_Toni, eu sinto muito!_repetiu o mestre de obras Amâncio pela milésima vez, enquanto tinha a perna engessada na emergência de um hospital.
Pisara em falso numa tábua e caíra de uma altura de três metros. Fraturara a perna e ficaria um longo tempo impossibilitado de trabalhar.
Toni não escondia o desapontamento com aquele contratempo logo no momento em que iriam, finalmente, começar a reforma na casa de Sara.
Tudo fora acertado, tudo fora esquematizado e, para a alegria da professorinha e sua avó, a reforma poderia finalmente começar.
_O que pretende fazer agora, Toni?_perguntou o homem aflito.
Toni ficou olhando o funcionário do hospital colocar o gesso cuidadosamente, enquanto uma ideia tomava forma em sua mente.
No momento em que acompanhava o seu funcionário até o carro, já se decidira:
_Eu vou assumir o seu lugar, Amâncio, não se preocupe._disse com a voz firme.
Pensara que talvez o destino a estivesse resgatando daquela vida tediosa atrás de uma mesa na maioria do tempo.
O mestre de obras parou no meio do corredor visivelmente assustado:
_Você? Você assumir o meu lugar?
Amâncio olhou a bela mulher de corpo escultural, cabelos sedosos e compridos, unhas bem feitas, brincos delicados, cordão de ouro no pescoço e com um perfume marcante e não conseguiu encaixá-la no meio de uma obra botando a mão na massa.
_Acha que não sou capaz? Pensa que eu não daria conta do recado, Amâncio?_Toni cruzou os braços encarando o homem.
_Não estou questionando a sua competência, mas arquitetar e engenhar é bem diferente de colocar os projetos em movimento. Cal, gesso, cimento, poeira...Além do mais, pode se preparar para atrasar a obra e ter gastos extras, porque meus rapazes te respeitam, mas babam quando te veem chegar nas obras para fazer a supervisão. Olhe pra você, mulher! Acredita que vai sobrar um tijolo inteiro se for você a passear pelos andaimes? Eles vão ficar loucos! Isso não vai dar certo.
Toni ajudou seu funcionário a entrar no carro e saiu lentamente do estacionamento do hospital.
_Aquele horrível macacão cinza não é nem um pouco sexy, não acha? Além do mais, posso cortar os cabelos, usar botas...
_Mas é um trabalho pesado, pra homem e não pra uma garota!
_Jogo capoeira há quase dez anos. Posso dar conta de uma pilha de tijolos, pode apostar.
_E o Jefferson? Acha que ele vai deixar você ficar no meio daquela homaiada? Não pensou nisso?
_Pode parar. Jefferson não é o meu dono, Amâncio. Já me decidi. Deixarei você em casa e irei cortar os cabelos. Já estava afim mesmo, pois eles esquentam demais. E depois irei comprar o meu uniforme.
_Tudo bem, chefe. Depois não vá dizer que eu não avisei._disse o mestre de obras se dando por vencido.
Toni procurou o salão de Felipe, onde já fizera amizade com o rapaz.
_Quero que corte tudo, Felipe._disse sentando na cadeira que ele lhe indicara.
_Que isso agora? Você pirou, mulher?_Felipe pegou os longos cabelos de Toni entre as mãos.
_Não sei por que a surpresa. Você já sabia que eu estava querendo mudar o visual._argumentou Toni.
_Eu já sabia sim, mas não sabia que seria uma mudança tão radical._Felipe olhava para o corte que Toni já lhe mostrava numa revista que ficava sobre a mesa para as clientes consultarem.
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MEU PORTO SEGURO É VOCÊ-Um romance para gays e lésbicas-Armando Scoth Lee
RomanceA vida nem sempre nos mostra que caminhos devemos seguir. Às vezes, vagamos a esmo, erramos tentando acertar, sofremos, lutamos, brigamos, amamos e enfrentamos sozinhos nossos dramas pessoais. Muitas vezes, temos que deixar tudo pra trás e ter corag...