- 009

6 3 0
                                    

009.

Alicia acordou e começou a andar freneticamente pela casa.

- Não, não e não! Carla você me prometeu tomar jeito e engravida de quem? De quem?! De quem?! – gritou. – De quem é, Carla?!

- Não sei, mãe.

- Não sabe! Ah, meu Deus, o que eu fiz pra merecer isso, me diz, meu Pai?! Já chega! Estão todos deserdados!

- Deserdados de que se você nem grana tem, mãe? – perguntou Ângela.

- Esse que é o mal, nem deserdar pobre pode, né? Mal tem pro pão e leite, quanto mais pra bancar a madrasta má da Disney com as crianças! – ela choramingou. – Eu vou abrir o gás e fechar as portas com todos vocês aqui dentro.

- Não senhora, me recuso a aparecer naqueles programas que se a gente torcer sai sangue. – disse Marta, olhando para a TV. – E as minhas fotos nunca ficam boas.

- As minhas também não. – disse Ângela, se aproximando da mãe. – Ainda mais com essas cicatrizes.

- Ai, Angie, relaxa, você é cismada com essas cicatrizes! – exclamou Diego.

- Eu vi alguns comentários no teu canal, Diego. A maioria eram elogiosos, mas teve gente que falou da minha aparência e...

- E você liga de besta que é! – exclamou Carla. – O que interessa o que essa gente que você nem conhece falando se você é assim ou assado? E quem te chama de feia, pode reparar, é uma gentalha mais feia do que bater na mãe!

- Há um fundo de verdade nisso. – concordou Diego.

- Por falar em bater em mãe, você me esfaqueou, Carla. – queixou-se Alicia.

- Onde, mãe? – Diego se ergueu e olhou para a mãe. – Não to vendo o sangue daqui!

- É porque na mamãe o sangue sai verde, gatinho. – zombou Ângela.

Diego mostrou a língua para Ângela, que riu. Carla abraçou a mãe, que virou o rosto.

- Sei que a senhora está chateada, mas relaxa vai. Não é o fim do mundo, poxa. Ter filho é tão natural quanto respirar. É garantir a sobrevivência da espécie.

- Você é muito cara de pau mesmo, Carla. – Alicia se afastou e sentou no sofá, emburrada. – Eu não te boto pra fora de casa porque não tenho coragem. Mas estou chateada sim! Você deveria ficar casada pra sempre e nem o tempo de um aviso prévio durou!

- Desculpa, mãe. Não rolou. – Carla deu de ombros.

- Não rolou, não rolou... – resmungou Alicia.

- Isso significa que a senhora não vai se matar? – quis saber Ângela.

- Claro que não, garota, você já viu alguma morta cuidar de uma criança?! Porque é óbvio que a sua irmã cabeçuda não vai conseguir! Vai sobrar pra mim e pra sua avó!

- Só aceito se fizerem rodízio. – disse Marta. – Meus ossos estão cansados e tenho minhas novelas para assistir. A das seis está chegando num momento crucial.

- Bem, já que tudo se resolveu... – Diego puxou Ângela pela mão. – A gente vai gravar o vídeo pro canal para nos tornamos famosos nesse Brasilzão.

- Com muita grana, espero. – Ângela falou e subiu a escada junto com o irmão.

- E eu vou pro salão. – disse Carla, conformada. – Agora vou ter que trabalhar o dobro pra poder compensar as minhas coisas que aquele acéfalo do João destruiu e ainda fraldas pro neném, né? Ser mãe dá um trabalho, vou te contar.

Carla saiu da casa e Alicia, aborrecida com o cinismo de Carla, olhou para Marta, que riu, achando graça.

- Você já deveria estar acostumada, filha.

Doce com Batata FritaOnde histórias criam vida. Descubra agora