Louvarei como um cão no santuário de suas mentiras.

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I'll worship like a dog at the shrine of your lies

2010. Porto Alegre. RS.

13 de abril.



Sentia como se todos a minha volta estivessem contra mim. E de fato, todos estavam. Isso porque a minha volta eu possuía a minha família. Meu pai e minha mãe, cada um em um quarto separado do apartamento.

Desta vez, não estava sentado em um balanço colorido admirando a minha casa deprimente e a parede amarela da casa de Jimin; desta vez eu nem estava fora de casa. Me encontrava trancado no quarto, deitado em minha cama, olhos fechados e respiração baixa.

Mais uma vez os gritos faziam meus ouvidos doerem. Fitei pela janela o céu se fechando aos poucos, não sabia mais se eu que estava enxergando o mundo mais escuro ou se ele realmente estava sombrio.

Um copo de vidro estourou no chão. Era o segundo dessa madrugada. Não tenho ideia de como a minha família ainda não foi expulsa do prédio.

Acontecia na maior parte da semana. Meu pai e minha mãe se insultando durante horas, quebrando objetos caros, minha mãe corria para o quarto chorando, batia a porta, deixava meu pai falando sozinho na cozinha e, enfim, o maior andava com passos pesados até meu quarto e descontava toda sua ira em mim.

Hoje, na noite de outono mais longa que eu parecia enfrentar, os gritos foram diferentes. Minha mãe exclamava meu nome diversas vezes, a voz de meu pai não era a mais destacada. Me levantei, apoiei minha cabeça contra a porta para tentar ouvi-los.

Meu pai pedia para minha mãe abaixar o tom de voz, "Namjoon tem aula amanhã de manhã, portanto diminua seu tom, entendeu?". Parecia extremamente mais autoritário do que a maioria das brigas. Era até... "estranho".

Minha mãe, quase que por inteira, ia contra as falas de meu pai. Ao que tudo indicava, meu pai estava a falar sobre soluções para meu problema e minha mãe... estava contra.

Normalmente as discussões de ambos eram sobre o trabalho, minha mãe não queria de forma alguma parar de trabalhar e meu pai se achava no direito de comandá-la. Algumas das brigas foram por culpa minha, eu sempre fui o principal problema dos dois. Mas nesta discussão eu não fazia ideia do que estava acontecendo.

Os passos pesados em direção ao meu quarto começaram a soar, me distanciei da porta velozmente e me joguei contra a cama, cobrindo-me o mais rápido possível. Respirei fundo assim que o maior abrira minha porta. Não foi com agressividade como das últimas vezes, ele apenas abriu a porta.

Se eu não pensei em chavear a porta em alguma dessas discussões sabendo que eu quem levaria a surra? Logicamente que sim. Mas há dois meses eu não possuía mais fechadura, meu pai a arrancara em uma de suas crises de ódio. Tudo o que fiz desde então foi me deitar, fingir não existir e me cobrir com o cobertor.

O corpo do maior se posicionou ao lado da ponta de minha cama, bateu em minhas pernas para que eu "acordasse". Abri os olhos depois que ele me balançou pela segunda vez, vi que o mesmo estava vestido formalmente, diferente do habitual. Estava de terno, a gravata era de seda, reluzia, e seus sapatos estavam impecáveis. Assim que eu me virei para ele, percebendo que seu semblante estava calmo e o maior não transparecia querer me bater.

–Se vista. Vamos sair.

Sorriu de forma sacana. Mesmo que fosse um sorriso um tanto quanto maquiavélico era a primeira vez em dois meses que eu o via sorrir para mim.

–Aonde vamos?

Perguntei com a voz baixa antes de me levantar rapidamente e ir em direção ao meu armário.

.take me to churchOnde histórias criam vida. Descubra agora