Só então sou humano.

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Only then I am human

Tudo foi muito rápido; aconteceu muito rápido.

A velocidade das palavras, das ações, fazia a minha mente rodopiar tentando se encontrar numa imensidão de problemas.

Era 20 de novembro, madrugada; aproximadamente três horas. Batia nos teclados do orelhão com força, desesperado, e olhando para os números escritos docemente no papel, agora, levemente amassado e minimamente manchado de sangue.

O vento gélido sulista bateu-se contra meu corpo, me escorei no orelhão esperando que por algum milagre de Deus, Jimin me atendesse.

Respirei fundo, fitei um carro que passava lentamente pela rua com o som alto.

Desejei que meu corpo parasse de tremer de frio, de medo, de impacto. Mas todo o sistema foi atingido pela noite anterior.

Vocês devem estar tão confusos quanto eu naquele momento, ouvindo o bipe e o chiado da ligação, tentei narrar a mim mesmo o que fora aquela noite, revisei cada segundo desacreditado.

O caos teve seu trágico início assim que entreguei a Min Yoongi minha carta em resposta a última carta de Park Jimin. Aceitaria a passagem para voltar a São Paulo e sobre seu pedido de desculpas teríamos de conversar, era óbvio que eu o perdoaria, mas precisava falar isso pessoalmente a ele.

Permaneci na casa do Min, arquitetávamos um plano para que o mesmo tirasse Jung Hoseok da clínica. Eu estava extremamente preocupado com essa questão, me agoniava não saber o que estaria acontecendo com Hoseok e me agoniava ainda mais saber e presenciar as consequências dos atos de seu pai em Min Yoongi. Meu amigo estava há dias sem comer, há dias sem sair de casa. Seus pais estavam tão preocupados quanto eu, não sabiam se o filho não teria de voltar para casa caso perdesse o emprego.

Portanto, após diversos planos visivelmente falhos, eu tive de vir para casa. Talvez eu devesse esclarecer que esse foi o exato ponto onde o caos tornou-se incapaz de ser evitado. Meu porteiro avisou-me que Jeon Jungkook estava em meu apartamento, o moreno possuía uma cópia de minha chave.

Estranhei o fato de que meus pais ainda não haviam chegado do aeroporto e estranhei mais ainda o fato de que já estava anoitecendo e Jeongguk estava no meu apartamento há horas.

Abri a porta com cansaço, posicionei minha mochila próxima a uma bancada inútil do local. Ali estava o primeiro indicio da confusão: o vaso de flores plásticas amarelas, que minha mãe sempre deixava intacto no mesmo lugar, não estava ali. As flores superficiais se encontravam sobre a bancada, atiradas.

Andei pelo corredor até chegar na cozinha, arregalando os olhos assim que meus ouvidos escutaram sons baixos de choro. O coração já estava acelerado porque eu sabia de quem era aquele burburinho, mas meus batimentos cardíacos se descontrolaram ainda mais quando minhas orbes contemplaram o escarlate do chão.

O rastro das gotas acerejadas tinham início próximo a porta da cozinha, e seu fim próximo a mesa; o local onde as gotículas transformavam-se em uma poça sangrenta com um seu criador molhando-se sobre ela acompanhado de cacos de vidro era próximo a pia.

Cai de joelhos em frente ao menino que chorava pedidos de desculpas. O sangue umedeceu minha calça, estava quente. Jeongguk tinha seus braços cortados, machucados profundos em uma linha reta. A camiseta que usava estava manchada, e o sengue estava por todo seu corpo, até em seu rosto.

Arranquei meu moletom para amarrá-lo em pelo menos um de seus braços, não paravam de jorrar sangue. Jeon estava entre lágrimas, soluços e eu não sabia se permitia meus olhos largarem as devidas lágrimas que seguravam ou me fingir de forte para que o meu melhor amigo recuperasse as próprias forças.

.take me to churchOnde histórias criam vida. Descubra agora