O futuro já dava sinais do que estava por vir, mas eu não aceitava, preferi me fazer de cego e acrediter que não era nada demais, pois as vezes acontecia comigo. Eu me esquecia onde tinha colocado a chave, onde ficava tal coisa, se havia desligado o gás.Aquela noite, a de nosso aniversário de namoro, noivado e casamento, foi uma noite perfeita, você estava feliz, se divertia com nossos bisnetos, nossos netos, filhos e familiares.
Completávamos nossas bodas de Diamante.
Você sorria a cada passo cambaleante que o Gael, nosso bisneto mais novo dava em sua direção, com os bracinhos esticados. Sentada em sua poltrona você o incentivava.
-"Bisa, Bisa. "– ele disse, e essas foram as primeiras palavras que ele disse, as primeiras, contrariando mamãe e papai. – "Bisa, bisa. "– Gael repetiu, animado, gargalhando quando chegou onde você estava, você o pegou sentando em seu colo.
Eu e toda a família olhava aquela cena admirados, e quando ele passou a mãozinha em sua bochecha eu deixei que uma lágrima escorresse pelo meu rosto.
Ao presenciar tal cena mais linda.
A manhã seguinte, foi a mais agoniante de toda a minha vida.
-"Socorro!" – eu acordei com você gritando, você estava no canto do quarto me olhando, assustada.
-"Ana !? "– te chamei preocupado, me sentando na cama.
-"Socorro!" – você gritou novamente. – "Não chegue perto de mim." – completou pegando seu chinelo quando eu tentei me aproximar.
A porta do quarto se abre e eu vejo que é a Angelina, nossa filha mais nova.
-"Papai o que está acontecendo." – ela pergunta assustada. –"Mãe? "– ela te chama indo em sua direção.
-"Não se aproxima." – você disse se encolhendo ainda mais, e usando o chinelo como proteção.
"-Ana. Linda. Sou eu João, e essa é a nossa filha Angelina." – te falei. – "Me deixe aproximar de você, eu não vou te fazer nenhum mal."
Alguns minutos agoniante se passam, Angelina já estava chorando e eu estava tentando transparecer calma, por já saber o que estava acontecendo alí, qual era o diagnóstico.
-"João." – você sorriu me chamando, e alí eu reconheci a minha verdadeira Ana, mesmo que esse momento tenha durado poucos minutos.
Fui ao seu encontro e te tomei em meus braços.
-"Eu te amo!" - te disse.
-"Te amo." – você também me disse, antes de ter mais um ataque.
Com o coração despedaçado pedi a Angelina que chamasse uma ambulância e ligasse para o médico da família.
Assim que chegamos ao hospital você foi internada e estava dormindo após receber uma dose de calmante, Doutor Marcos nos chamou em seu consultório e confirmou a minha suspeita.
-"É com pesar que eu lhes informo que a Ana está com alzheimer , a um ano nós já tínhamos consentimento sobre isso, eu, ela, e o advogado da família, eu tentei que ela compartilhasse com vocês , a aconselhei que se abrisse para receber o apoio, mas ela não quis por estar com vergonha." - ele faz uma pausa e continua. -" E a dois meses atrás ela concordou com a internação já que o seu quadro já está bastante avançado e nesse dia ela trouxe o advogado para oficializar tudo perante a lei. "- ele termina de falar e eu não sei como reagir, nossos filhos começaram a chorar e eu fiquei parado olhando para o médico.
Ele coloca um documento em minha frente e eu o pego encontrando alí a sua assinatura.
-"Será que eu posso ficar no quarto com ela um pouco? "- eu perguntei, pois o que eu mais queria era ficar ao seu lado naquele momento.
"-Claro, por causa dos remédios ela irá demorar um pouco a acordar. Enquanto isso se o senhor não se importar irei conversar com seus filhos sobre a clínica. "
- "Certo." - falei e saí daquela sala indo para perto de você. Quando adentrei o quarto onde você estava uma paz tomou o meu corpo e alí eu esqueci da notícia que havia recebido. Me aproximei de você e te contemplei dormindo calmamente, me abaixei em direção ao seus lábios e deixei um beijo castro, sentei ao seu lado e segurei em suas mãos.
E ali naquele quarto de hospital eu respeitei a sua decisão e tomei uma, eu iria com você para onde você fosse, porque independentemente da situação o importante era ficar ao seu lado.
Foi um pouco complicado para os nossos filhos aceitarem a minha decisão, mas eu não voltaria atrás de minha escolha.E na semana seguinte eu me mudei para a clínica. Você já não me reconhecia e nem aos nossos filhos. Foi difícil me adaptar a sua realidade nas primeiras semanas, mas aos poucos eu consegui me aproximar de você sem que você surtasse, era cansativo, mas no final do dia vália a pena saber que eu pude ao menos passar um tempo com você.
Com o apoio do doutor Marcos e os enfermeiros todos os dias eu me aproximava de você e conversávamos, eu lhe contava a nossa história, mas sem revelar que você era a minha amada.
Nossos filhos nos finais de semanas iam a clínica e quando você Linda não sofria um ataque você os recebia como meus filhos e netos e os elogiava. Era difícil não ficar emocionado com aquela cena, mas quando eu estava sozinho eu desabava, inconformado com a injustiça de Deus.
Narradora:
Durante a noite de 8 de agosto, João se esgueirou para o quarto de Ana, e nessa noite ela se lembra dele e de sua história de amor.
Eles se deitaram juntos na cama, conversaram a madrugada toda, relembrando a juventude dos dois.
-Eu te amo. – Ana o disse após um minuto de silêncio.
-Eu também te amo e te amarei, além de nosso último suspiro, pois , o que importa é ficar do seu lado. - João declarou entrelaçando seus dedos, e olhando um para o outro, ambos fecharam os olhos juntos, dando na mesma sincronia o último suspiro de vida.
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A minha outra parte, por João.
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