_Eu vou quebrar este gesso na cabeça de vocês duas!Quer dizer que já andam se comendo há dias e só vieram me contar hoje?_disse Felipe indignado.
_Que comendo, Felipe? Odeio este jeito de vocês falarem sobre fazer amor. Comer, trepar..._reclamou Sara.
_Lamber, chupar, enfiar, meter...ah, queridas. Tudo o que falam me faz lembrar de sexo, pode apostar. Agora vai, me contem como foi tudo...sem aqueles detalhes melequentos, vocês sabem._fez cara de nojo.
Sara deitou-se no colo de Toni e, enquanto a engenheira afagava os seus cabelos enrolando e desenrolando os cachos, foi contando tudo a Felipe.
_Ah, que pervertidas! Quer dizer que eu desmaio e as duas ao invés de irem rezar por mim, foram pra safadeza. Grandes amigas mesmo!_Felipe fingiu estar ofendido.
Sara jogou uma pequena almofada na barriga dele, protestando.
_Agora fala você: já deixou que o Felipinho brincasse com o Luisão?_agora era Toni quem indagava.
_Nada. Aliás, a gente tem que tomar cuidado, porque daqui a pouco, o Luís chega e escuta._alertou Felipe.
Toni apertou Sara nos braços.
_Pois inspirada no seu Felipinho...agora tenho uma Sarinha para cheirar, beijar...ela é tão linda e tão pequenininha, Felipe!
_Toni, para! Não me mate de vergonha._Sara colocou a mão sobre a boca da namorada.
_Confesso que estou até com inveja de vocês duas, meninas, porque só por causa do acidente e da consciência pesada, o Luís está me enchendo de carinhos, mas não me leva a sério mesmo. Isso quando não me chama de bebê como se eu fosse um garotinho ainda. Eu preciso que ele me veja como homem comestível, meninas!
Felipe suspirou.
_Ele está demorando hoje, não é?_reclamou Felipe.
As duas sabiam que dali a pouco, conforme o combinado, Luís ligaria dizendo que estava preso na academia por algum contratempo e pediria para elas levarem Felipe para casa.
Tudo ocorreu conforme o combinado e a surpresa pela reunião comemorando o aniversário foi um sucesso.
Felipe adorou a bicicleta e mostrou desconfiança quando recebeu a cesta de produtos de beleza que as amigas lhe haviam trazido.
_Opa, opa, opa...alguém andou mexendo nos meus potes, porque duvido que adivinharam todas as marcas que eu gosto._sorriu satisfeito.
_É, uma certa arquiteta invadiu o esconderijo de um certo cabeleireiro e descobriu o segredo da sua pele de pêssego e dos seus cabelos sedosos. Aliás, precisa gastar tanto com estes produtos, Felipe? Confesso que a gente quase foi à falência com tantas coisas caras e tantas coisas importadas! É por isso que sempre está endividado!
_O que vocês queriam? Sou uma bicha e preciso estar mais gostoso do que vocês duas para roubar os seus homens. Sabem como é...tantos héteros com ideia fixa de não experimentar o lado de cá..._riu olhando Luís preparando alguns salgadinhos na cozinha.
Quando voltavam pra casa, Toni revelou:
_Sara, acho que o nosso amigo não precisará esperar muito até levar Luís pra cama, porque o surpreendi umas três vezes comendo Felipe com os olhos, acredita?
_Também percebi, Lici, e acho que todos aqueles potes do Felipe logo levarão mais um machão para o mal caminho. Aliás, quer apostar comigo que o Luisão vai comer o Felipinho antes do final do mês?
Toni riu satisfeita.
_Acho que em um mês não, pois o Luís está muito convicto olhando umas gatinhas lá da academia. Mas, vamos apostar sim. Em um mês, não. E o que iremos apostar?
_Hum, vamos fazer o seguinte: quem ganhar escolhe o prêmio, ok?!
Toni assentiu.
Naquela noite, Sara acordou com o seu celular tocando insistentemente. Logo em seguida, Toni também acordou.
