CAPÍTULO 14-TONI PROCURA FELIPE E DESABAFA

241 47 4
                                    


_Como você soube que era gay, Felipe?_perguntou Toni cautelosamente em frente a Felipe numa mesa de bar.

_Quer a explicação tipo doutor Freud ou a realidade?_disse Felipe sorrindo.

Toni riu:

_Achei que Sigmund Freud fosse o pai da psicanálise e tivesse todas as respostas. Quer dizer que aquele tal de Complexo de Édipo, identificação com a mãe, identificação com o pai...tudo aquilo é besteira?

À medida que a engenheira falava, Felipe fazia negativas com a cabeça.

_Só pra esclarecer, no Complexo de Édipo, você está confundindo e o filho se apaixona pela mãe e não pelo pai.

_Psicologia e literatura grega nunca foram o meu forte, me desculpe.

_Esqueça tudo isso, porque tem um tal de blábláblá pra explicar o homossexualismo que me estressa, Toni! Saco! O povo não entende nada e fica dando pitaco no cu dos outros!

Toni quase engasgou:

_Dá pra maneirar o palavreado que estamos em público!_sussurrou.

Felipe suspirou e revirou os olhos: se ela estava falando da família que estava sentada ao lado, ele deveria ter contado a ela que a mulher ia ao salão para cantar suas clientes e que o marido já havia sido flagrado por Felipe o comendo com os olhos.

_Desculpe. É que minha família chegou a me mandar para psicólogos pra tentarem me "curar" da veadagem, Toni e aí, não tenho saco mais para essas coisas de divã. Por que não podem aceitar de uma vez por todas que tem gente que gosta de pinto e tem gente que gosta de xoxota e pronto?! Nem sempre tem que ser do jeito que o povo quer!

O cabeleireiro suspirou e voltou ao assunto principal:

_Vamos ver...minha mãe era uma santa e meu pai um porco grosseiro. Então, dois a zero: nunca que eu iria imitar a passividade da minha mãe e nunca iria virar aquele poço de brutalidade do meu pai, então...puxar os pais não conta, loura. Aquele poço de submissão e de doçura deveria ter me inspirado sentimentos de ódio e desejo de matar todos os homens, só por imaginar que eles poderiam ser iguais ao meu pai. Psicólogas com cara de sopa aguada  me faziam relatar por mais de uma hora todas as tragédias familiares pelas quais eu passei e aí, num belo dia, chutei o balde e falei aquela frase perfeita do Justin Taylor no Queer as Folk: "Gosto de pau, gosto de chupar pau e sou muito bom fazendo isso", ou algo assim, não importa agora.

Toni o olhou sem entender.

_É um seriado gay que eu não canso de repetir que deveria ter presença obrigatória nas casas de gays e lésbicas. Bom, então estava eu lá de heterozinho idiota quando me descobri. Mas a minha boiolice tem outro nome...digamos, outro autor. E você o conhece...meu parente...seu professor...

Toni franziu as sobrancelhas:

_Você quer dizer...seu primo Luís?

Felipe assentiu lambendo obscenamente uma batata frita, ao que ela deu um tapa na mão dele e a batata caiu. Será que ele iria provocar uma briga com os homofóbicos dali com aquele gesto indecente?

_Mas achei que você tinha me dito que ele iria se casar._Toni retomou o assunto.

_Isso mesmo, filha._Felipe a interrompeu._Aquela coisa toda ali, aquele trem de louco, aquele deus grego com um belo mastro entre as pernas é um completo hétero...que desperdício!!! Ele prefere as abertinhas molhadas do que um rabinho bem apertadinho como o meu, infelizmente._lamentou.

_Agora é que eu estou mais confusa ainda: se ele é hétero, como pode ter te arrastado para o mundo gay, Felipe?

_Ele não me arrastou...ele me empurrou arco-íris abaixo e eu me atolei tanto que virei isso que você está vendo.

MEU PORTO SEGURO É VOCÊ-Um romance para gays e lésbicas-Armando Scoth LeeOnde histórias criam vida. Descubra agora