Sara chegou à área de serviço, onde Toni acabara de lavara algumas roupas e as dependurava no varal.
_Vovó adorava o cheiro de roupa recém-lavada secando e eu também aprendi a gostar._disse a professora triste chegando atrás de Toni.
Havia obtido os oito dias de luto pela morte da avó, já que todos sabiam que as duas eram como mãe e filha e o médico ainda fizera um atestado alegando que ela não teria condições de trabalhar naquele período.
Toni ficou feliz ao vê-la, finalmente, depois de vários dias sem querer sair do quarto, vir ali fora.
_É. Realmente é um cheiro muito bom. Cheiro de limpeza._respondeu vendo a sua princesinha tão triste e sofrida.
Um desejo de pegar Sara nos braços e protegê-la do mundo novamente invadiu a engenheira.
_Percebi que está dormindo aqui comigo e gostaria de agradecer. Você é muito gentil, Lici.
Sara estava abatida e vestia apenas um pijaminha verde água velho e surrado.
Os cabelos estavam soltos e se espalhavam em cachos castanhos e sedosos pelas costas da garota.
Cruzou os braços sobre os seios, numa figura totalmente frágil, e desceu lentamente as escadas, até alcançar uma roseira dentre as muitas plantas ornamentais que enfeitavam o pequeno jardim dos fundos da casa.
_Vovó amava estas roseiras._disse cheirando uma das flores com carinho.
_São lindas.
_Queria me desculpar pela grosseria da minha mãe com você, Lici._sussurrou visivelmente constrangida.
_Não precisa, Sara. Eu já esqueci, ok?! Ah, dei três dias de folga para os rapazes, para que você pudesse descansar.
_Obrigada. Eu quero que os trabalhos continuem normalmente, porque eu desejo que a casa fique como a vovó sonhou.
Toni percebeu que as lágrimas inundaram os olhos da professorinha e, antes que pudesse fazer algo, o telefone tocou.
Percebendo o som, Sara se afastou educadamente, para que a engenheira pudesse atendê-lo.
_O que foi, Jefferson?_Toni não tentou disfarçar a contrariedade por ele tê-la impedido de consolar Sara.
_Como assim o que foi, Jefferson!? Onde você está, afinal? Caso não tenha percebido, desapareceu há três dias e quando fui ao seu apartamento me assustei vendo que você não estava lá. Não atende às minhas ligações e um dos rapazes agora me falou que você está ficando em tempo integral no emprego. Por que não me informou? Acho que você deveria ter me comunicado! Acho que mereço um pouco mais de consideração, dona Felícia!_o engenheiro estava totalmente alterado e, por isso, usara um tom ríspido.
Toni não gostou do tom dele.
_Fiz amizade com a proprietária da casa e estou dormindo aqui, agora que a avó dela faleceu e ela ficou sozinha._simplificou.
_Ah. A tal professorinha que não entende nada de nada.
Toni não gostou do jeito que ele falou de Sara.
A engenheira pode perceber que Sara agora soluçava no meio das roseiras da avó. Precisava ir confortá-la.
_Te ligo depois.
Ele gritou aflito, antes que ela desligasse:
_Ei! Está me dispensando, por quê? A gente não vai se encontrar? Está me evitando por qual motivo?
Toni sentiu urgência em acabar com a ligação logo e, no momento seguinte, foi como se um estralo se fizesse ouvir em sua mente: queria acabar também com aquele relacionamento já sem sentido. Ela não sentia mais nada em relação a Jefferson, a não ser uma amizade de longa data.
_Posso passar aí às cinco e te pegar para tomarmos um café, pode ser?
Ele concordou e ela desligou, se dirigindo até onde Sara estava.
A professorinha se jogou nos braços da nova amiga, assim que ela se aproximou. Toni não teve mais dúvidas: queria ficar ali dando apoio para Sara e estava na hora de Jefferson sair de sua vida.
À tarde, quando se sentou em frente ao namorado naquela lanchonete, decidiu falar tudo, sem rodeios, pois precisava voltar pra Sara. Alice logo iria embora e ela ficaria sozinha.
_Não...espere aí: eu entendi direito? Você está terminando comigo?_ele arregalou os olhos assustado e confuso ao mesmo tempo._Mas eu não entendo! Por quê?
Toni passou as mãos nos cabelos espessos e curtos percebendo como ele o homem estava confuso.
Ela não entendia como um homem tão inteligente quanto Jefferson não podia perceber que ela não gostava mais dele.
_Eu pensei muito e vi que o nosso namoro simplesmente acabou, Jefferson..._ela tentava falar calmamente, mas estava tensa com a urgência de ir embora.
Ele a interrompeu desfeito:
_Namoro, Felícia? A gente é praticamente noivo e vai se casar...
Ela explodiu:
_Não me cobre compromisso, Jefferson! Eu não ficarei noiva de ninguém e nunca falei que iríamos nos casar... aliás, partiu de você essa ideia de casar, montar família, ter filhos...Eu disse que pensaria no assunto, lembra-se? Ok! Pensei e cheguei à conclusão de que somos melhores como amigos e pronto.
_Mas eu não compreendo, não faz sentido, Felícia... a gente se dá tão bem...
_Não! Você me trata tão bem, me dá carinho, apoio..._ela agora estava perdendo a paciência com ele.
_Então, minha querida. Eu te amo, Felícia!_ele segurou as mãos dela sobre a mesa._A gente vai ser muito feliz junto, eu lhe prometo.
Toni puxou as próprias mãos lentamente e Jefferson as olhou como se fosse pegá-las novamente para nunca mais soltar.
_Mas eu não te amo mais, Jefferson! Pra falar a verdade, acho que nunca te amei. Sempre tivemos apenas uma boa amizade e só._desabafou.
Ele a olhou visivelmente aflito e tentou mais uma vez:
_Amor, você está cansada com este novo emprego, ok?! A gente vai apenas dar um tempo até você esfriar a cabeça, tudo bem?
Ela não respondeu.
_Amor, tudo bem assim? Tudo bem da gente dar um tempo?
Ela se levantou decidida.
Ele admirou mais uma vez aquele monumento que insinuava que queria abandoná-lo e enterrar todos os seus sonhos mais intensos de um futuro com ela.
_Dei o meu recado e gostaria que não alimentasse mais esperanças. Somos parceiros, amigos e pronto. Nada mais.
_Tem outra pessoa?
_Não._ela disse friamente.
_Então...
_Então, quero te avisar que estou te liberando do compromisso comigo. Agora, preciso ir.
Ele a segurou pelo braço.
_Não faça isso com a gente, querida.
Ela se desvencilhou.
_Sem drama, Jefferson. A gente nunca daria certo e, no fundo, tenho certeza de que você ainda irá me agradecer.
Jefferson ficou olhando a namorada ir embora.
A ideia de desistir dela não passava por sua cabeça nem por um momento. Amava aquela garota e tinha certeza que só podia ser algum outro cara virando a cabeça dela. Se isso se confirmasse, ele iria lutar. Não perderia a grande paixão da sua vida de jeito nenhum!
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MEU PORTO SEGURO É VOCÊ-Um romance para gays e lésbicas-Armando Scoth Lee
RomanceA vida nem sempre nos mostra que caminhos devemos seguir. Às vezes, vagamos a esmo, erramos tentando acertar, sofremos, lutamos, brigamos, amamos e enfrentamos sozinhos nossos dramas pessoais. Muitas vezes, temos que deixar tudo pra trás e ter corag...