_Quem será no meio da madrugada assim, meu Deus? Dá até medo de ser notícia ruim e..._começou Toni sendo interrompida pela mão de Sara que pedia pra ela esperar.
_Como? O que disse?_Sara parecia não acreditar no que lhe falavam.
Quando desligou o telefone, Toni percebeu que as lágrimas desciam sem controle.
_O que foi, meu anjo?_Toni a segurou preocupada.
_O pai de Gabriel, Lici. Aquele homem que lhe falei que era drogado e que batia na esposa e nos filhos. Ele pôs fogo na casa enquanto todos dormiam, Lici. Foi a mãe de um outro aluno quem me ligou. O Gabriel, Lici...o meu baixinho tímido está morto, Lici...morto...
Toni abraçou Sara e começou a dizer palavras de consolo, mas ela não se conformava.
No outro dia, compareceram ao enterro.
A escola ficaria fechada naquele dia. As crianças estavam muito assustadas.
_Quando o pai dele dava as crises, ele costumava se esconder debaixo da carteira no outro dia, Lici. Era difícil tirá-lo de lá ou fazer com que ele comesse algo. Ele era tão lindo, Lici...
Sara voltou a soluçar no colo de Toni.
_Eu quero ter um bebê, Lici. Podemos ter um bebê, minha querida? A gente pode fazer igual a Melanie e a Lindsay daquele seriado Queer as Folk, lembra? Elas escolheram o Brian, aquele gay bonito, para doar o esperma, lembra-se? A gente pode fazer assim, Lici..._gemeu Sara.
Já haviam conversado algum tempo antes e Toni não escondera que não queria ser mãe e muito menos não queria ver o corpo lindo da namorada modificar-se e encher de estrias.
Por outro lado, mesmo que o casal não tivesse nenhum contato físico, com a inseminação in vitro, ainda teriam uma ligação íntima para o resto da vida e isso deixava Toni insegura.
Toni continuou a afagar os cabelos da namorada e não quis falar nada naquele momento tão delicado.
_A gente escolhe um cara bem bonito e saudável, Toni...e que seja amigo da gente. Pensei no Luís, o que acha? Ele é um cara super legal, amigo da gente e tem aquele corpo lindo.
Toni mordeu os lábios para não comentar nada e interromper os sonhos de Sara.
_A gente vai a um laboratório, o Felipe também poderá ir, claro.
Sara levantou-se e começou a alisar a barriga em frente ao espelho grande da parede.
_Um laboratório confiável que colocará a sementinha dentro de mim e logo, logo um bebezinho bem lindo começará a crescer aqui.
Toni não suportou ficar calada.
_Sara...depois a gente fala sobre isso, ok?! Você deve estar cansada. Que tal dormirmos um pouco?
_É por mim, querida...sempre quis ser mãe. Ter um bebê se alimentando em meus seios, me chamando de mamãe, abraçando o meu pescoço com os seus bracinhos gordinhos...não seria lindo, Lici?_ela continuava a alisar a barriga sonhadora.
Toni saiu do quarto e a deixou sozinha, alegando que precisava tomar água.
Sara pegou um travesseiro e enfiou debaixo do pijama, voltando a alisar a falsa barriga.
_Amina, se for menina...Michel, se for menino._sorriu sonhadora.
Sara se deitou ainda com a falsa barriga.
Toni voltou pouco depois e a encontrou assim, já dormindo e com um leve sorriso no rosto.
A visão de sua amada grávida deixou Toni acordada por um longo tempo.
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MEU PORTO SEGURO É VOCÊ-Um romance para gays e lésbicas-Armando Scoth Lee
RomansaA vida nem sempre nos mostra que caminhos devemos seguir. Às vezes, vagamos a esmo, erramos tentando acertar, sofremos, lutamos, brigamos, amamos e enfrentamos sozinhos nossos dramas pessoais. Muitas vezes, temos que deixar tudo pra trás e ter corag...