CAPÍTULO 2-FELIPE ALVES DE AZEVEDO

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Felipe esperou o homem alto, negro e forte no mictório ao lado terminar o que fora fazer ali e sair do banheiro.

"Merda! O canalha nem dá uma olhadinha!", lamentou sentido.

Fingiu lavar as mãos para ganhar tempo e não precisar se expor na frente dele.

Ele não escondia de ninguém que, desde criança, sempre olhava os homens disfarçadamente dentro de banheiros públicos. Será que todos os homens faziam isso? Ele acreditava que sim, que todos  atendiam a um chamado ancestral de machos que se avaliavam medindo os tamanhos de seus paus.

Finalmente, o homem saiu, o banheiro ficou vazio e ele pode se aliviar.

Não conseguia se mostrar perto daqueles homens altos, musculosos e com seus pênis formando um belo pacotão dentro de suas calças apertadas e sexys. Aliás, tinha que admitir para si mesmo que ultimamente não conseguia se mostrar é perto de homem algum, caso não estivesse "à caça".

Ele sabia que, sendo um gay passivo, não precisava ter um pênis grande, mas ainda se lembrava, quando via um homem no banheiro, daqueles  comentários que tanto o humilharam nos vestiários da escola:

_Alguém tem uma pinça e uma lupa aí, galera? Felipe está tentando encontrar o pintinho dentro da própria calça, gente.

Risada geral que o feriam como dardos maldosos.

_Ei, Felipe! Quando você vai nadar, não tem medo de um peixe confundir seu pauzinho com uma minhoquinha?

Mais risos até que ele saía do banheiro magoado.

No início, estando na escola ao lado do primo Luís, muito maior e mais forte do que a maioria dos seus colegas, ninguém tinha coragem de mexer com ele.

"Luís delícia...Luís tesão...Luís gostoso...Luís meu número...Luís meu sonho de consumo...Luís banquete...", ele costumava brincar sonhador quando se viu atraído pelo primo assim que se descobriu homossexual.

A vantagem de ser visto como um garoto inocente, na época, impedia que o primo descobrisse a verdade e entrasse na turma daqueles que queriam humilhá-lo por ser pouco dotado.

Felipe sabia que a tentação das mulheres da sua escola, o primo Luís, não seria nunca alguém com quem ele pudesse sonhar ter um dia e se contentava em suspirar disfarçadamente olhando o primo escondido arrasando os corações das meninas.

Infelizmente, a família de Luís se mudara devido à transferência de emprego do pai e Felipe, sozinho na escola,  se calava diante da realidade inexorável: era aceitar o bullying ou voltar todo roxo pra casa.

Na verdade, não só o pênis, mas ele todo era miudinho, mesmo hoje, com  menos de um metro e sessenta de altura, não teria como encarar um de seus colegas.

Felipe fechou a calça sem se olhar uma segunda vez e virou-se de costas para o espelho, após fechar o zíper da calça.

Agora ele sorria observando a bela bunda arrebitada refletida no espelho.

"Eu te comeria, tesãozinho", pensou mais animado.

Na opinião dele, isso sim era importante em um passivo que queria atrair muitos homens: uma bela bunda para atrair olhares gulosos.

Não gostava de transar no banheiro, mas eram as transas mais fáceis de conseguir.

Ele localizava a "vítima" e jogava a senha. Se o outro fosse do "meio", respondia com a "contrassenha" e eles se dirigiam, caso o banheiro estivesse vazio, para um dos reservados, já baixando as calças e rezando para ninguém aparecer.

Felipe era o que trazia a camisinha, que ele mesmo fazia questão de colocar no outro, para evitar alguma contaminação de algum engraçadinho.

Mas era ele quem dava as cartas naquele jogo. Se o cara era limpinho, ele oferecia a camisinha, se não, ele dizia que só dariam uns amassos, que ele era tímido. Se demonstrasse ser um bruto, ele logo descartava fingindo ter esbarrado em algo que enchia o banheiro vazio de som suficiente para atrair a atenção de alguém lá fora. Aí, não dava outra: o cara o xingava e saía apavorado com medo de ser descoberto.

Aquele era o melhor horário, quando os alunos estavam todos em sala de aula e, com alguma sorte, alguém que também saíra pra "caçar" apareceria logo e eles teriam alguns minutos de privacidade.

Olhou por cima dos ombros para a porta vazia. Nada ainda.

Ajeitou mais uma vez os cabelos avermelhados e bem penteados. O rosto levemente barbado para lhe dar um ar de mais velho, pois nada de pensarem que ele ainda era menor, claro.

Corpo todo no lugar, pele limpa...se sentia bonito e sabia que se eles fossem rápidos, o cara nem perceberia a sua piroquinha tímida ali na frente.

Esperou mais um pouco. Ninguém apareceu.

"O movimento tá fraco hoje, "suspirou.

Voltou para a sala desanimado, onde homens e mulheres se revezavam em testar as técnicas aprendidas naquele curso.

Reconhecia que aos 24 anos já tinha que ter se decidido  se deveria fazer algo para mudar de vida e alçar voos mais altos.

Talvez devesse fazer uma faculdade de direito ou outra coisa que não envolvesse as detestáveis matérias exatas,  ao invés de só ficar naqueles cursos repetitivos de maquiagem e limpeza de pele, apesar dele preferir somente arrumar os cabelos das pessoas. 

Viu o colega Robertinho piscar pra ele e apontar para um dos alunos que estava ao seu lado e parecia um respeitável pai de família com os seus 54 anos bem vividos.

Felipe sabia o que aquilo queria dizer: o colega, pela segunda vez naquela semana, tivera mais sorte do que ele. 

Robertinho tinha um encontro para depois do curso e Felipe deveria voltar sozinho pra casa, mais uma vez.


MEU PORTO SEGURO É VOCÊ-Um romance para gays e lésbicas-Armando Scoth LeeOnde histórias criam vida. Descubra agora