael caiu instantaneamente no chão.
Novamente, por sorte eu possuía a força de meu pai e a altura que pesou positivamente para o meu lado. Conseguia ser mais alto que os cinco garotos mais velhos que eu que, atualmente, tinham medo no olhar.
Chutei o estômago do menino de pele pálida, olhos azuis e cabelo loiro. Um de seus amigos ameaçou defende-lo, mas antes que ousasse fazer alguma coisa, golpeei seu rosto. Era um menino menor que eu, aparentemente fraco. Era óbvio que contra garotos dessa idade, com esse tamanho e esse temor no olhar, eu reagiria.
–Se fizerem algo contra esse garoto de novo...
Não precisei terminar a frase, os meninos já mexiam a cabeça positivamente e arrastavam o Rafael para fora do banheiro.
Sorri, demorei alguns segundos até fitar o rosto do menino que tinha salvado. Precisei correr para a privada e vomitar o restante de meus órgãos antes de voltar minha atenção para o rapaz.
O menor tentava posicionar a calça no local correto, aqueles garotos tinham a abaixado até o joelho. Ia perguntar se precisava de ajuda para fazer aquilo, o garoto parecia assustado demais para se mexer normalmente. Porém preferi juntar sua mochila e a garrafa d'agua. Deixei seus pertences junto dos meus sobre a pia, lavei o rosto com necessidade antes de notar que o menino estava estático e com os lábios trêmulos.
Joguei meu cabelo para trás e me abaixei, estendi a mão para o menino.
–Kim Namjoon. – O mesmo pegou minha mão e eu o levantei. – Se importa se eu te ajudar...? – Indaguei me referindo a sua calça e boxer ainda abaixo de seu joelho. Não disse nada, apenas abaixou a cabeça. – Ok. – Sussurrei eufórico, desci novamente e arrumei suas vestes em seu corpo. – Vou... – Notei seu rosto machucado, sangue. – Cuidar de você. – Murmurei.
–Jeon Jungkook. – Sussurrou, as mãos também trêmulas.
I'll tell you my sins so you can sharpen your knife
notas: galeris se eu sumir de novo (se deus quiser nunca mais, até pq to planejando postar mais fic aqui) é só me procurar no spirit (kyravee), no twitter (ihateyoufdp) ou no insta (vee_kv)
p.s. essa cena no banheiro é real, infelizmente, mas no caso quem conseguiu impedir que algo acontecesse com o menino foi o meu pai, na época que ele era professor da escola, acho que foi a única coisa que eu mudei foi o "salvador" do jk, os alunos realmente arrastaram o menino para dentro do banheiro e meu pai interrompeu tudo
VOCÊ ESTÁ LENDO
.take me to church
AcakUm lástimo retrato de uma história prevalente de amor. Kim Namjoon transforma sua dor em arte, rasga-lhe a alma e lhe escorrem as lembranças. +18 | Cenas violentas | Crítica | Yaoi | Yuri | MinJoon | YoonSeok