Good God, let me give you my life
2010. Porto Alegre. RS.
15 de junho.
Calças justas não eram permitidas. Calças rasgadas não eram permitidas. Calças claras também foram jogadas fora. Tudo que remetesse minha homossexualidade acabara no lixão da minha nova rua.
"Não dê indícios."
"Não ande desse jeito."
"Não escreva com a letra tão ajeitadinha!"
"Pare de ouvir essas músicas..."
"Não use essas camisetas coladas!"
"Vire homem."
Cada palavra foi dita a mim como se eu fosse um total erro da humanidade. Porém, mesmo com as frases ridículas e estúpidas seguidas das ações sem cabimento de meus pais, o que mais me cortara foi o motivo que levou a tais acontecimentos: Jeon Jungkook.
"Chamam ele de gay por causa das roupas que ele usa."
"Não quero que meu filho seja visto como gay... Como um deles."
"Não quero te ver vestido igual a ele, parece uma menininha."
Não iria contra meus pais, de maneira alguma passava pela minha cabeça mostrar minha discórdia quanto aos seus pensamentos. Principalmente contando o fato de que, mesmo com a aparência delicada, meus pais aceitavam Jeon Jungkook estar constantemente em meu quarto. Qualquer deslize em meu comportamento e eu correria o risco de nunca mais ver Jungkook. Como ocorreu com Jimin.
Estranhamente meus pais amaram ver que eu tinha Jeon como companhia. Talvez pelas mentiras pequenas que contei a seu respeito – para que acreditassem na heterossexualidade do mais novo – ou porque nem sequer Jungkook tinha consciência de minha sexualidade.
Sexualidade não deveria ser um ponto importante, eu sei, mas a vida real parece ignorar isto. Mesmo que, ao meu ponto de vista, a sexualidade e gênero de uma pessoa não devessem refletir em suas relações sociais e serem tratados como um grande ponto importante e definitivo, é assim que as coisas funcionam.
O mundo real, a vida real, ambos uma desgraça, uma porra. Jeon Jungkook me fez falar palavrões, o culpem.
De calça moletom largada, tênis preto derrotado e moletom desgastado, tive de enfrentar uma sexta-feira "escolar" depois de passar a noite em claro queimando roupas.
Para quem é adolescente – ou foi – e formou-se em uma escola, ou ainda está nela, irá me compreender quando digo que a sexta-feira é o pior dia em um colégio.
Pode ser o melhor dia da semana? Sim, é. Mas em um local repleto de adolescentes desesperados por atenção, adrenalina e superlotados pela pressão social, a sexta-feira pode ser considerada o pior dia depois de uma segunda-feira.
Os adolescentes que necessitam de atenção alheia não param de falar e glorificar-se dos planos para o final de semana, ou para a noite. Exibem a paixão por bebidas alcoólicas de forma exagerada – e, infelizmente, não era apenas um "quero beber, meu Deus" –, que se relacionarão com inúmeras pessoas e que a ressaca no dia seguinte era garantida.
O que piora a cena são os projetos-de-filósofos-de-classe-baixa. Querem saber o sentido das noitadas, o sentido de beber, o sentido de beijar, o sentido de abraçar, o sentido de se querer calor humano. Querem saber o sentido de tudo que os outros fazem, ao invés de simplesmente viverem as suas próprias vidas.
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.take me to church
De TodoUm lástimo retrato de uma história prevalente de amor. Kim Namjoon transforma sua dor em arte, rasga-lhe a alma e lhe escorrem as lembranças. +18 | Cenas violentas | Crítica | Yaoi | Yuri | MinJoon | YoonSeok